PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
703. Espiritualidade
de monges para leigos?
Existe uma espiritualidade própria
para os leigos? Ela é um tanto diferente da espiritualidade do clero e dos
religiosos pela própria diferença de condições. Vejamos a história: A
espiritualidade dos primeiros cristãos inspirava-se na vida dos apóstolos e na
comunidade primitiva. Isto lemos nas orientações que S. Paulo dava para as
comunidades sobre o novo modo de viver. Nos três primeiros séculos, os cristãos
inspiravam-se no martírio. O mártir era o cristão por excelência, pois imitava
Jesus a ponto de morrer como Ele. Com o surgimento dos monges, os fiéis viviam
a espiritualidade dos monges em casa. Não era uma espiritualidade para leigos,
mas para monges. Lembremos que havia heresias que negavam a matéria, o corpo e
a vida no mundo. Para ser santo, tinha que sair do mundo onde viviam as pessoas.
Na Idade Média, continuando a mesma mentalidade, os mosteiros passaram a ser o modelo
de vida espiritual. Não se desenvolveu a espiritualidade leiga, matrimonial,
como se dizia, no mundo. Prova disso é que os santos são todos padres, bispos e
freiras. Nos séculos que se seguiram, a humanidade se desenvolveu, mas a
espiritualidade não acompanhou. Quando se fala de leigo, não se quer dizer
incompetente, mas simplesmente que não é padre ou religioso. Leigo não está em
oposição nem é uma situação má. A gente do povo (leigo) pode ser tão santa ou
até mais, como qualquer padre ou freira. O hábito, o altar ou a vocação, não
são, por si só, critérios de santidade. A vida cristã pode ser vivida em
qualquer circunstância: casado, solteiro, viúvo. Ela acontece também em
situações que chamamos de más. Ela não depende da situação humana. Jesus é o
primeiro a afirmar que os pecadores públicos e as prostitutas vos precederão no
Reino de Deus porque acolheram a Palavra (Mt
21,31). Nenhum cristão é de segunda categoria. Milhões de seres humanos
poderiam ser reconhecidos como santos. A Igreja não pode marginalizar ninguém e
não lhe abrir os tesouros da santidade.
704. Jesus
modelo do cristão
Jesus é o modelo do leigo. Ele era
leigo. Não pertencia à classe sacerdotal. Participava da vida espiritual do
povo judeu em suas leis e tradições. Procurava fazer o bem por onde passava.
Essa lembrança ficou no coração dos apóstolos (At
10,38). Tinha o coração cheio do Pai e das pessoas. Jesus não foi padre
nem frei, foi um Homem de Deus. Os
religiosos e sacerdotes devem seguí-lo como os leigos, naquilo que lhes é especifico:
o ministério e o modo como Jesus escolheu para viver, pois Jesus não era
casado. Isso não é obrigatório. Sendo modelo, é Nele que vamos buscar
inspiração. Há movimentos e espiritualidades que perderam o sabor do jeito de
Jesus viver. Isso deseduca. O modelo é Jesus e não um tipo de espiritualidade
de um momento.
705.
Desafios de um novo modelo
Querer um modelo de espiritualidade próprio do leigo, não diz que a
outra modalidade é ruim, mas não é própria para ele. Não podemos chegar ao
ponto em que se chegou em certos tempos colocando o leigo como cristão de
segunda classe. Não posso pretender, como padre, apresentar o modelo, mas vamos
buscar juntos. Creio que, além do conhecimento de Jesus, temos que lembrar que
o leigo vive no mundo. A espiritualidade deve se fazer também a partir do
mundo. É ali que se santifica. Este não é oposição a Deus, mas é o Jardim que
Deus deu ao homem para cultivar. Não precisamos sair do mundo para levá-lo a
Deus. É preciso torná-lo aberto a Deus.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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