segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Pão-por-Deus (Dia de Todos os Santos em Portugal-Substituindo o Halloween)

Em Portugal, no dia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o Pão-por-Deus de porta em porta. As crianças, quando pedem o Pão-por-Deus, recitam versos e recebem como ofertas: pães, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano. É também costume, em algumas regiões, os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em alguns povoados, este dia é conhecido como “Dia dos Bolinhos”. Esta tradição teve origem em Lisboa, em 1756 (um ano depois do terremoto que destruiu essa cidade). Em 1º de Novembro de 1755 ocorreu o citado terremoto, no qual morreram milhares de pessoas e a população da cidade, que era na sua maioria pobre, ficou ainda mais pobre. Como a data do terremoto coincidiu com uma celebração religiosa (1º de Novembro), de forma espontânea, no dia em que se cumpria o primeiro aniversário do terremoto, a população aproveitou a solenidade para desencadear, por toda a cidade, uma mobilização a fim de minorar a situação de penúria em que ficaram. As pessoas percorriam a cidade, batiam às portas e pediam que lhes fosse dada qualquer esmola, mesmo que fosse pão, dado grassar a fome pela cidade. E as pessoas pediam: "Pão, por Deus". Esta tradição perpetuou-se no tempo, sendo sempre comemorada neste dia e tendo-se propagado gradualmente a todo o país. Até meados do Século XX, o "Pão-por-Deus" era uma comemoração que minorava as necessidades básicas das pessoas mais pobres (principalmente na região de Lisboa). Noutras zonas do país, foram surgindo variações na forma e no nome da comemoração. A designação indicada acima (Dia dos Bolinhos) em Lisboa nunca foi utilizada, nem era sequer conhecido este nome. Nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, a data passou a ser comemorada, mais de forma lúdica, do que pelas razões que criaram a tradição e havia regras básicas, que eram escrupulosamente cumpridas: · Só podiam andar a pedir o "Pão-por-Deus", crianças até aos 10 anos de idade (com idades superiores as pessoas recusavam-se a dar). · As crianças só podiam andar na rua a pedir o "Pão-por-Deus" até o meio-dia (depois do meio-dia, se alguma criança batesse a uma porta, levava um "raspanete" do adulto que abrisse a porta). A partir dos anos 80 a tradição foi gradualmente desaparecendo e, atualmente, raras são as pessoas que dela se lembram. No entanto, datas que não têm nada a ver com as tradições portuguesas, mas que comercialmente são mais "atraentes" para o comércio, são adotadas rapidamente (caso do Dia das Bruxas, do Dia dos Namorados e afins). Até os meios de comunicação social contribuem para o empobrecimento da memória coletiva. Neste dia, todas as estações de TV, Rádio e jornais falam no Halloween, ignorando completamente o "Pão-por-Deus".

Um comentário:

  1. As culturas "hegemonicas" sempre tentarão influenciar os costumes locais. Cabe a nós resistir, cá como lá (na Terrinha). Aqui pularemos com o Saci-Pererê, com a Cuca e Mula-sem-cabeça.

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