PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
“Encontro com Deus”
Sabia ser amigo
Os evangelhos sempre nos apresentam Jesus ensinando com sua própria vida. É um caleidoscópio que sempre oferece uma face nova. A temática apresentada hoje é a hospitalidade e seus frutos. Lemos a misteriosa narrativa da visita dos três personagens a Abraão. Este os recebe com todas as honras orientais devidas a um hóspede. A hospitalidade tem o sentido de uma visita Divina. O texto é de difícil de interpretação. Na liturgia deste domingo é usado aqui para acompanhar o texto da visita de Jesus à casa de Marta e Maria. Esta visita, já costumeira, se reveste de um ensinamento profundo: acolher Jesus em sua vida está acima de todas as preocupações. É o convite a ir ao único necessário que não nos será tirado. Não se trata de um desleixar-se das coisas necessárias à vida, mas de dar-lhes o sentido de abertura ao encontro com Deus. Abraão realizou um intenso cerimonial de acolhida para colocar em ação a presença de Deus que o animava. Sair de si para acolher é já um anúncio da presença de Deus em nós. É o que ocorre com Marta e Maria. Maria acolhe Jesus e Marta O acolhe também, mas através de coisas que desviam do sentido de sua visita: estar com Ele. Abraão “permanece de pé junto deles debaixo da árvore enquanto comiam” (Gn 18,8). Ao terminarem o encontro, um deles deixa a promessa de um filho a Sara que ri por isso quando Isaac nasce, Sara diz: “Deu me deu motivo de sorrir” (Gn 2,16). Ela já passara da idade de ter filhos. À Marta Jesus diz: “Marta, você vive muito atarefada com as coisas. Uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10,41-42). O fruto mais precioso é estar com Jesus ouvindo sua palavra e participando de sua convivência. Isso é vitalidade.
Quem morará em vossa casa
O que significa habitar a casa de Deus como rezamos no salmo? A morada Divina não é algo exterior, mas viver na presença de Deus que habita nosso coração. O sinal da presença de Deus, isto é, “morar em sua casa”, é viver as condições propostas pelo salmo 14. Estas se referem ao respeito ao outro na justiça, na verdade, no respeito sem exploração. Fruto dessa habitação: acolher Deus gera uma descendência de vitalidade. Os frutos de Deus são perenes. Isaac é o filho da promessa, como uma recompensa da hospitalidade de Abraão. Essa promessa culminará no Filho da promessa que é Jesus do qual Isaac é uma imagem. Jesus sendo acolhido por Maria e Marta continua na missão de ser o Hospede que chamamos de Hóspede de nossa alma. Aqui somos convocados a dar espaço a uma escuta privilegiada de Jesus. Esses momentos de intimidade com o Senhor vão além e permanecem como um lugar onde podemos nos refugiar nos momentos quentes da vida, como ocorreu com os três homens.
Corpo sofredor.
Cristo Jesus exerce a hospitalidade para conosco, unindo-nos a seu corpo. No Corpo de Cristo não participamos somente das riquezas de Cristo e dos membros. Estamos unidos também a seus sofrimentos. Paulo se alegra pelo que sofreu por Cristo para completar em sua carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com seu corpo, isto é, a Igreja (Cl 1,214). Cristo exerce uma hospitalidade de nos acolher em seu Corpo, a Igreja. Exercemos a hospitalidade quando acolhemos aos sofrimentos dos outros participando deles. O sofrimento é momento do encontro amoroso com Deus em Cristo. Nossa união a Cristo cobra de nossa parte esse “sofrimento” de serenar nosso coração.
Leituras: Genesis 18,1-10; Salmo 14; Colossenses 1,24-28;Lucas 10,31-42
- A temática de hoje é a hospitalidade e seus frutos. Jesus hospeda-sena casa de Lázaro, Marta e Maria. A primeira leitura aprofunda a reflexão com a visita dos três personagens a Abraão. A hospitalidade é acolher o próprio Deus. Ela produz frutos.
- O salmo convida a morar na casa de Deus que será viver na presença de Deus que habita nosso coração. Para isso é preciso viver as condições de relacionamento com o outro na justiça e na verdade. A hospitalidade gera uma recompensa a Abraão e Marta e Maria.
- Cristo exerce hospitalidade para conosco unindo-nos a seus sofrimentos. Acolhendo os sofrimentos de nossos irmãos, estamos unidos ao Corpo de Cristo que é a Igreja.
O salário do descanso
O evangelho que narra a visita de Jesus à casa de Lázaro, Maria e Marta é um retrato do ser humano de Jesus. Ele era gente como nós. Ser Deus para Ele combinava com sua condição humana.
Jesus tinha amigos e sabia ser amigo. Tinha liberdade de hospedar-se na casa desses amigos. A convivência com Ele devia ser muito gostosa. Era muito proveitoso papear com Ele. Quando Deus cria o sábado para o descanso do homem, incluiu nesse descanso, descansar em Deus.
Não existe em Jesus uma falsa mania de dizer que repousar é perda de tempo. Todos nós gostamos. Jesus quer mais que isso. Quer também que repousemos com Ele.
O repouso dá abundantes frutos. Abraão foi hospitaleiro e recebeu com grande atenção os Três Homens (Anjos) que passaram por sua casa. Fez o melhor que podia. Abraão descansou ao dar repouso às três misteriosas personalidades. Eles descansaram da viagem e Abraão descansou em Deus.
Jesus visita seus amigos e se hospeda em suas casas. Marta estava atarefada com a preparação da comida. Maria conversava com Jesus e se alimentava de suas palavras. Marta reclama da irmã. Jesus não nega a importância do trabalho, mas estar com Ele é muito mais importante. É como a dizer: vamos conversar, depois vamos juntos trabalhar.
Quem não sabe descansar em Deus, jamais terá um repouso frutuoso.
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