Os dois primeiros domingos da Quaresma são para nós uma síntese do Mistério Pascal de Cristo. No primeiro fomos colocados diante da tentação, força do mal que Cristo também enfrentou. Ele venceu pela Palavra, pela humildade e por sua fiel adoração ao Pai. O mal e a morte não são invencíveis (1Cor 24-26). Jesus o fez na Ressurreição e será completo quando entregar o Reino ao Pai (24). Jesus se transfigura, com suas vestes brancas e brilhantes, símbolos de sua Ressurreição. A gloriosa transfiguração é uma demonstração de que a vitória já está Nele. Temos dois grupos de pessoas: o grupo de Moisés e Elias, simbolizando a lei e os profetas que falaram Dele. Os discípulos puseram Jesus entre eles. Vemos que o Antigo Testamento não é uma oposição a Jesus, mas uma preparação. A atitude de Pedro querendo colocar Jesus no Antigo Testamento e achar que tudo estava bom, era a tentação dos primeiros cristãos que não conseguiam romper com o passado. A aliança de Deus com Abraão, dando-lhe a descendência por ter obedecido, é a bênção para todas as nações da terra (Gn 22,18). Esta bênção é Jesus, o Filho amado do Pai sacrificado. Por ter obedecido, recebe a vida na Ressurreição, como Isaac é poupado e substituído pelo cordeiro. Jesus é o Cordeiro que nos substitui e nos une a Si em sua Ressurreição e Glorificação. Quando Pedro ainda falava, o Pai (simbolizado pela nuvem) se faz presente e proclama o Filho como Aquele que, de agora em diante é a lei e a profecia: “Este é meu Filho amado. Escutai o que Ele diz” (Mc 9,7). Não temos o problema dos primeiros cristãos, mas temos um problema que percorre os séculos: não ouvimos o Filho amado do Pai.
Desceram à planície
Ouvir o Filho e obedecer sua palavra é participar de sua transfiguração do Filho e da bênção a todos os povos. A transfiguração de Jesus explica-nos como será nossa transfiguração por participarmos de seus sofrimentos e de sua morte. Vencer a tentação unido ao Cristo que foi tentado é ser transfigurado por sua Ressurreição. Viver a obediência de Abraão e de seu herdeiro, Jesus, é tornar-se também uma bênção. Continuamos na visão da glória, mesmo quando contemplamos o Cristo crucificado. Rezamos na oração da Eucaristia: “Alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória”. Lavados dos pecados nos santificamos para celebrar os sacramentos pascais. Depois da maravilhosa transfiguração os apóstolos e Jesus desceram para a planície, para alimentar a vida do povo. Continuamos carregando fragilidades, mas na certeza da manifestação da glória. Ser transfigurado é transformar-se em ação de transformação do mundo das pessoas.
Participar das coisas do Céu
A vida cristã não é só mirar um futuro distante, mas caminhar orientando a própria vida pela palavra que ouvimos do Filho. Por isso rezamos no salmo: “Andarei na presença do Senhor na terra dos vivos” (Sl 115). Temos a certeza que Deus está ao nosso lado: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com Ele?” (Rm 8,31-34). A Transfiguração está a nos estimular a “ainda na terra, participar das coisas do Céu” (Pós-Comunhão). As celebrações da Quaresma são preparação para a Páscoa, não algo que vai acontecer, mas a participação dos mistérios de Cristo nas celebrações.
Leituras: Gênesis 22,1-2.9-13.15-18;
Salmo 115;
Romanos 8,31b-34;Marcos 9,2-10
1. O início da Quaresma é uma síntese do Mistério Pascal de Cristo. Jesus venceu a tentação. Jesus venceu o mal pela sua Ressurreição. A Transfiguração é demonstração da vitória. Não mais Moisés nem Elias, mas é Jesus quem fala. Abraão obedeceu e recebeu seu filho. Por isso vai ter uma descendência que será uma bênção. Esta é Jesus que obedeceu e foi atendido na Ressurreição. O Pai proclama o Filho que comunica a Palavra.
2. Ouvir o Filho e obedecer a sua palavra é participar de sua transfiguração. Assim será a nossa transfiguração. Viver a obediência de Abraão e de Jesus é tornar-se uma bênção. Somos santificados para celebrar os sacramentos pascais. Carregamos as fraquezas, mas seremos transfigurados na manifestação da Glória. Se transfigurado é transformar-se em ação de transformação do mundo.
3. A vida cristã não é só mirar o futuro, mas caminhar orientando a vida pela palavra que ouvimos do Filho. Deus está do nosso lado e tudo tem por nós. A transfiguração está a nos estimular a “ainda na terra, participar das coisas do Céu”. A celebração da Quaresma é preparação para a Páscoa, não como algo que vai acontecer, mas participação dos mistérios de Cristo.
Tirando molde
Na Quaresma deste ano refletiremos sobre as alianças de Deus com seu povo na História da Salvação. O fio da história é a atitude de Deus em estar em aliança com seu povo. Mesmo quando o povo peca, Deus é fiel. Esta aliança culmina na aliança que Jesus sela com seu sangue.
Refletimos hoje a Transfiguração de Jesus. Vimos no primeiro domingo que o pecado nos cerca. À medida que o vencemos somos transfigurados assumindo sempre mais a imagem gloriosa que Cristo nos conquistou em sua Ressurreição.
Ser transfigurado é ouvir o Filho, como nos ensina o evangelho de hoje. Abraão obedeceu à Palavra de Deus e entregou seu Filho. Em sua obediência todos os povos recebem a bênção emparticipar da aliança de Deus com o Patriarca Abraão. O compromisso de cada um é obedecer ao projeto de Deus manifestado em Cristo. Deste modo vamos tirando o molde em Cristo. À medida que nos transfiguramos, transformarmos o mundo.
Homilia do 2º Domingo da Quaresma (01.03.2015)