sexta-feira, 27 de junho de 2014

REFLETINDO A PALAVRA - “A paz que incomoda”.

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Viver despreocupadamente
          Nunca a humanidade clamou tanto por paz. É triste a gente ver a história da humanidade ser contada a partir das vitórias das guerras. Não haverá outro ponto de partida? Continuando a leitura do profeta Amós conhecemos novas críticas que faz a sua sociedade. Podemos repetir as mesmas palavras, como já vimos. Quando criticamos a sociedade que tem posses, não estamos criticando o fato de ter, pois as posses podem ser fruto de um trabalho de quem, não tendo nada soube lutar para conquistar ou de quem, recebendo-as da família soube conservá-las ou fazê-las frutificar. O que dói é ver acumularem-se bens a custa a desgraça alheia pelos maus salários, pressões, injustiças e roubos. Então a voz do profeta se faz necessária, como fez Amós. Lembramos o que se dizia no império romano: ‘um mundo está em paz! A paz romana!’. A custa do que? Do massacre de tantos povos. Quanto sangue e dor em povos que ainda se construíam. O que trouxe? Prosperidade e no fim desfibramento da raça e o fracasso diante dos mesmos povos que chamavam de bárbaros. É o que vemos em tantas nações atualmente. Até Igrejas destes países engoliram o mesmo veneno. O profeta Amós relata bem esta mentalidade: “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião e dos que se sentem seguros sobre as alturas de Samaria” (Am 6,1). O profeta continua elencando privilégios dos que vivem tão bem e conclui: “e não se preocupam com a ruína do povo” (Am 6,6). O problema não é ter. A questão é não se preocupar com os outros. Os bens são um dom para ajudar a humanidade crescer. É o que vemos na parábola do pobre Lázaro.
Uma vida, uma chance
          A vida é bela. Pena que não gostemos desta beleza! É bela quando a fazemos bela para todos. A parábola de Jesus mostra-nos um homem banqueteando-se e o Lázaro que procura migalhas a sua porta. Depois a situação muda. Aquele que se banqueteava, dos infernos, levanta os olhos e vê Lázaro nos Céus, ao lado de Abraão. Pede socorro: “Que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque sua garganta”. Não é mais possível. “Então que vá prevenir meus irmãos”. Resposta “Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem”. Nem que o morto lhes aparecesse, iriam modificar-se. Para que opere a mudança é preciso a conversão do coração a partir da Palavra de Deus na comunidade. A vida é uma chance de felicidade agora e preparação para a vida que segue. Deus não quer que as pessoas se percam, mas que aproveitem a vida como a bela chance de viver com Ele. A liberdade que nos é dada tem como finalidade deixar-nos frutificar com criatividade.
Combate o bom combate de fé
            Paulo, sintetizando estes pensamentos, dá o exemplo de sua vida, aconselhando seu fiel e amado discípulo Timóteo a viver as virtudes da vida tais como justiça, piedade, fé amor, firmeza e mansidão; estimula-o ao bom combate e à busca da vida eterna. Tudo se firma na nobre profissão de fé (1 Tim 6,11-12). O Reino de Deus exige decisão e empenho de vida. Sem isso jamais seremos capazes de compreender o grotesco da situação de viver despreocupados. É preciso paz, mas que ela nunca nos deixe em paz.

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