Evangelho segundo S. João 6,51-59.
Naquele
tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se
alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a minha
carne, pela vida do mundo.» Então, os judeus, exaltados, puseram-se a
discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?!» Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a
carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu
hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira
comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha
carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. Assim como o Pai
que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por
mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados
comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.» Isto foi o que Ele disse em Cafarnaúm, ao ensinar na sinagoga.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Homilia, celebração eucarística da 20ª Jornada Mundial da Juventude,
21/08/05
«A Minha carne é uma verdadeira comida e o Meu sangue uma verdadeira
bebida»
«Isto é o meu Corpo dado em sacrifício por
vós. Isto é o cálice da Nova Aliança no meu Sangue». [...] O que se passa aqui?
Como pode Jesus dar o seu Corpo e o seu Sangue? Ao fazer do pão o seu Corpo e do
vinho o seu Sangue, Ele antecipa a sua morte, aceita-a no seu íntimo e
transforma-a num gesto de amor. Aquilo que, visto do exterior, é violência
brutal [a crucifixão], torna-se, visto do interior, um gesto de amor que se doa
totalmente. Foi esta a transformação substancial que se realizou no cenáculo e
que estava destinada a suscitar um processo de transformações cuja finalidade
última é a transformação do mundo, até chegar à condição em que Deus será tudo
em todos (cf 1Cor 15,28).
Desde sempre que todos os homens, de
alguma forma, aguardam no seu coração uma mudança, uma transformação do mundo.
Pois este é o único acto central de transformação capaz de renovar
verdadeiramente o mundo: a violência transforma-se em amor e, por conseguinte, a
morte em vida. E, porque este acto transforma a morte em vida, a morte, como
tal, já está superada a partir do seu interior, nela já está presente a
ressurreição. A morte está, por assim dizer, ferida intimamente, de modo que
jamais poderá ser ela a ter a última palavra. [...]
Esta primeira e
fundamental transformação da violência em amor, da morte em vida, arrasta depois
consigo as outras transformações. O pão e o vinho tornam-se o seu Corpo e o seu
Sangue. Mas a transformação não deve deter-se neste ponto, antes, é aqui que
deve começar plenamente. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados para que nós
mesmos, por nossa vez, sejamos transformados. Nós próprios devemos tornar-nos
Corpo de Cristo, seus consanguíneos. Todos comemos o único Pão, mas isto
significa que entre nós nos tornamos uma só coisa. A adoração, dissemos,
torna-se assim união. Deus já não está só diante de nós como o Totalmente Outro.
Está dentro de nós, e nós estamos nele. A sua dinâmica penetra-nos e, a partir
de nós, deseja propagar-se aos outros e difundir-se em todo o mundo, para que o
seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo.
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