Reiniciamos o Tempo
Comum tempo forte do Ano Litúrgico. Nele celebramos Cristo em seu mistério na
leitura corrente do evangelista Marcos. Hoje meditamos o mistério do mal no
mistério divino partindo da situação vivida por Jesus. Seus inimigos atribuíam
Seu grande poder de milagres ao príncipe dos demônios. Como Jesus veio para
livrar de todo o mal, essa afirmação era jogar o demônio contra si mesmo. A
origem do mal é o pecado dos primeiros pais, Adão e Eva, como narra Gênesis. Mais
que históricos são todo homem e toda mulher no seu relacionamento com Deus. O
texto ensina que o mal não vem de Deus, mas é uma escolha da pessoa que Lhe
“desobedece”. O pecado, no sentido bíblico, tem origem na recusa de Deus e na
opção pelo mal, simbolizado na serpente que é o demônio. Adão se viu nú, isto
é, despido da vida. Recusar a Deus é o pecado. No profundo desencanto por terem
perdido a Vida, recebem a promessa de um Salvador que vai pisar a cabeça da
serpente. A descendência da mulher, no caso Maria, vai pisar a cabeça da
serpente (Gn 3,9-15).
A condenação da serpente – o demônio – mostra o poder superior de Deus sobre
todo o mal. O pecado não é um beco sem saída. Dentro do tema do pecado há o
tema do desejo do homem de se salvar quando está afundado no charco do mal:
“Das profundezas eu clamo a voz, Senhor, escutai a minha voz!... Em vós se
encontra o perdão. Eu Vos temo e espero” (Sl 129). Este é o grito de todo o coração
que, se sabendo frágil, conhece a força de Deus que ama, perdoa. Deus vê o
coração.
Pecado contra o Espírito Santo
Temos neste
evangelho de hoje uma afirmação, um pouco complicada, que Jesus chama de
blasfêmia contra o Espírito Santo, que é um pecado imperdoável. Como pode
existir um pecado que não tem perdão se Jesus perdoa tudo e é a expressão da
misericórdia de Deus? Jesus ensina que o pecado contra o Espírito Santo é a
recusa de Jesus e de sua capacidade de salvar, atribuindo a Ele as obras do
mal. É fácil compreender que se condena quem quer e quem recusa Jesus como o
Salvador. Quem não quer a salvação, não tem salvação. Esta blasfêmia é visível
no mundo de hoje quando o que está errado é dito como certo e o certo é tido
como errado. Vemos claramente uma orquestrada destruição dos princípios morais
e a promoção de tantos erros como sendo a verdade, na inversão dos valores.
Assim se torna difícil salvar-se, a não ser se for uma ignorância invencível.
Buscando o invisível
A carta aos Hebreus diz de Moisés: “Foi pela
fé que deixou o Egito, sem temer o furor do rei e resistiu como se visse o
invisível” (Hb 11,27).
Paulo afirma que mesmo se o nosso homem exterior vai se arruinando, o nosso homem
interior, pelo contrário, vai se renovando, dia a dia... Isso acontece porque
voltamos os ossos olhos para as coisas invisíveis e não para as visíveis” (2Cor 4,16.18). Nós
vemos mais claramente as realidades e manifestações de Deus com os olhos da fé
do que com os olhos carnais. Para superar o mal e ver sua maldade é preciso ver
com os olhos da fé. Os olhos da carne veem o que é carnal. Os olhos dá fé nos
permitem ver o que é eterno. Veremos a maldade do pecado somente quando
tivermos a visão da fé em Deus que nos ama e nos atrai a si. A Celebração
Eucarística é um momento de fazer o acolhimento de Jesus e rejeitar o mal.
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