Evangelho segundo S. Lucas 9,51-62.
Aproximando-se
os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a
Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e
entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que
mandemos descer fogo do céu que os destrua?». Mas Jesus voltou-Se e
repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. Pelo caminho, alguém
disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe:
«As raposas têm as suas tocas, e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do
homem não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele
respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus:
«Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro
despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as
mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Leão Magno (?-c. 461), papa,
doutor da Igreja
Sermão 71, para a ressurreição do Senhor; PL 54, 388
«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para
o reino de Deus.»
Meus caros, Paulo, o apóstolo dos pagãos,
não contradiz a nossa fé quando diz: «Ainda que tenhamos conhecido a Cristo à
maneira humana, agora já não O conhecemos assim» (2Cor 5,16). A ressurreição do
Senhor não pôs um termo à sua carne; transformou-a. O aumento da sua força não
destruiu a sua substância. A qualidade mudou, mas a natureza não foi aniquilada.
Crucificaram aquele corpo, ferrando-o a pregos, e ele tornou-se inacessível ao
sofrimento. Deram-lhe a morte, e Ele tornou-Se imortal. Assassinaram-no, e Ele
tornou-Se incorruptível. Bem podemos dizer que a carne humana de Cristo não é a
que tínhamos conhecido, porque nela deixou de haver vestígios de sofrimento ou
de fraqueza. Continua a mesma na sua essência, mas já não é a mesma quanto à
glória. Não surpreende, pois, que São Paulo se exprima desta maneira a propósito
do corpo de Jesus Cristo, referindo-se a todos os cristãos que vivem segundo o
espírito: «De agora em diante, não conhecemos ninguém à maneira humana».
Quer com isto dizer que a nossa ressurreição começou em Jesus Cristo.
Nele, que morreu por nós, toda a esperança tomou corpo. Deixou de haver em nós
dúvida, hesitação, espera desiludida; as promessas começaram a cumprir-se e
conseguimos já ver, com os olhos da fé, a graça com que amanhã seremos
cumulados. A nossa natureza elevou-se; na alegria, já possuímos o objeto da
nossa fé [...].
Que o povo de Deus tome consciência de que se «está em
Cristo, é uma nova criação» (2Cor 5,17). Que compreenda bem Quem o escolheu, e a
Quem ele próprio escolheu. Que o ser renovado não volte à instabilidade do seu
antigo estado. Que, depois de «lançar a mão ao arado», não pare de trabalhar,
cuide do grão que semeou, sem se voltar para trás, para o que abandonou. [...] É
esta a via da salvação; é a maneira de imitar a ressurreição que começou com
Cristo.
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