domingo, 28 de abril de 2024

LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT Sacerdote, Fundador, Santo (1673-1716)

Um dos missionários da devoção mariana 
mais conhecidos, incansável pregador 
da sagrada escravidão de 
amor a Maria Santíssima, 
apóstolo da Contra-Revolução
Segundo dos 18 filhos do advogado João Batista e de Joana Roberto de la Vizeule, Luís Grignion nasceu em 3 de janeiro de 1673, em Montfort-la-Cane (hoje Montfort-sur-Meu), na Bretanha. Por devoção a Nossa Senhora, no crisma acrescentou ao seu nome o de Maria. Luís herdou do pai um temperamento colérico e arrebatado, e dirá depois que "custava-lhe mais vencer sua veemência e a paixão da cólera que todas as demais juntas". Mas conseguiu-o tão bem, que um sacerdote seu companheiro, nos últimos anos de sua vida, atesta que: "Realizou esforços incríveis para vencer sua natural veemência; e o conseguiu, e adquiriu a encantadora virtude da doçura" [1], que atraía tanto as multidões. O pequeno Luís Grignion de Montfort sentia também muito pendor pela solidão, sendo comum retirar-se a um canto da casa para entregar-se à oração diante de uma imagem da Virgem, rezando principalmente o Rosário. Em 1684 os pais o enviaram a estudar humanidades como externo no Colégio Tomás Becket, dos jesuítas de Rennes. Ali passará ele oito anos, com muito bom aproveitamento. Todos os dias, antes de ir para o colégio, ele passava em alguma igreja para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento e a alguma imagem de Nossa Senhora. Muitas vezes, antes de voltar para casa, fazia o mesmo. Amor pelos pobres e vocação sacerdotal 
Cresceu nele um desejo inato de ajudar o próximo. Como diz um seu biógrafo, "seu bom coração, cheio de misericórdia e de compaixão para com o próximo, o levava a ocupar-se em amparar os escolares pobres que estudavam com ele no colégio. Não os podendo socorrer com seus próprios recursos, ia solicitar para eles esmolas junto às pessoas caridosas" [2]. Foi isso que o levou a frequentar um grupo de jovens reunidos por um sacerdote, o Padre Bellier, aos quais este fazia palestras sobre temas piedosos, e os enviava depois aos hospitais para consolar e instruir os pobres. Era junto destes que o adolescente Luís passava parte de seus dias de folga. Concluídos os estudos, decidiu tornar-se sacerdote, dirigindo-se então a Paris. Fez a longa viagem a pé, pedindo de esmola alojamento e comida. Uma benfeitora obteve para ele que entrasse no célebre seminário de Saint Sulpice. Depois de muitas vicissitudes, foi ordenado sacerdote em 1700. 
Intensa luta contra os jansenistas 
Durante cinco anos não contínuos, o Padre de Montfort ― como era conhecido ― trabalhou na diocese de Poitiers, seja como capelão do Hospital Geral, seja pregando missões nos arrabaldes da cidade, combatendo as blasfémias, canções obscenas e embriaguezes. No Hospital Geral veio-lhe a ideia de formar uma associação de donzelas, que "dedicou à Sabedoria do Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo e estabelecer entre elas a loucura do Evangelho" [3]. Seleccionou para isso 12 das jovens pobres mais fervorosas, elegendo como sua superiora uma cega. Mais tarde associou a esse grupo duas jovens da boa burguesia, a futura beata Maria Luísa Trichet e Catarina Brunet. "A sabedoria que preconiza Montfort se inspira, de um lado, na segunda carta de São Paulo aos Coríntios: a cruz, escândalo e loucura para tantos sábios, mas sabedoria de Deus, misteriosa e escondida" [4]. Entretanto os infeccionados pela heresia jansenista ― essa espécie de protestantismo disfarçado ―, junto com os livres pensadores, começaram uma campanha de calúnia contra esse missionário "extravagante", que pregava uma "devoção exagerada" à Mãe de Deus. Ele precisou dissolver sua associação da Sabedoria e retirar-se do Hospital, apesar dos protestos veementes dos pobres e dos enfermos. O Padre de Montfort aproveitou essa ocasião para fazer uma peregrinação a Roma. Na Cidade Eterna, pô-se à disposição do Sumo Pontífice para trabalhar pela salvação das almas em qualquer parte onde este o quisesse enviar. Clemente XI julgou que o missionário seria mais útil em sua própria pátria, ensinando a doutrina cristã às crianças e ao povo e fazendo reflorescer o espírito do cristianismo pela renovação das promessas do baptismo. O Papa nomeou-o Missionário Apostólico. Mas estava ele sob a dependência dos bispos, muitos dos quais de tendência jansenista. 
Missionário Apostólico em Nantes 
Voltando à França, passou a trabalhar com o Padre Leuduger, que tinha um grupo de missionários dedicados totalmente à evangelização do campo. Foi uma nova experiência para o Padre Montfort, pois constatou a importância do canto e das grandes procissões nos esforços missionários. Ele escreverá várias dezenas de cantos populares, cujas letras se adaptavam a melodias profanas, muito em voga então. Seis meses depois, vemo-lo em sua cidade natal, evangelizando a região, tendo associado a si dois leigos, um dos quais será o Irmão Maturin Rangeard, que continuará por 55 anos evangelizando como missionário leigo. Mas esta actividade foi também proibida a Luís Grignion pelo bispo de Saint Malo, por influência dos jansenistas. Em Nantes ele obteve o cargo de director das missões de toda a diocese, tendo ali trabalhado durante dois anos. Dessa época temos o seguinte depoimento de um seu contemporâneo: "O que mais se destacava nele era um dom e uma graça singular para ganhar os corações. Tendo-o ouvido, punha-se nele toda confiança. A confiança pronta e fácil que as pessoas tinham nele era tão grande, que conseguiu estabelecer em várias paróquias as orações da noite, o rosário e a sepultura nos cemitérios [contra o costume de se enterrar nas igrejas]; o que não se tinha podido conseguir, ele o conseguiu na primeira proposta que fez" [5].
A construção do Calvário de Pontchâteau 
Numa missão em Pontchâteau, o Padre de Montfort entusiasmou-se com a ideia de erigir um grande calvário em uma colina próxima, e seu entusiasmo contagiou o povo. Durante 15 meses, de 400 a 500 pessoas de todas as idades e condições sociais trabalharam diariamente para aplainar o terreno e montar o calvário. O Padre de Montfort estava exultante. Tinha já conseguido do bispo de Nantes a autorização para benzê-lo, e estava tudo preparado para o dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz. Mas, à véspera desse dia, chegou uma proibição formal do bispo de se proceder à cerimónia. O assunto levantou polémica e chegou até Versalhes, onde, mal informado, o rei Luís XIV ordenou que demolissem aquilo que lhe apresentavam como uma fortaleza facilmente conquistável pelo inimigo vindo do mar... Em seguida veio a proibição de pregar naquela diocese. Por sua devoção ao Rosário, o Padre de Montfort entrou para a Ordem Terceira de São Domingos, querendo pertencer a uma Ordem que honrava de maneira tão especial a Santíssima Virgem. Recusado e até expulso de várias dioceses ― uma vez lhe foi interditado até celebrar, tendo ele que partir imediatamente para chegar em tempo à diocese vizinha, a fim de rezar a Missa na festa da Assunção ―, soube o missionário que seria bem recebido nas dioceses de Luçon e de La Rochelle, cujos bispos eram meritoriamente anti-jansenistas. Essas duas dioceses compreendiam uma parte da região da Vandeia, que mais tarde, em 1793, levantar-se-ia contra a sangrenta e atéia Revolução Francesa. Foi na Vandeia que o Padre de Montfort trabalhou durante os últimos cinco anos de sua vida, implantando naquelas populações uma sólida formação católica. Esta foi, décadas mais tarde, um decisivo factor para a gloriosa e épica Guerra da Vandeia, contra os ímpios revolucionários de 1789. 
Carta Circular aos Amigos da Cruz 
Nessa região, após as missões, fundava ele associações sob o nome de Irmãos e Irmãs da Cruz, para quem escreveu sua belíssima Carta Circular aos Amigos da Cruz. Na cidade de La Rochelle, onde ainda pairavam os erros dos calvinistas, ele pregou sucessivamente para pobres, soldados, mulheres e homens. Operou várias conversões, principalmente pelo ministério da confissão, inclusive a de uma dama de qualidade que fez sua retractação pública, para edificação dos católicos e horror dos protestantes. Em 1714 ergueu os alicerces da futura congregação de missionários, a Companhia de Maria. O Padre Grignion de Montfort pregava uma missão em Saint Laurent-sur-Sèvre, quando foi acometido por uma pleurisia que o levou ao túmulo, no dia 28 de abril de 1716. 
São Luís Grignion e a Contra-Revolução 
São Luís Maria Grignion de Montfort pode ser considerado um apóstolo da Contra-Revolução. Seus livros e escritos inspiraram grandes vultos católicos no século XX, sobressaindo entre eles o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, grande devoto do admirável doutor mariano e especial difusor de sua doutrina. O livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem orientou e conduziu no caminho da perfeição muitas almas em todo o mundo. "A originalidade maior de Montfort consiste, provavelmente, em ter descoberto Maria como garantia de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se do apego imperceptível que se esconde em suas melhores acções. Desapego que consiste, provavelmente, na essência mesma da consagração em forma de escravidão" [6]. 
Plínio Maria Solimeo 
[1] Padre Louis Perouas, San Luis María Grignion de Montfort, Obras, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1984, Introdução, pp. 5 e 22. [2] Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d'après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo XV, p. 320. [3] Padre Louis Perouas, op. cit., p. 11. [4] Id. ib. p. 12. [5] Padre Coupperie des Jonchères, in Louis Perouas, op. cit., p. 16. [6] Louis Perouas, op. cit., p. 35. Obras também consultadas: Francesco Pappalardo, San Luigi Maria Grignion da Montfort (1673-1716), http://www.alleanzacattolica.org.; Austin Poulain, St. Louis-Marie Grignion de Montfort, The Catholic Encyclopedia, Volume IX, 1910, by Robert Appleton Company, Online Edition, Copyright © 2003 by Kevin Knight.
“Eu não acho que uma pessoa possa ter uma união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo, sem não tiver uma grandíssima união com a Santíssima Virgem”. Eis o fundamento da espiritualidade de Luís Maria Grignion de Montfort. “Toda a nossa perfeição - escreveu – consiste em ser conforme, unidos e consagrados a Jesus”; imitar Maria quer dizer seguir “a criatura mais conforme a Jesus”. Luís Maria Grignion, segundo de dezoito filhos, nasceu no dia 31 de janeiro de 1673, em Montfort-sur-Meu, em uma família da Bretanha, profundamente cristã. Ali, viveu apenas poucas semanas, após ter recebido o batismo um dia depois do seu nascimento. 
Predisposição à vida interior 
Apesar das dificuldades econômicas, aos 12 anos frequentou o colégio jesuíta de São Tomás Becket, em Rennes; a seguir, transferiu-se para Paris, onde entrou para o seminário de São Sulpício e estudou na Universidade Sorbonne. Com 27 anos, em 5 de julho de 1700, dia de Pentecostes, foi ordenado sacerdote. Algumas testemunhas narram que ele permaneceu o dia inteiro em adoração como “um anjo diante do altar”.
Defesa da verdade diante da heresia jansenista 
Luís Maria Grignion era um homem de oração e ação. A sua obra evangelizadora distinguiu-se logo pela defesa da fé católica contra o racionalismo, protestantismo, galicanismo e o difuso jansenismo. Um dos seus primeiros encargos foi o de capelão do hospital de Poitiers. Era muito amado pelos doentes e pobres, devido ao seu zelo missionário e dedicação incondicionada, o que causou inimizade entre alguns sacerdotes, pelo seu comportamento excêntrico. Por isso, teve que deixar o cargo. 
Peregrinação a pé e missão popular 
Após dois meses de peregrinação a pé, em 1706, chegou a Roma; ali recebeu o título de “Missionário Apostólico” do Papa Clemente XI, do qual recebeu também de presente um crucifixo de marfim, - que sempre o levou consigo – com o convite de se dedicar à evangelização da França. Antes de voltar à sua pátria, Luís Maria Grignion, que gostava de se definir “servo de Maria”, visitou a Santa Casa de Loreto; ele era muito atraído pela vida de submissão de Jesus à Virgem na casa de Nazaré. Ele continuou a ser impedido na diocese de Poitiers. Por isso, dedicou-se à missão popular, entre os habitantes da zona rural da nativa Bretanha e da Vandea, e à edificação da Igreja, não apenas espiritual, mas também física, reconstruindo até algumas capelas. 
“A verdadeira devoção mariana é cristocêntrica” 
Seguir Maria para “encontrar Jesus Cristo”: esta convicção de Luís Maria transformou-se em uma pastoral, cuja centralidade era o culto à Virgem Maria, a propagação da oração do Terço e a organização de procissões e celebrações marianas. 
A cruz “fonte de sabedoria” 
Luís Maria Grignion nunca fugiu da cruz; pelo contrário, não obstante a sua grande estima entre os fiéis, sofreu pela perseguição, dentro e fora da Igreja. O Bispo de Nantes, por exemplo, negou-se abençoar o Calvário que o sacerdote havia construído, com a contribuição de muitas pessoas, ao término da sua missão em Pontchâteau. A sua obra foi destruída e reconstruída, várias vezes: primeiro, sob o reinado de Luís XIV e, depois, durante a Revolução Francesa. Mas, o missionário nunca desanimou e comentava: “Se não pudermos edificar a cruz aqui, a edificaremos em nosso coração”.
“Totus tuus” 
Nos últimos anos de vida, o santo fez pregações nas dioceses de Luçon e La Rochelle, a pedido dos respectivos bispos, abertamente contrários aos jansenistas. No dia 28 de abril de 1716, enquanto participava de uma missão, São Luís Maria Grignion de Montfort faleceu de pneumonia, com a idade de 44 anos. Todo o povo se reuniu diante do seu leito de morte para receber a sua bênção. Luís Maria Grignion foi beatificado, em 1888, pelo Papa Leão XIII e canonizado, em 1947, por Pio XII. O próprio Papa João Paulo II, que o inscreveu no Calendário geral da Igreja, em 1996, adotou para o seu Pontificado o moto “totus tuus”, extraído da sua espiritualidade. São Luís Maria Grignion de Montfort, fundador das Filhas da Sabedoria (1703) e da Companhia de Maria (1705), é recordado pelos seus escritos marianos, como o Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, redigido em 1712. Esta obra permaneceu escondida em um cofre por 150 anos; ao ser reencontrada, em 1842, foi publicada no ano seguinte. Hoje, é traduzida em numerosas línguas, por ser o ponto de referência da espiritualidade mariana mundial.

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