quarta-feira, 24 de agosto de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Ofereceu o que possuía”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Religião de fachada
            Marcos, em seu Evangelho, faz uma orientação para sua comunidade que era marcada pela pobreza. Os cristãos são, quase sempre, pobres. Qual é o valor de um pobre e de sua miserável oferta? Jesus estava diante do tesouro, no lugar onde entregam as ofertas ao templo. Chamou os discípulos e mostrou os ricos que faziam grandes ofertas e uma viúva que ofereceu duas moedinhas. Os ricos são acusados por Jesus, não por serem ricos, mas exploradores. E era coisa pública: “Tomai cuidado com os doutores da Lei de Deus (entendidos de bíblia). Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas, das primeiras cadeiras nas sinagogas... Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações” (Mc 12,38-40). Era um tipo de corrupção e abuso de poder velado por largas esmolas. A viúva deu tudo o que possuía para viver (Mc 12,44) . A vítima da sociedade é a verdadeira generosa. Doa com totalidade; dá o interior, não o resto. Ele explicou aos discípulos que o que vale é a entrega de si mesmo, não a gordura da esmola. Curiosamente o pobre é mais generoso. Na verdade deu mais. A liturgia faz um paralelo com a viúva do tempo de Elias que teve grande generosidade e deu ao profeta o pouco que tinha. A retribuição é justa: se dermos o que nos dá vida, Deus nos dá vida em troca. Deus quer nosso coração. O culto verdadeiro se faz com o coração. A moeda que sustenta o culto é o coração. Deus quer que os pobres façam caridade. Aliás eles são generosos. A caridade do pobre redunda em vida, como para a viúva que acolhe Elias. Ela deu todo o óleo e toda a farinha. A vasilha não esvaziou. Tenho medo de ser falso na fé, pois a gente não cuida dos queridos de Deus, que é uma obrigação confiada à Igreja, isto é, a mim. Corremos esse risco nas igrejas: ter fachada de fé que não corresponde com a vida.
O Senhor é fiel
            Rezamos no salmo 145: “O Senhor é fiel para sempre; faz justiça aos que são oprimidos; Ele dá alimento os famintos, e é o Senhor quem liberta os cativos”. Deus sustenta o homem em suas necessidades, sobretudo quando se abre à partilha. Partilhar da bondade de Deus é fazer a partilha. Elias vai à Sarepta, terra onde há uma seca que mata de fome os humildes (1Rs 17,12). A generosidade da viúva é correspondida por Deus que lhe dá o alimento. Há no mundo muitas secas que levam o povo ao sofrimento da fome e da falta de condições. Deus vai ser fiel através de nossa atenção, como Elias que garante a comida da pobre e seu filho: “A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra” (1Rs 17,12-14).
Uma vez por todas
            Jesus nos faz presentes diante do Pai. Ele está sempre a lembrar o Pai em nosso favor. No rosto do Filho, o Pai vê o rosto de cada um de nós. Jesus era o pobrezinho que se doou totalmente, uma vez por todas. Não deu resto a Deus. Nós estaremos unidos ao Cristo Sacerdote quando nos damos a Deus, como Ele o fez. Como se faz isso? Em nossa fragilidade seremos enriquecidos. A participação e a partilha nos enriquecem. Nosso culto só estará unido ao Cristo Sacerdote quando nossa atitude for como a sua: uma vez por todas. O que se espera dos cristãos é que façam o culto a partir do coração. A Eucaristia é a escola na qual aprendemos a partilhar e acolher os necessitados.
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