Por mais que não se creia na vida eterna, os mortos são uma presença permanente. Estão em nossa memória, como se estivessem aqui. Todos os povos tiveram seus ritos funerários como expressão dessa continuidade. A origem da celebração de Finados traduz, cristãmente, essa mentalidade. Não se trata de culto aos mortos, mas culto com os mortos que vivem em Deus. Todo culto se refere a Deus que leva consigo tudo o que é criado por Ele. A celebração tem algo muito próprio: No mistério de Cristo, morto e ressuscitado, unimos os que deixaram essa vida e estão vivendo a glória que lhes é reservada. Glória é a manifestação de Deus. Quando falamos com Deus levamos tudo o que se nos refere. Rezar pelos mortos é falar com todos os que estão em Deus. É bom lembrar que, no que se refere à vida eterna, podemos dizer muito pouco. É outra dimensão. Penetramos nos Céus em Deus. Cuidado em querer organizar o “outro lado”. Temos muito que fazer aqui. Nosso Céu, agora, é o amor que dedicamos aos irmãos. Assim o salmo nos inspira: “Ao Senhor eu peço somente uma coisa, e só isso que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo em seu templo” (Sl 26). A primeira leitura nos descortina a grande mudança que o futuro nos prepara: “O Senhor dará neste monte, para todos os povos um banquete de ricas iguarias... Eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,6ª.7). Esse momento é de esperança.
Jesus acolhe
A liturgia desse dia é pouco “funeral”. Ela que vem nos ensinar o que significa o grande amor de Deus por nós, manifestado em Cristo: “A vontade do Pai que Me enviou é que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas os ressuscite no último dia” (Jo 6,39). E mais ainda: essa vontade de estar conosco, que motivou a Encarnação, se traduz em nos dar aquilo que seremos. João ensina: Deus nos manifestou seu amor chamando-nos de filhos, e de fato o somos. Quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é (1Jo 3,1-2). Notamos quanto Jesus nos comunica de sua vida. Ele nos atrai e nos acolhe. Celebrar os mortos é reformular a vida em sua dimensão maior que é asua continuidade em Deus. João insiste: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos Filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo não nos conhece é porque não conheceu o Pai” (Id 1). Celebrar os mortos não deve ser mais um dia aziago, de algo que não vai bem. Mas é se alegrar de poder ter junto de Deus, como celebramos no dia 1º, a imensidão daqueles que já vivem na glória. Celebrando, lembramos o que seremos. Penso que já é tempo de tirar da celebração de Finados o clima fúnebre. Certo que vem a saudade. Não podemos perder a dimensão de morte que a vida tem. É dor. A saudade dói.
Por que rezamos pelos mortos
A Igreja sempre rezou pelos mortos. Como era natural, não precisou explicar. Rezamos para sua purificação. Nós, católicos, cremos na Bíblia que ensina que somos Corpo de Cristo. Cristo é a Cabeça e nós os membros (1Cor 12,27). Se, como Igreja visível, somos um só corpo, quanto mais como Igreja Total, todos em Cristo, na unidade com o Pai. Na caminhada para o Pai, temos os membros mais frágeis que necessitam de nossa oração, nossa vida espiritual com Deus. Assim comunicamos Vida em Cristo. Não deixemos de rezar pelos mortos, porque um dia, nós também precisaremos de oração. Estamos em caminho. Santa Mônica dizia: “Lembre-se de mim no altar de Deus”.
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