Por mais complicada que seja a situação da cidade, ela é sempre apresentada como a meta que todos procuram como lemos no Apocalipse (21,2-4). A nova Jerusalém, a cidade santa, é a meta para onde peregrina toda a humanidade. O Papa diz: “É interessante o fato de a revelação nos dizer que a plenitude da humanidade e da história se realiza numa cidade” (EG 71). Escrituras mostram que a cidade de Jerusalém, com seu templo, alimentava o coração do povo. Ele nos convida “a identificar a cidade a partir de um olhar de fé que descubra Deus que habita em suas casas, nas suas ruas, nas suas praças”. Viver em uma cidade, colocar a vida ao lado dos outros, supõe o desejo e a certeza de que juntos podemos construir. Normalmente relatamos problemas e dificuldades. O documento Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho 71-75) revela uma face bonita da cidade. Deus age através das pessoas e “acompanha a busca sincera dos indivíduos e dos grupos que aí procuram encontrar apoio e sentido para sua vida” (71). Compreendemos que Deus não é um ser misterioso nem uma estátua que nada tem a ver com a vida das pessoas. O bem que possa existir provém de sua bondade que é a única a dar sentido. “Ele vive entre os cidadãos promovendo a solidariedade e a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça... Deus se mostra a todos quantos o buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando de maneira imprecisa e incerta” (71). Deus não segue um manual para vir ao encontro das pessoas. Muito menos se prende aos nossos critérios nem as pessoas podem fazer Dele um ratinho de laboratório a ser observado. Há os que se põem a dar normas a Deus.
Perdidos na rua
A cidade de Jerusalém teve a presença física de Jesus e o início de um novo modo de vida. Mas ela recusou sua presença. Jesus chorou sobre a cidade que fracassou em sua missão de luz dos povos. Ali Ele disse: "Se você compreendesse neste dia o que traz a paz! Mas agora isso está oculto aos seus olhos (Lc 19,42). Mesmo tendo Deus como seu princípio, a sociedade contempla muitos de seus filhos perdidos pelas ruas nas muitas formas de males, como drogas, abuso, abandono de crianças e idosos, violência, migração e tantos males. Há isolamento. É nesta cidade que se deve fazer a evangelização através do serviço e da procura de modos sempre novos que não neguem a verdade, mas a sigam sem maquiá-la ou negá-la através de ideologias ou de pietismos. Política faz parte da vida da comunidade e da fé. Fugir a vida do povo é negar seu Criador que ali está.
Nova casa para Deus
A sociedade atual não tem mais o cristão como um promotor de sentido. Não o é porque não cumpriu sua missão de fermento na massa. Os símbolos são outros, tantas vezes em contraste com o Evangelho (EG 73). Por isso a cidade se transformou num campo propício para uma nova evangelização. Assim novo deve ser o modo de anunciar, sobretudo criando no mundo uma casa para Deus, não edifício, mas uma cidade nova, com características de comunhão. Não é bom voltar ao passado pelo passado, mas buscar sua energia evangelizadora. Novas são as formas e novos modos de se relacionar com Deus na sociedade multicultural, buscando os que sustentam a cidade que são os humilhados. Os males que atingem a sociedade como a droga, os abusos contra menores e idosos, criam espaço para a solidariedade. Jesus que fazia milagres. O milagre agora é a procura de em promover vida e dignidade (EG 75). O cristianismo não é uma seita, mas uma proposta de vida para que todos tenham vida, criando uma cidade onde Deus tenha sua casa.
ARTIGO PUBLICADO EM FEVEREIRO DE 2015
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