O profeta Isaias
era um oceano de esperanças. Não olha para trás. Olha para o futuro a ser
construído por Deus. Deus é a esperança. Tenho a impressão de que ele vivia
tanto em Deus que via o mundo no coração de Deus e realizado em Jesus. É o
sonho do Paraíso Terrestre que é sempre uma esperança. O profeta anuncia um
tempo de renovação total do mundo, sobretudo para os abandonados. Jesus, com
sua presença, pregação e milagres, realiza esse paraíso no mundo dos sem
esperança. Ele está no meio dos pagãos, na região de Tiro e Sidon (atualmente
cidades do Líbano). Mostra, assim, que a renovação não se reserva só ao povo de
Israel. É aberta a todos. Proclamamos, hoje, a cura do surdo que falava com
dificuldades. Jesus tirou-o do meio do povo, colocou-lhe o dedo nos ouvidos, com
a saliva tocou a língua dele. A saliva, tida como curativa, tinha um simbolismo
forte: entrar em contato vital com a pessoa do outro (daqui nasce o sentido do
beijo). Jesus ao fazer esse gesto significa que o faz por sua natureza. “Ele
levantou os olhos ao céu e suspirou”. Tira a força do Pai e do Espírito que é o
sopro de vida. Deus criou o homem soprando em seu rosto para que seja alma
vivente (Gn 2,7). Jesus age no Espírito.
Ouvir e falar são dons fundamentais para continuar a missão de Jesus. Ele pede
ao miraculado que não conte a ninguém. Por que guardar segredo? Falar de
segredo é comum no evangelho de Marcos. Jesus não queria que confundisse sua
presença com um messias curandeiro, político ou coisa assim que seja. Assim
ensina em silêncio. Chamamos as pessoas para Cristo e não para uma aparência. Jesus
curou pela palavra dizendo em aramaico “Efatá!” que significa: “Abre-te”. Quem
vai abrir os ouvidos é a força da Palavra de Deus.
Testemunhar é preciso
“Jesus recomendou
com insistência que não contassem a ninguém, mas quanto mais recomendava, mais
eles divulgavam” (Mc 7,36). O mal podemos
ocultar, mas o bem, jamais conseguiremos. O homem curado anuncia. O testemunho
não se funda só numa vontade pessoal, mas nasce de uma união pessoal com
Cristo. No rito do Batismo temos essa cerimônia de tocar os ouvidos e a boca da
criança e dizer: “Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te conceda
que possas logo ouvir sua Palavra e professar a fé para o louvor e glória de
Deus Pai”. Somos batizados também para anunciar. A força vem de Cristo e conduz
para Ele. Não podemos anunciar a nós mesmos, nosso movimento, nossa teoria
espiritual ou teologia, mas sim, Jesus. Por outro lado, ninguém detém quem
conhece o Senhor. A força da pregação esta em ter sido tocado por Ele.
Surdos aos clamores sofridos
São Tiago
apresenta a solução prática para compreender e realizar o mesmo milagre de
Jesus. A fé cria um mundo novo. A primeira mudança que irá fazer é não
discriminar os pobres. A sociedade composta por classes, deve se tornar
fraterna, não fazendo acepção de pessoas. Não podemos ser surdos à multidão
sofredora. O povo proclama: “Ele tem feito bem todas as coisas: “Aos surdos faz
ouvir e aos mudos, falar” (Mc 7,37). “Ele
passou entre nós fazendo o bem, reconhece Pedro na casa de Cornélio” (At 10,38). Quem é curado por Jesus, isto é, tem
os olhos e os ouvidos abertos, mostrará este mundo novo, fazendo as obras de
Jesus. Deus cuida de seu povo através de nós. Acolher a Palavra é testemunhá-la
pela palavra e pela vida coerente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário