sexta-feira, 20 de junho de 2014

REFLETINDO A PALAVRA - “A renúncia para ganhar”.

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Corpo e alma, inimigos?
          O livro da Sabedoria, coloca-nos diante de um problema complicado da relação do corpo e a alma e um certo desencanto com a pessoa humana. Certamente podemos entender esta visão, pois o livro da Sabedoria tem um quanto de filosofia grega, já que o autor, sábio judeu, morava em Alexandria no século II antes de Cristo. Por isso apresenta esta visão de corpo e alma e o corpo como sendo “corruptível torna pesa a alma e, tenda de argila que oprime a mente que pensa” (Sab 9,15). Este não é o pensamento comum dos judeus que colocam uma grande harmonia entre a dimensão espiritual, a psicológica e a carnal, como sua manifestação. Esta mentalidade do autor sobre o homem que “não pode conhecer os desígnios de Deus e que tem informações incertas” (Sab 9,13), vem nos esclarecer não um litígio entre corpo e alma, mas a tendência que temos de nos apegar, como nos diz o evangelho, ao que é passageiro. Aí sim, o corpo pesa sobre a alma. O autor traz a solução com uma pergunta: “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu Santo Espírito? Só assim os homens aprenderam o que te agrade e pela Sabedoria foram salvos” (Sab 9,17-18).
Estratégia de salvação.
          Diante do quadro meio negativo, surge a palavra “dura” de Jesus: “se alguém vem a mim e não se desapega de seu pai e mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz, e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26-27). Jesus propõe a estratégia da salvação: renunciar a tudo para ter tudo. Não quer dizer que ter pais, mulher maridos, filhos e irmão e mesmo viver bem, seja mau, mas que seguir Jesus supõe que o “apego” seja a Ele, e nEle a todos os outros bens. Por isso coloca o exemplo de quem vai construir uma torre e não olha se tem condições financeiras, ou vai fazer uma guerra e não vê se tem soldado suficiente. Se quiser seguir Jesus, necessariamente tem que fazer o cálculo se vai de fato levar avante a escolha que faz, se vai querer assumir e se vai dar conta. Do contrário não encontra a vida que se propõe encontrar nEle.
Entendendo o ser humano.

          A liturgia deste domingo leva-nos a conhecer melhor a pessoa humana e seus projetos fundamentais dentro da opção por Cristo. Fé que não penetre a vida e não a oriente, não chega jamais a ser fé, é apenas o conhecimento de um punhado de verdades. Podemos compreender Paulo que orienta sua vida pela fé. Ele batizara um escravo fugido de um amigo seu, Filemon. Poderia ficar com ele, pois lhe servia, mas manda-o de volta ao amigo, não mais para ser escravo, e sim um irmão querido. A fé chega a modificar a estrutura social, de escravo passa a ser irmão no Senhor. O mesmo poderá acontecer com a visão negativa sobre o ser humano e sobre a relação corpo-alma. Do mesmo modo podemos dizer que o desapego conduzirá a ter uma visão mais plena do corpo animado por um espírito e uma compreensão mais profunda do valor da pessoa no projeto de Deus. 

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