quarta-feira, 27 de julho de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Religião pura”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Pureza do coração
            Retornamos ao evangelho de Marcos, depois de refletir o capítulo 6º do evangelho de S. João. Continuamos o conhecimento da pessoa e da doutrina de Jesus. Ele é nossa paz, e deixa-nos em paz, orientando-nos na vivência dos conflitos que encontramos na Igreja. Parte dos problemas é a relação entre fé e tradição, ensinamento divino e ensinamentos humanos. Lemos no evangelho de Marcos (7,1-23) que os fariseus acusavam os discípulos de comerem com as mãos impuras, isto é, sem as ter lavado (v.2). A pureza, a que se refere, não é a limpeza ou higiene pessoal, mas a pureza ritual, quer dizer, exterior destinada ao culto. Os cristãos judeus estavam entre a tensão das tradições e a religião baseada na pureza do coração apresentada por Jesus. Ele não está contra a lei, mas contra a mentalidade dos anciãos na interpretação da lei que destruía a fé pura. Jesus critica os que anulam o mandamento de Deus pela tradição (Mt 15,6). O livro do Deuteronômio manda não colocar outro mandamento (Dt 4,2). Mas não se toma conhecimento pois a tradição pesa mais. É o mesmo que vemos também na Igreja. Muitas vezes damos mais valor aos ritos e às normas secundárias do que ao fundamental. É muito comum a gente ouvir que ‘sempre se fez assim’. A moral que Jesus apresenta é opção por Ele e não por ritos que estão fora da Palavra de Deus. Jesus não é contra o rito, mas o ritualismo. Setores da Igreja têm se ligado a ele. Depois de um tempo de liberdade coloca em risco o dinamismo que poderia nos ajudar a crescer. Tiago faz o convite à religião pura da solidariedade e não do ritualismo que acalma nossa consciência mas não põe em prática a Palavra.
Deus próximo
O povo tinha consciência de ser o povo escolhido e que tinha Deus presente como lemos no Deuteronômio: “Qual é a grande nação que tenha os seus deuses tão próximos, como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos?” (Dt 4,7). Lei de Deus é o grande testemunho da sabedoria do povo. Ela é a expressão de sua vontade que é a justiça (v.8). Esta presença de Deus o faz missionário promotor da justiça entre outros povos. É uma escola para os povos. A sabedoria justifica sua existência como povo. A religião só vai manifestar a presença de Deus se o fizer pela prática de leis justas que respeitem o direito. A Igreja também, mesmo não tendo poder internacional, pela sua vida e missão, pode educar os povos à criação da consciência de justiça, da promoção da pessoa e da presença de Deus.
Praticantes da Palavra
            Tiago ensina que o acolhimento da Palavra é princípio de Salvação, pois ela se identifica com Aquele que a comunica: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada e que é capaz de salvar as vossas almas. Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes (Tg 1,21-22). A prática da Palavra se traduz no cuidado que temos para com os necessitados: “Religião pura e sem mancha é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações” (Tg 1,27). A Palavra será sempre a orientadora da verdadeira religião, ensinando a não dar valor às tradições que anulam a Verdade e estimulando à prática da solidariedade. Ela forma o coração para que dele saiam não impurezas, mas as obras do amor. Sacrificar a prática do amor por tradições egoístas não condiz com o projeto de Jesus.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

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