PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
667.
Uma necessidade do povo
A
espiritualidade passa por muitos caminhos. Um deles é a piedade popular. O
Documento de Aparecida (nº 7) reconhece
que ela é uma das riquezas de nossos povos, é um tesouro precioso da Igreja
católica da América Latina (258), que deve
ser catequizada (300). O que é a piedade
popular? É a maneira de o povo viver sua fé, seguindo tradições espirituais que
vêm de séculos. Na Idade Média, a liturgia se afastou do povo e se tornou um
assunto do clero. Era feita em latim, que não era mais a língua do povo. Este,
distante, criou sua forma de se relacionar com Deus partindo, sobretudo, dos
aspectos humanos da vida de Cristo, como Nascimento, Paixão, Eucaristia, dores
de Maria, devoções aos santos, relíquias, santuários e devoções, como o terço,
a via-sacra. Salienta-se neste tempo a humanidade de Cristo. A própria estrutura
eclesial assumiu a piedade popular. Essa piedade sustentou e santificou o povo por
séculos. E ainda é importante. Com o Vaticano II houve um arrefecimento brusco
que prejudicou pelo fato de ter excluído o povo. Foram tiradas devoções e não
foram substituídas de modo adequado. Como é uma cultura, não se muda de um dia
para o outro. As tentativas dos movimentos, como carismáticos, devoções vindas
de outros países que trouxeram
benefícios, mas não para o povo em geral. Este ficou perdido e buscou outros
meios e outros cultos. A tentativa era fazer uma renovação geral. Isso precisa
de catequese, liturgia bem adaptada à condição do povo. A teologia da
libertação trouxe excelente contribuição, mas foi sufocada e não resolveu a
questão da religiosidade popular. A renovação litúrgica, distante do povo, não
conseguiu colher sua alma e com ela enriquecer a celebração do mistério.
Continuamos com o pé em duas canoas.
668.
Uma escola de fé
A
religiosidade da piedade popular é uma escola de fé, pois conduz o fiel à vida
de Cristo, dos santos e às práticas de piedade. Como escola de fé estimula a
vida cristã, mas tem um risco: desliga a fé da vida. A devoção, se não
compromete a vida com o sentido do evangelho, torna-se frágil. Esse é um dos
perigos da religiosidade popular. Fica no exterior. Por isso, a Igreja insiste
na evangelização da religiosidade popular (41,300,549).
É boa, mas precisa aprofundar os conteúdos e comprometer a vida. No momento
atual há uma volta à devoção aos santos, mas, infelizmente, na busca dos
milagres e não na procura de viver a vida cristã. Os santos são intercessores,
modelos e estímulos a viver o evangelho. O risco da devoção sem compromisso com
a vida é ficar na emoção, no exterior da representação. A religiosidade e
piedade popular ajudam na medida em que ajudam nossa conversão.
669.
Caminhos de espiritualidade
A
piedade popular tem um elemento muito importante para a compreensão a fé: Tira
a fé do puro racionalismo onde damos valor só ao conhecimento da doutrina e nos
orienta a infundir os ensinamentos no coração. Se por um lado não é boa uma
devoção que não compromete a vida, por outro, a pura doutrina sem vida e
sentimento, não edifica. Está faltando essa mútua ajuda. Ao venerarmos os
santos e participarmos dos mistérios da vida de Cristo em sua visão mais
sensível, precisamos buscar confrontar nossa vida com eles e tomar decisões de
conversão. Aí sim, a piedade popular enriquece a Igreja. Não basta citar textos
da bíblia, é preciso encarná-la na vida. Louvamos a Deus pelo povo que manteve
sua fé, mesmo sem a presença da Igreja. A Igreja é chamada a conhecer a alma do
povo e assim dispensar os mistérios sagrados e os ensinamentos da fé de modo
compreensível. A base desta atitude educadora é o carinhoso acolhimento do
povo, linguagem que ele entende bem.
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