sexta-feira, 29 de julho de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Éfata, abre-te!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Curados para curar
            O profeta Isaias era um oceano de esperanças. Não olha para trás. Olha para o futuro a ser construído por Deus. Deus é a esperança. Tenho a impressão de que ele vivia tanto em Deus que via o mundo no coração de Deus e realizado em Jesus. É o sonho do Paraíso Terrestre que é sempre uma esperança. O profeta anuncia um tempo de renovação total do mundo, sobretudo para os abandonados. Jesus, com sua presença, pregação e milagres, realiza esse paraíso no mundo dos sem esperança. Ele está no meio dos pagãos, na região de Tiro e Sidon (atualmente cidades do Líbano). Mostra, assim, que a renovação não se reserva só ao povo de Israel. É aberta a todos. Proclamamos, hoje, a cura do surdo que falava com dificuldades. Jesus tirou-o do meio do povo, colocou-lhe o dedo nos ouvidos, com a saliva tocou a língua dele. A saliva, tida como curativa, tinha um simbolismo forte: entrar em contato vital com a pessoa do outro (daqui nasce o sentido do beijo). Jesus ao fazer esse gesto significa que o faz por sua natureza. “Ele levantou os olhos ao céu e suspirou”. Tira a força do Pai e do Espírito que é o sopro de vida. Deus criou o homem soprando em seu rosto para que seja alma vivente (Gn 2,7). Jesus age no Espírito. Ouvir e falar são dons fundamentais para continuar a missão de Jesus. Ele pede ao miraculado que não conte a ninguém. Por que guardar segredo? Falar de segredo é comum no evangelho de Marcos. Jesus não queria que confundisse sua presença com um messias curandeiro, político ou coisa assim que seja. Assim ensina em silêncio. Chamamos as pessoas para Cristo e não para uma aparência. Jesus curou pela palavra dizendo em aramaico “Efatá!” que significa: “Abre-te”. Quem vai abrir os ouvidos é a força da Palavra de Deus.
Testemunhar é preciso
            “Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém, mas quanto mais recomendava, mais eles divulgavam” (Mc 7,36). O mal podemos ocultar, mas o bem, jamais conseguiremos. O homem curado anuncia. O testemunho não se funda só numa vontade pessoal, mas nasce de uma união pessoal com Cristo. No rito do Batismo temos essa cerimônia de tocar os ouvidos e a boca da criança e dizer: “Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te conceda que possas logo ouvir sua Palavra e professar a fé para o louvor e glória de Deus Pai”. Somos batizados também para anunciar. A força vem de Cristo e conduz para Ele. Não podemos anunciar a nós mesmos, nosso movimento, nossa teoria espiritual ou teologia, mas sim, Jesus. Por outro lado, ninguém detém quem conhece o Senhor. A força da pregação esta em ter sido tocado por Ele.
Surdos aos clamores sofridos
            São Tiago apresenta a solução prática para compreender e realizar o mesmo milagre de Jesus. A fé cria um mundo novo. A primeira mudança que irá fazer é não discriminar os pobres. A sociedade composta por classes, deve se tornar fraterna, não fazendo acepção de pessoas. Não podemos ser surdos à multidão sofredora. O povo proclama: “Ele tem feito bem todas as coisas: “Aos surdos faz ouvir e aos mudos, falar” (Mc 7,37). “Ele passou entre nós fazendo o bem, reconhece Pedro na casa de Cornélio” (At 10,38). Quem é curado por Jesus, isto é, tem os olhos e os ouvidos abertos, mostrará este mundo novo, fazendo as obras de Jesus. Deus cuida de seu povo através de nós. Acolher a Palavra é testemunhá-la pela palavra e pela vida coerente. 

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