Celebramos,
nesses dias, a festa do Sagrado Coração de Jesus na qual lembramos o amor de
Deus manifestado em Cristo. Assim como dizemos que o coração é a sede do amor,
dizemos Sagrado Coração de Jesus. Não se trata do órgão físico, mas de sua Pessoa
em seu mistério de amor e de sua entrega ao Pai pela vida do mundo. Não esquartejamos Cristo para celebrar seus
mistérios, mas identificamos o dom da Redenção que nos conquistou com seu
Corpo, Sangue, Alma e Divindade. A devoção tem seus símbolos. O coração ferido
pela lança (Jo 19,34),
do qual jorra sangue e água, é também símbolo da abertura que temos para entrar
no “segredo de Deus”. Em Deus não há nada oculto para nós. Jesus nos diz: “Tudo
o que ouvi de meu Pai, eu vos dei a conhecer” (Jo 15,15). Por esse conhecimento ouvimos S.
Paulo exclamar: “Tereis capacidade de compreender, com todos os santos, qual a
largura, o cumprimento, a altura, a profundidade e de conhecer o amor de Cristo
que ultrapassa todo conhecimento, a fim de que sejais cumulados até receber
toda a plenitude de Deus” (Ef
3,18-19). Entrar no Coração de Jesus pela imensidão da abertura que foi
feita a todos, é acolher a água que jorra para o Batismo e pelo sangue da
Eucaristia. Jesus dissera aos discípulos que, daquele que crê jorrariam rios de
Água Viva. Ele falava do Espírito Santo que deviam receber os que Nele cressem (Jo 7,38-39). A Água
Viva é o próprio Jesus (Jo
4,10). Santa Catarina de Sena fundamenta sua espiritualidade neste
caminho aberto pela lança. É pelo amor que achamos esta entrada e penetramos
nesse amor que é o modo de ser de Deus. Estando na sala do banquete, como lemos
em Cântico dos Cânticos, (Ct
2,4), podemos saborear as doçuras do amor. O que mais falta em nossa
espiritualidade é a experiência da inenarrável doçura do amor de Deus. Na
devoção ao Sagrado Coração encontramos tanta riqueza para nós, mas o
fundamental é o diálogo amoroso com Aquele que nos amou primeiro. Esse diálogo
é o alimento dos que buscam a Deus.
1120.
A fé tem coração
A
fé não nos foi transmitida como uma virtude seca, esturricada de verdades
pesadas e difíceis. Ela é o doce mel que escorre dos favos do Coração de Deus e
abre em nós a morada de Deus. “Aquele que me ama, meu Pai o amará e nós viremos
a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). A fé é uma posse (Hb 11,1), mas ainda não nos é dado a ver
tudo o que seremos. Por enquanto vemos como por um espelho, em enigma, mas
então veremos face a face (1Cor
13,12). Há uma necessidade de colocarmos tudo que somos: corpo, alma e
potências intelectuais para viver a fé. É a coerência integral. Crer a Verdade
significa amar e viver a verdade. A fé tem coração. Fé sem amor é um livro sem
letras.
1121.
Uma devoção sempre nova
A devoção ao Sagrado Coração trouxe
riquezas. Eram belas as nove primeiras Sextas-Feiras para a Comunhão
reparadora, com tantas promessas. Não se trata de retirar sua importância, mas
criar algo novo nascido deste tesouro antigo que se torna novo e o vivemos como
novidade de vida cristã. Não basta amar o Coração de Jesus, mas ter em nós seu
coração. Amar com o Coração de Jesus. Ele é manso e humilde de coração (Mt 11,29). Por isso
rezamos: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao
vosso!” A novidade é transformar as atividades pastorais em uma fornalha de
amor por todos os necessitados. Sem esse fogo do amor, não vamos levar Jesus ao
mundo. Nossas comunidades podem receber aquele elogio dos pagãos: vede como se
amam?
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