PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
718. Deus
nos fez assim
Na
espiritualidade é importante reconhecer a própria realidade e crescer a partir
dela. Temos o defeito de colocar as pessoas como se fossem todas iguais. Deus
não nos fez iguais. Cada um tem uma riqueza maravilhosa de potencialidades que
também devem integrar a vida com Deus. Pensar a vida por departamentos é um
desastre espiritual. Não podemos desconhecer o que somos. Somente a partir do
que somos é que podemos construir-nos. Temos um tipo físico, uma sexualidade,
um temperamento, uma mentalidade, uma cultura, uma família, uma educação, uns defeitos
e umas qualidades etc... que compõem nossa pessoa. Não há esquemas comuns absolutos. Certamente
que há coisas comuns que devem ser ponto de referência para todos. Esta
individualidade não significa individualismo. No fundo, temos que respeitar quem
somos. Mesmo seguindo um modelo, conservemos nossas peculiaridades. Um bom
princípio é respeitar como Deus nos fez. Cuidar de quem somos é o melhor modo
de servir a Deus em meio a outras pessoas. Cada um contribui com o seu modo de
ser. Isso enriquece, pois, a própria natureza é extremamente diversificada.
Isso é sua beleza. Se tudo fosse igual... que monotonia! É preciso descobrir
quem sou para que possa ser para os outros. Deus me fez assim. É bom respeitar
o bom gosto de Deus. Que o leigo, em sua espiritualidade privilegie suas
características pessoais.
719. Carne no espeto
Entre
as riquezas que Deus colocou em nós, temos a carne. Somos feitos de carne, contudo,
essa carne tem riquezas e fragilidades. Carne não é só o físico, mas todas as
manifestações que ela possui. João diz que o “Verbo se fez carne” (Jo 1,14). Carne, no conceito bíblico, é a
realidade total da pessoa. Nós pensamos só o aspecto do físico e tudo que ele
significa. Não é eliminando a carne que estaremos agradando a Deus, mas
agradando a Deus dentro de nossa carne, como um dos principais estímulos ao
encontro com Deus. Esta carne é animada por uma alma espiritual que nos conduz à
prática do bem. Não podemos mais aceitar filosofias ou espiritualidades que
desprezem a carne vivendo no dualismo. O apetite carnal é dom de Deus. O pecado
original, mesmo eliminado pelo batismo, deixa marcas. A vida cristã não
sacrificará a carne em vista do espiritual, mas promoverá a libertação do mal
pelo amor que faz da carne templo do Espírito Santo. Por mais santos sejamos, nossa
carne estará sempre no espeto, fritando no fogo da vida. E é muito bom. Pois Deus
viu tudo o que fizera e eis que era tudo muito bom (Gn
1,31). O pecado está aí. Deus disse a Caim: “O pecado está à porta, a te
espreitar, tu deves dominá-lo” (Gn 4,7).
Vamos vencê-lo promovendo as coisas boas de nossa carne.
720.
Deus reza em nós
Sabendo que somos carne e somos o
que somos, não podemos nos esquecer que Deus vive em nós. Nossa carne é
tabernáculo de Deus: “Não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo”? (1Cor 6,19); “Não sabemos o que pedir como
convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). O amor de Deus Trindade nos envolve e
tudo transforma por nossa união com o Corpo de Cristo na Eucaristia. Nosso
encontro com Deus se faz em primeiro lugar dentro de nós. É em nossa carne que
Deus habita, como Jesus que se encarnou em nossa carne frágil.
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