Jesus, como bom israelita, começa aos 12 anos, idade da maturidade para o povo judeu, a cumprir seu dever de prestar culto a Deus em Jerusalém. Jesus assume seu lugar de culto ao Pai no povo de Deus. Tomando consciência da presença do Invisível no templo visível, desenvolve em si o conhecimento de sua Pessoa como um templo maior: “Aqui está algo maior que o templo” (Mt 12,6). Lemos que Jesus não volta com a comitiva de peregrinos com seus amigos adolescentes como Ele. José e Maria O procuram. Encontram-no no templo três dias depois. Ele está sentado entre os doutores como discípulo e ao mesmo tempo como mestre, pois eles O ouviam e O interrogavam (Lc 2,46). Todos ficavam admirados de sua compreensão da lei. Sua doutrina não era Dele, mas Daquele que o enviara, por isso tinha conhecimento da Lei (Lc 2,47). Maria pergunta “por que agiste assim conosco?”, pois não era seu costume. A resposta de Jesus é uma resposta que é dada à comunidade que tinha dificuldade em aceitar sua divindade. Podemos entender este texto como um discernimento claro sobre a pessoa de Jesus que é Homem e Deus. Jesus não é só de uma família humana, mas também não é só da família divina. No final do texto notamos o aspecto de família humana de Jesus. Como Filho obediente do Pai, obedece também à família humana: “E lhes era obediente”. As palavras finais do Evangelho da Infância de Jesus nos contam como serão os outros 20 anos de silencio sobre Sua pessoa e atividade: “Jesus crescia em sabedoria estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens” (52). Este texto nos conduz a compreender quem era Jesus. Ele cresceu em todas as dimensões como homem unido ao Pai e na graça de seu relacionamento com Ele.
Um jeito humano de ser divino
A festa da Sagrada Família não é uma lembrança de uma família. A Família de Nazaré é uma síntese do projeto de Deus. Na família humana se concentra tudo o que Jesus pregou no evangelho. Ela é um retrato do Céu e é o melhor modo de conhecer como é Deus. E uma revelação da Palavra anunciada. É a continuação da presença de Jesus que foi família. É a primeira célula da Igreja. Se as famílias têm problemas é porque participam dos sofrimentos do Cristo. A felicidade não vem porque tudo está bem. Isso é felicidade pagã. Mas é feliz quando continua o lava-pés que Jesus realizou na humildade e até o sofrido serviço. O Menino Jesus no Templo transformou-se numa proclamação de seu Ser divino e humano. O amor na Família de Nazaré é exemplo máximo da sexualidade porque se ama em Jesus, mesmo sem os santos prazeres que a carne oferece.
Os que temem o Senhor
Há um modo de ser do cristão que Deus não dispensa. A carta aos Colossenses nos explica como a família cristã deve viver em seus relacionamentos. A síntese é o amor em suas muitas facetas. O livro do Eclesiástico nos traz um aspecto que passa esquecido: a oração está intimamente ligada ao modo como tratamos nossos pais, sobretudo na idade avançada. A honra aos pais, o respeito à mãe e o prêmio a quem cuida bem dos idosos estão intimamente ligados ao sermos ouvidos em nossa oração e ao perdão dos pecados. O 4º mandamento é o único que tem uma promessa: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias na terra” (Ex 20,12). Jesus nos dá um belo exemplo de amor aos pais. Mesmo tendo sua Família Divina põe em realce sua família humana. É um exemplo.
Leituras:Eclesiástico 3,3-7.14-17ª;Sl 127;
Colossenses 2,12-21; Luca 2,41-52
1. A perda e o encontro de Jesus no templo não é só um fato, mas é também um ensinamento sobre sua condição de Homem Deus. Aos 12 anos Ele é adulto em seu povo. Deve ir a Jerusalém para as festas prescritas. Ele deve cuidar das coisas do Pai, mas é também obediente a seus pais. Ele cresceu em todas as dimensões.
2. A Família de Nazaré é uma síntese do projeto de Deus. Na família se concentra tudo o que Jesus ensinou no evangelho. Em Nazaré há a proclamação do seu ser divino e humano.
3. Paulo nos apresente as diversas facetas do amor familiar. O Eclesiástico ensina que o cuidado com os pais idosos e os anciãos como garantia para a orações serem ouvidas e os pecados perdoados. Jesus cresceu em todas as dimensões.
Nem Deus escapa!
Quem entende essa história de Jesus ser esquecido em Jerusalém? O Menino se perdeu. Mas já tinha 12 anos. O sofrimento dos pais é imenso. É uma lição que Jesus nos quer dar: Ele tem também outra família da qual fazemos parte. É Filho de Deus e deve estar ali na casa do Pai.
Não é só uma questão de Jesus, Maria e José. A comunidade do tempo de Lucas precisava não ficar só pensando na família terrena, mas saber que Jesus pertence também ao Pai. Para Ele, era um prazer estar na casa do Pai.
Mas não perdeu os laços familiares, pois volta para Nazaré e lhes é submisso. E cresce em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. É a maravilha do Verbo Eterno de Deus feito Homem: cresceu como cada um de nós.
Homilia da Festa da Sagrada Família (30.12.2012)
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