segunda-feira, 15 de agosto de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “A graça e a carne”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
1765. Matrimonio e casamento
Estamos refletindo sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o amor na família – Amoris Laetitia (AL). Quando dizemos matrimônio e casamento estamos usando duas palavras que querem dizer a mesma coisa. Há, contudo, uma dimensão diferente. Casamento é a realidade humana que conhecemos em tantas religiões e culturas. Matrimônio tem a dimensão espiritual - sacramental. Seria bom distinguir para aprofundar melhor a riqueza dessa realidade. A dimensão espiritual não acontece se não há a dimensão humana. Estão intimamente unidas como no ser humano que é carnal e espiritual. Assim o matrimônio, para ser completo, exige a parte carnal como componente necessário. Sendo um sacramento exige o sinal sensível que explica a graça invisível. O sacramento do matrimônio é carne e espírito. O espiritual é a graça de participação na vida de Cristo. Tudo que há em Cristo para nossa salvação acontece no sacramento do matrimônio. O sacrifício pascal de Cristo se dá com sua total entrega ao Pai. A entrega do casal realiza essa dimensão. Na entrega corpórea recebem esse dom. “Seu consentimento e a união de seus corpos são os instrumentos da ação divina que os torna uma só carne” (AL 75).  O aspecto religioso do sacramento do matrimônio não está, em primeiro lugar, na celebração, mas na própria realidade sacramental que acontece na vida do casal. A celebração é o atestado dessa ação de Cristo. Com o batismo, o matrimônio é fonte de vida espiritual para toda a vida. Não são atos, mas o sacramento que atua pela vida. É comum se ouvir: o amor acabou. Se acabar é porque nunca houve. Quanto mais a sociedade elimina a família, mais vemos crescer a consciência do matrimônio como um todo, corpo e espírito.
1765. Projeto humano no projeto de Deus
            Como o espiritual tem sido colocado em oposição ao que é humano, dizemos carnal, torna-se difícil compreender a dimensão espiritual da sexualidade. O projeto da energia carnal incluiu sua característica de demonstrar a dimensão espiritual do ser humano. Quando se diz que “não separe o homem o que Deus uniu” (Mc 10,9), referindo-se ao matrimônio, podemos entender que não sejam separadas santidade e sexualidade nem  opostas, pois dão sentido e completam o matrimônio. Se tivéssemos entendido o sentido espiritual da sexualidade, não estaríamos passando pela situação de perversão que se vive no momento. O Papa lembra que tudo foi criado por Cristo e para Cristo (Cl 1,16). Com a vinda de Cristo, torna-se mais clara a criação (AL 77). Pelo Evangelho se clarificam e purificam os elementos que a frágil condição humana absorveu e se recuperam elementos do desígnio divino. Como o matrimônio faz parte da condição humana na criação, temos muito a receber e nos enriquecer de outras culturas, purificando-as do que seja nocivo.
1767. Famílias feridas
A Igreja e as instituições devem ter o olhar de Cristo sobre as multidões sofridas. Cristo não só acolhe como ilumina oferecendo sempre caminhos para a cura dos corações. Por ser uma instituição de santidade não dispensa a contínua conversão não só das chagas do pecado, como indicações para os caminhos da graça. O matrimônio sempre poderá ser melhor. A conversão penetra também as condições humanas da família e da sexualidade. A meta é sempre dispor-se ao melhor. O amor se modifica com a idade e circunstâncias. Quando mais maduro, mais atinge sua condição de promover a felicidade humana e espiritual. Eu presenciei meu papai e minha mamãe namorando até os 75 anos de casamento quando partiram. 
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

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