Jesus, o Profeta prometido por Deus (Dt 18,15), anuncia a Palavra em Nazaré e sofre a rejeição de seus conterrâneos. Ele fora ungido e consagrado pelo Espírito em seu batismo para a missão profética. O profeta Jeremias também foi consagrado como profeta, desde o seio materno. O profeta terá dificuldades e oposições. A acomodação dificilmente aceita mudanças. E se investe contra o proclamador da novidade do Reino. Ainda mais porque conhecem sua família e a Ele. Jesus foi recusado a ponto de quererem jogá-lo no precipício. Esse precipício, inexistente em Nazaré, significa eliminá-Lo. A proposta de Deus ao profeta Jeremias são as mesmas assumidas por Jesus. A dificuldade é verem naquele homem comum que eles conheciam, o Messias de Deus. Por isso repete o provérbio “médico, cura-te a ti mesmo”, que dizer: faça um milagre que tire este jeito humano de ser e mostre excelso Messias. Jesus insiste na adesão a Ele e a suas palavras pela fé. Diz ainda que o profeta que é rejeitado. O profeta prometido por Moisés em Deuteronômio 18, como Moisés, reclama os direitos de Deus. Esse é incômodo. Jesus cita o caso de Naaman que foi curado por Eliseu e a viúva de Sarepta que foi socorrida por Elias. Eram pagãos. E Jesus faz cura em Cafarnaum, cidade meio pagã. Com isso está mostrando a abertura do Reino a todos e o fechamento que há neles. A tentativa de aniquilá-lo é o desejo de livrar-se de sua incômoda profecia. Essa profecia está na leitura do domingo passado. Nela não há condenação dos pagãos pela vingança de Deus e libertação de todos os males dos sofredores. A acomodação na fé superficial é o que provoca a recusa dos profetas. Podemos usar até uma religião superficial para tapear a fé.
Verdadeira caridade
O anúncio da palavra pelo profeta tem como fundamento o amor de Deus derramado em seu coração. Esse anúncio é uma expressão do amor de Deus e tem que ser fundamentado nesse amor e feito no amor, como nos escreve Paulo em Coríntios 13. S. Agostinho descreve esse modo de compreender o amor: “O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução” (Trac. 17,7-9). A pregação é a máxima caridade porque continua amor de redenção de Jesus Cristo, pois Deus quer que todos se salvem (1Tm 2,4). A caridade deve penetrar a vida do profeta. Todos são chamados a serem profetas, anunciadores da presença do Reino de Deus no mundo pela pregação da vida. Se não são capazes de ouvir a palavra da vida, dificilmente se abrirão à palavra falada. Caridade não é sentimento, é vida.
O hoje de Deus
Nossas celebrações não são simplesmente a leitura de um texto, mas a proclamação do Hoje de Deus em nosso mundo. Jesus não veio para um grupinho de adeptos. A fé ensina que veio para todos. Por isso cada celebração privilegia a profecia como convite a realizar a transformação. A recusa mostra que não se quer vencer o que nos vence que é a raiz do pecado. Jesus, quando se proclama que “hoje se cumpriu essa passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21) causa admiração e recusa. Estão como a dizer: não se mexe na estrutura. Tudo funcionou muito bem até agora. É o que ocorre na recusa de renovar a Igreja. Não se mexe, pois está tudo bem. Jesus dirá aos discípulos: “se perseguiram a mim, perseguirão também a vós” (Jo 15,20).
Leituras: Jeremias 1,4-5.17-19; Salmo 70;
1Coríntios 12,311´13,13;Lucas 4,21-30
1. Jesus anuncia a Palavra em Nazaré e é recusado por seus conterrâneos. Sua vida se assemelha à de Jeremias. Recusam sua palavra porque Ele toca as estruturas, sobretudo a abertura da fé aos pagãos. A acomodação na fé superficial tapeia a fé.
2. O anúncio da Palavra tem fundamento no amor de Deus. O profeta é chamado a amar a Deus e amar com o amor de Deus. A pregação é a máxima caridade, pois continua o amor de redenção de Jesus. Se não se é aberto à Palavra testemunhada pela vida, dificilmente se ouvirá a palavra falada.
3. Nossas celebrações nãosão leitura de um texto, mas a proclamação do hoje de Deus no mundo. A profecia é convite à transformação. A recusa mostra que não se quer vencer a raiz do pecado.Se renovar a Igreja mexe com as estruturas, haverá recusa.
Nem Jesus escapou!
Em Nazaré Jesus inaugurou sua missão. Ficaram admirados com sua sabedoria. Mas... o ciúme não tardou e eles começaram a estranhar: Como pode esse homem que nós conhecemos, que é carpinteiro, que tem uma família que conhecemos? É gente daqui. Por que dá uma de sabido? Jesus comentou que o profeta não é bem recebido em sua pátria. Eles recusaram suas palavras e a Ele mesmo. Queriam joga-Lo no precipício, isto é, acabar de vez com Ele.
Mas é Deus quem envia os profetas e está com eles como forte e uma rocha protetora. Deus é sua força. E não pode ter medo, pois aí é que o medo pega. A missão do profeta não é só falar, mas demonstrar sua palavra através do amor muito real para comas pessoas.
É impossível anunciar o Reino de Deus, se não tivermos um profundo, real e consequente amor à pessoa humana. Esse amor não é só sentimento, mas concreto em nossos relacionamentos.
Homilia do 4º Domingo Comum (03.02.2013)
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