segunda-feira, 23 de junho de 2014

REFLETINDO A PALAVRA - “Encontrei misericórdia”.

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Um bezerro de ouro.
          A cena do bezerro de ouro do Antigo Testamento tornou-se uma figura comum quando se quer mostrar a situação de pecado. O pecado que fizeram os judeus não foi fazer do bezerro um deus. O touro é imagem da força de Deus. Mas circunscrever Deus em uma estátua, um ídolo. Isso é a idolatria. Então, tendo um deus que eu fiz, tenho um deus de acordo com meu gosto. É o mesmo pecado de Adão e Eva (que continua vivo no mundo): “sereis iguais a Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gn 3,5). O pecado é querer ser dono de Deus e fazer do bem um mal e do mal um bem. É querer usar a liberdade que lhe foi dada como presente contra o próprio doador. Liberdade é para fazer o bem e não para deixar-se prender por males que nos destroem e destroem o mundo. O homem tornou-se uma “ovelha perdida”, como Paulo que exclama: "Eu blasfemava, perseguia e insultava. Cristo veio salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro ” (1ª Tm 1,13).  Cada um tem seu bezerro de ouro e, mesmo uma boiada dourada. Mas o pecado não é um beco sem saída, uma estrada que acaba e não tem retorno. Deus está sempre aberto à misericórdia. Não há bezerro de ouro que não possa ser destruído e não possa dar lugar ao Senhor de nossas vidas, Aquele que nos tirou de um “Egito” de maldades.
Veio para salvar o que estava perdido.
          A parábola da ovelha perdida, que o pastor busca e se alegra quando encontra, é o retrato de Deus que busca os que se perderam (Lc 15,4-7). Paulo escreve: “Superabundou a graça de Nosso Senhor” ( 1ª Tm 1,14). A graça não é alguma “coisa que se derrama. Ela é a expressão do amor de Deus que se abaixa para abraçar, acolher e amar, pois é o que Deus é: Deus é bondade e misericórdia” (Sl 23,6). São seus atributos fundamentais e sua identidade. O gesto de procurar a ovelha perdida demonstra que a missão de Jesus, contrária às atitudes dos fariseus que criticavam Jesus por acolher os pecadores, revela a misericórdia de Deus em nossa história. Deus é paciente e cheio de misericórdia. Deus veio para salvar e Paulo se considera como o maior beneficiado: “eu encontrei misericórdia” (16). Se o pecado não é o fim, o pecador está sempre sob os cuidados da misericórdia de Deus. Não significa que vamos aproveitar e construir bezerros de ouro que nos levem a recusar a misericórdia.
Ser misericórdia.
            A atitude de Jesus torna-se um modelo e um projeto de vida para cada um, para a Igreja e para a sociedade: buscar o mais abandonado. Moisés intercede pelo povo e pede a paciência de Deus (Ex 32,11-14). Vamos vencer a tentação de fazer um bezerro de ouro, não acrescentando males sobre males, no momento em que voltarmos nossos olhos e atitudes de vida para as ovelhas perdidas da sociedade. Vemos os governos deixar o povo de lado. A Igreja tem um discurso sobre os pobres (menos agora), mas os pobres não entram nos planos de tantas Igrejas. Mais ainda, o pecador, o errado não é procurado, mas espantado. A mania de condenação e exclusão torna-se cada vez mais freqüente em lugar de oferecer a misericórdia, salvar e promover à vida. Sim às ovelhas e não aos bezerros!

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