PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Corpo e
alma, inimigos?
O livro da Sabedoria, coloca-nos diante de um
problema complicado da relação do corpo e a alma e um certo desencanto com a
pessoa humana. Certamente podemos entender esta visão, pois o livro da
Sabedoria tem um quanto de filosofia grega, já que o autor, sábio judeu, morava
em Alexandria no século II antes de Cristo. Por isso apresenta esta visão de
corpo e alma e o corpo como sendo “corruptível torna pesa a alma e, tenda de
argila que oprime a mente que pensa” (Sab 9,15). Este não é o pensamento comum
dos judeus que colocam uma grande harmonia entre a dimensão espiritual, a
psicológica e a carnal, como sua manifestação. Esta mentalidade do autor sobre
o homem que “não pode conhecer os desígnios de Deus e que tem informações
incertas” (Sab 9,13), vem nos esclarecer não um litígio entre corpo e alma, mas
a tendência que temos de nos apegar, como nos diz o evangelho, ao que é
passageiro. Aí sim, o corpo pesa sobre a alma. O autor traz a solução com uma
pergunta: “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio sem que lhe desses
Sabedoria e do alto lhe enviasses teu Santo Espírito? Só assim os homens
aprenderam o que te agrade e pela Sabedoria foram salvos” (Sab 9,17-18).
Estratégia
de salvação.
Diante do quadro meio negativo, surge a
palavra “dura” de Jesus: “se alguém vem a mim e não se desapega de seu pai e
mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria
vida não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz, e não caminha atrás
de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26-27). Jesus propõe a estratégia da
salvação: renunciar a tudo para ter tudo. Não quer dizer que ter pais, mulher
maridos, filhos e irmão e mesmo viver bem, seja mau, mas que seguir Jesus supõe
que o “apego” seja a Ele, e nEle a todos os outros bens. Por isso coloca o
exemplo de quem vai construir uma torre e não olha se tem condições
financeiras, ou vai fazer uma guerra e não vê se tem soldado suficiente. Se
quiser seguir Jesus, necessariamente tem que fazer o cálculo se vai de fato
levar avante a escolha que faz, se vai querer assumir e se vai dar conta. Do
contrário não encontra a vida que se propõe encontrar nEle.
Entendendo
o ser humano.
A liturgia deste domingo leva-nos a conhecer
melhor a pessoa humana e seus projetos fundamentais dentro da opção por Cristo.
Fé que não penetre a vida e não a oriente, não chega jamais a ser fé, é apenas
o conhecimento de um punhado de verdades. Podemos compreender Paulo que orienta
sua vida pela fé. Ele batizara um escravo fugido de um amigo seu, Filemon.
Poderia ficar com ele, pois lhe servia, mas manda-o de volta ao amigo, não mais
para ser escravo, e sim um irmão querido. A fé chega a modificar a estrutura
social, de escravo passa a ser irmão no Senhor. O mesmo poderá acontecer com a
visão negativa sobre o ser humano e sobre a relação corpo-alma. Do mesmo modo
podemos dizer que o desapego conduzirá a ter uma visão mais plena do corpo animado
por um espírito e uma compreensão mais profunda do valor da pessoa no projeto
de Deus.
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