sábado, 2 de setembro de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “Das profundezas clamo a Vós”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
O mal é uma escolha
               Reiniciamos o Tempo Comum tempo forte do Ano Litúrgico. Nele celebramos Cristo em seu mistério na leitura corrente do evangelista Marcos. Hoje meditamos o mistério do mal no mistério divino partindo da situação vivida por Jesus. Seus inimigos atribuíam Seu grande poder de milagres ao príncipe dos demônios. Como Jesus veio para livrar de todo o mal, essa afirmação era jogar o demônio contra si mesmo. A origem do mal é o pecado dos primeiros pais, Adão e Eva, como narra Gênesis. Mais que históricos são todo homem e toda mulher no seu relacionamento com Deus. O texto ensina que o mal não vem de Deus, mas é uma escolha da pessoa que Lhe “desobedece”. O pecado, no sentido bíblico, tem origem na recusa de Deus e na opção pelo mal, simbolizado na serpente que é o demônio. Adão se viu nú, isto é, despido da vida. Recusar a Deus é o pecado. No profundo desencanto por terem perdido a Vida, recebem a promessa de um Salvador que vai pisar a cabeça da serpente. A descendência da mulher, no caso Maria, vai pisar a cabeça da serpente (Gn 3,9-15). A condenação da serpente – o demônio – mostra o poder superior de Deus sobre todo o mal. O pecado não é um beco sem saída. Dentro do tema do pecado há o tema do desejo do homem de se salvar quando está afundado no charco do mal: “Das profundezas eu clamo a voz, Senhor, escutai a minha voz!... Em vós se encontra o perdão. Eu Vos temo e espero” (Sl 129). Este é o grito de todo o coração que, se sabendo frágil, conhece a força de Deus que ama, perdoa. Deus vê o coração.
Pecado contra o Espírito Santo
               Temos neste evangelho de hoje uma afirmação, um pouco complicada, que Jesus chama de blasfêmia contra o Espírito Santo, que é um pecado imperdoável. Como pode existir um pecado que não tem perdão se Jesus perdoa tudo e é a expressão da misericórdia de Deus? Jesus ensina que o pecado contra o Espírito Santo é a recusa de Jesus e de sua capacidade de salvar, atribuindo a Ele as obras do mal. É fácil compreender que se condena quem quer e quem recusa Jesus como o Salvador. Quem não quer a salvação, não tem salvação. Esta blasfêmia é visível no mundo de hoje quando o que está errado é dito como certo e o certo é tido como errado. Vemos claramente uma orquestrada destruição dos princípios morais e a promoção de tantos erros como sendo a verdade, na inversão dos valores. Assim se torna difícil salvar-se, a não ser se for uma ignorância invencível.
Buscando o invisível
                A carta aos Hebreus diz de Moisés: “Foi pela fé que deixou o Egito, sem temer o furor do rei e resistiu como se visse o invisível” (Hb 11,27). Paulo afirma que mesmo se o nosso homem exterior vai se arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai se renovando, dia a dia... Isso acontece porque voltamos os ossos olhos para as coisas invisíveis e não para as visíveis” (2Cor 4,16.18). Nós vemos mais claramente as realidades e manifestações de Deus com os olhos da fé do que com os olhos carnais. Para superar o mal e ver sua maldade é preciso ver com os olhos da fé. Os olhos da carne veem o que é carnal. Os olhos dá fé nos permitem ver o que é eterno. Veremos a maldade do pecado somente quando tivermos a visão da fé em Deus que nos ama e nos atrai a si. A Celebração Eucarística é um momento de fazer o acolhimento de Jesus e rejeitar o mal.

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