Evangelho segundo S. Mateus 23,23-26.
Naquele
tempo, disse Jesus: «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque pagais o
dízimo da hortelã, do funcho e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes
da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Devíeis praticar estas coisas,
sem omitir as outras. Guias cegos! Coais o mosquito e engolis o camelo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo
e do prato, que por dentro estão cheios de rapina e intemperança. Fariseu
cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior
fique limpo».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Pedro Damião (1007-1072), eremita, bispo, doutor da Igreja
Opúsculo 51
«Omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia
e a fidelidade»
Se quiseres avançar corretamente, com
discrição e dando frutos no caminho da verdadeira religião, deves ser austero e
rígido contigo mesmo, mas sempre alegre e aberto para com os outros,
esforçando-te no teu coração por caminhar nos cumes da retidão, sabendo
inclinar-te com bondade para os mais fracos. Numa palavra, perante o juízo da
tua consciência, deves moderar os rigores da justiça, de tal forma que não sejas
duro para com os pecadores, mas acessível ao perdão e indulgente. [...]
Considera o teu pecado como perigoso e mortal; o dos outros, considera-o
como fragilidade da condição humana. Pensa que a falta que, em ti, consideras
digna de severa correção nos outros não merece mais do que uma pequena
admoestação. Não sejas mais justo do que o justo : receia cometer o pecado, mas
não hesites em perdoar ao pecador. A verdadeira justiça não é a que precipita as
almas dos irmãos no laço do desespero. [...] É muito perigoso o fogo que, ao
queimar o mato, ameaça abrasar a própria casa com o ardor das suas chamas. Não,
aquele que se compraz em escalpelizar os defeitos dos outros não evitará o
pecado porque, ainda que seja movido pelo zelo da justiça, tarde ou cedo acabará
por denegrir.
Evidentemente, se a nossa vida não nos parecesse tão bela,
a dos outros não nos pareceria tão feia. E se fôssemos juízes severos para nós
mesmos, como deveríamos ser, as faltas dos outros não encontrariam em nós
censores tão rigorosos.
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