segunda-feira, 21 de agosto de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Dai-lhes, o descanso eterno”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Uma tradição cristã
 
A celebração do dia de Finados surgiu depois da celebração da festa de Todos os Santos, na Abadia de Cluny em 998. O Abade S. Odilon manda que se celebre este dia nos mosteiros sob sua jurisdição. A oração pelos mortos está presente na Igreja desde os primórdios, seguindo a tradição de todos os povos. Ao rezarmos pelos mortos, fazer-lhes túmulos, levar-lhes flores (ou outras oferendas, conforme a cultura), acreditamos que vivem e estão em comunhão conosco. No próprio sepultamento de Jesus vimos os ritos que teriam que ser completados depois do sábado. Na tradição romana celebravam os refrigérios (refrigerium), que eram celebrações junto das sepulturas. Eram refeições em que se reuniam os familiares no 3º, 7º, 30º dia. Aos poucos a celebração da Eucaristia substituiu o refrigério. S. Mônica, diz a seus filhos, entre eles Agostinho: “Só vos peço que vos lembreis de mim no altar de Deus, onde quer que estiverdes”. Por que se lembrar na hora da Eucaristia? Já era, então, costume antigo do povo de pedir oração por sua alma. A Eucaristia é celebrada a Deus pelos vivos e mortos. As catacumbas são maravilhosos testemunhos de oração pelos mortos. Ali estão escritas frases e desenhados símbolos oracionais. Na celebração dos funerais, encontramos o que se pensava da morte e do destino dos mortos. Da dor e do desencanto dos pagãos, passou-se ao clima de ressurreição que encontramos nos textos litúrgicos. No período medieval a tônica foi uma linguagem mais dolorosa e tétrica, mudada nos novos rituais para a temática iluminada da ressurreição. 
A morte no meu caminho 
Na espiritualidade, cheia de luz e vida, que temos sempre procurado entender, encontramos o momento da morte. A dor, o pranto, as lágrimas e a saudade não são um mal. Tudo é humano. A sociedade retira o sinal de morte, os símbolos do luto e as memórias dolorosas. E a dor é vivida na solidão. Celebrar do dia de Finados é ter a oportunidade de ver nosso futuro. Todos iremos morrer. A morte faz parte da vida e a vida, dizia um biólogo, são as forças que resistem à morte. Deus quer que todos vivamos intensamente e, no momento de nossa partida, estejamos prontos para ir a seu encontro com alegria. A alegria é cultivada na fé na ressurreição. “Para os que crêem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada. Desfeito nosso corpo mortal, nos é dado no Céu, um corpo imperecível” (Pref. dos Mortos). A fé em Jesus nos unirá a sua Ressurreição. 
Oração pelos mortos 
Sempre rezamos pelos mortos. Há grupos religiosos que negam o valor desta oração. Negam que fazemos parte do Corpo de Cristo, como nos ensina S.Paulo: “Se um membro sofre, todos os membros compartilham seu sofrimento. Se um membro é honrado, todos compartilham sua alegria” (1Cor 12,21). Os que vivem na Glória, os que estão na caminhada da terra e os que passam pela purificação definitiva, que chamamos de Purgatório, são parte uns dos outros. Somos parte de um só corpo. Os mortos não podem fazer mais por si, pois já passou o tempo de merecerem. É por isso que, em cada missa, sempre lembramos dos mortos: “Lembrai-vos, também de nossos irmãos que morreram na esperança da ressurreição: acolhei-os junto a vós na luz de vossa face”.Celebrar por eles, é aproximá-los cada vez mais da Luz e da paz (Pós-Comunhão). É bom rezar pelos mortos, pois um dia rezarão por nós. Em cada Eucaristia rezamos por todos, não só pelos lembrados.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM OUTUBRO DE 2010

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