Retornamos ao
evangelho de Marcos, depois de refletir o capítulo 6º do evangelho de S. João.
Continuamos o conhecimento da pessoa e da doutrina de Jesus. Ele é nossa paz, e
deixa-nos em paz, orientando-nos na vivência dos conflitos que encontramos na
Igreja. Parte dos problemas é a relação entre fé e tradição, ensinamento divino
e ensinamentos humanos. Lemos no evangelho de Marcos (7,1-23) que os fariseus acusavam os discípulos de comerem com as
mãos impuras, isto é, sem as ter lavado (v.2).
A pureza, a que se refere, não é a limpeza ou higiene pessoal, mas a pureza
ritual, quer dizer, exterior destinada ao culto. Os cristãos judeus estavam
entre a tensão das tradições e a religião baseada na pureza do coração apresentada
por Jesus. Ele não está contra a lei, mas contra a mentalidade dos anciãos na
interpretação da lei que destruía a fé pura. Jesus critica os que anulam o
mandamento de Deus pela tradição (Mt 15,6).
O livro do Deuteronômio manda não colocar outro mandamento (Dt 4,2). Mas não se toma conhecimento pois a
tradição pesa mais. É o mesmo que vemos também na Igreja. Muitas vezes damos
mais valor aos ritos e às normas secundárias do que ao fundamental. É muito
comum a gente ouvir que ‘sempre se fez assim’. A moral que Jesus apresenta é
opção por Ele e não por ritos que estão fora da Palavra de Deus. Jesus não é
contra o rito, mas o ritualismo. Setores da Igreja têm se ligado a ele. Depois
de um tempo de liberdade coloca em risco o dinamismo que poderia nos ajudar a
crescer. Tiago faz o convite à religião pura da solidariedade e não do
ritualismo que acalma nossa consciência mas não põe em prática a Palavra.
Deus próximo
O povo tinha
consciência de ser o povo escolhido e que tinha Deus presente como lemos no
Deuteronômio: “Qual é a grande nação que tenha os seus deuses tão próximos,
como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos?” (Dt
4,7). Lei de Deus é o grande testemunho da sabedoria do povo. Ela é a
expressão de sua vontade que é a justiça (v.8).
Esta presença de Deus o faz missionário promotor da justiça entre outros povos.
É uma escola para os povos. A sabedoria justifica sua existência como povo. A
religião só vai manifestar a presença de Deus se o fizer pela prática de leis
justas que respeitem o direito. A Igreja também, mesmo não tendo poder
internacional, pela sua vida e missão, pode educar os povos à criação da consciência
de justiça, da promoção da pessoa e da presença de Deus.
Praticantes da Palavra
Tiago
ensina que o acolhimento da Palavra é princípio de Salvação, pois ela se identifica
com Aquele que a comunica: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi
implantada e que é capaz de salvar as vossas almas. Sede praticantes da Palavra
e não meros ouvintes (Tg 1,21-22). A
prática da Palavra se traduz no cuidado que temos para com os necessitados: “Religião
pura e sem mancha é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações” (Tg 1,27). A
Palavra será sempre a orientadora da verdadeira religião, ensinando a não dar
valor às tradições que anulam a Verdade e estimulando à prática da
solidariedade. Ela forma o coração para que dele saiam não impurezas, mas as
obras do amor. Sacrificar a prática do amor por tradições egoístas não condiz
com o projeto de Jesus.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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