PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
698.
Raízes profundas
Estamos refletindo sobre a vida
espiritual, compreendendo suas diferentes facetas. Há um só caminho espiritual.
Cada caminhante o faz a seu modo, com uma visão própria, interesses,
compreensão. Um caminho passa por tantos lugares. A imagem do caminho já nos é
apresentada por Jesus quando diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). O que nos interessa, no momento, não
é o caminho, mas aquilo que recolhemos durante nossa caminhada. Quanta coisa já
absorvemos nesta caminhada no campo humano, psicológico etc...! Igualmente,
quanta experiência espiritual já vivenciamos nesse caminhar! É o momento de nos
assentarmos à beira do caminho e olhar para trás, contemplar o longo trajeto
que fizemos e ver o que temos no embornal (mochila) de nossa vida. Esse caminho
espiritual que nos marca, enriquece e orienta tanto, tem uma característica
própria: “o caminho é o guia ao caminhante” (Is
35,8 – o texto não aparece nas bíblias atuais). É o que diz Jesus: Eu
sou o caminho, a verdade que indica e a vida que faz caminhar. Nossa
espiritualidade, como caminho, tem raízes profundas que não podem ser
desprezadas. Ler o próprio livro é buscar em si mesmo o que Deus nos legou na
caminhada. Quando trato com as pessoas sobre as temáticas espirituais, pergunto:
“Quais foram as riquezas espirituais que recebeu da família, da comunidade, da
catequese, da formação? Alguém já analisou o que você tem em sua bagagem humana
e espiritual? Normalmente se parte do zero, como se não existisse nada. Nos
seminários, conventos ou grupos, quando alguém entra, se lhe dá um livro e uma
tradição e se esquece o caminho que Deus fez no coração de cada um. Isso é
cortar uma árvore pela raiz. O que cresce depois, em nós, é autêntico? Quem
sabe seja por isso que temos uma espiritualidade intelectualizada, não
vivencial. Fazendo o caminho recolhemos riqueza para viver.
699.Uma
fé por inteiro
A
espiritualidade perdeu muito seu lastro popular. É necessária uma renovação. A
Igreja tem muito a aprender do povo e respeitar a piedade popular. Não quer
dizer que haja outra piedade mais refinada que é realizada por pessoas
preparadas. A piedade popular ensina-nos a viver a fé de modo completo. Pude
participar de uma festa de Reis na fazenda de meu irmão. Pude analisar que a fé
está na oração, na música, na solidariedade, na festa, na comida, na preparação,
na comunicação, como partes de um todo. A religião popular tem muito a ensinar
às celebrações da Igreja que são intelectualizadas e livrescas. Não atingem a
pessoa por inteiro, por isso, não penetram na vida. A sociedade transformou a
piedade em folclore e com isso perdeu o povo. Outras Igrejas cortaram tudo, e
enfiaram um modo de ser cristão que não tem a ver com a realidade do povo.
Movimentos e espiritualidades abandonaram-na ou buscam em devoções que vem de
fora.
700.Renovar
sem perder
A religiosidade popular nasceu
quando o povo não pode mais seguir a celebração da Igreja. Houve o divórcio
entre o oficial e o popular. Somos convocados a renovar sem perder a riqueza.
Renovar é dar conteúdo, mostrar os valores e completar com aquilo que a Igreja
possui de ensinamento. Deve haver uma união entre os dois valores. Pena é que,
quem decide, não conhece o povo, ou é de fora. A incultura da fé, da
liturgia é difícil e complicada, mas deve ser feita. Não é obra de laboratório.
Nasce da alma do povo. Por isso, é preciso conhecer sua alma. É um desafio. Mas
o caminho guia o caminhante. Cada um busque
ler, em si mesmo, as maravilhas colocadas por Deus no seu coração.
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