PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Vaidade
das vaidades
O
livro do Eclesiastes difere dos outros livros da Bíblia porque tem uma
filosofia diferente da hebraica. Mostra a fragilidade e a transitoriedade das
coisas. Por isso diz: “Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade”. Vê que tudo o que
se faz acaba em nada. “Toda a vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem
mesmo de noite repousa seu coração” (Ecl 1,23). Esse texto vem como comentário à Palavra de Deus
sobre o homem a quem Jesus chama de louco (Lc 12,20). O homem teve grande colheita e queria
aumentar os armazéns e aproveitar da vida. Na mesma noite ele se vai. Que
adiantou? Jesus conclui: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não é rico diante de Deus” (Lc 12,21). Os bens materiais são necessários, úteis e
importantes. Mas não devem ser a fonte da vida. Não se deve fazer do dinheiro
um deus. Isso é vaidade. O mal não é ter riquezas. Mas não saber usar. Há quem pense que, porque é rico, pode colocar Deus a
seu serviço, escravizar o irmão e abusar da natureza. Se vivermos a mensagem do
Evangelho não criaremos o desequilíbrio por causa dos bens. É absurdo é o fato
de alguns serem ricos sem se darem conta que são os pobres que trabalham para
ele. E continuam pobres e eles mais ricos. Lembramos também que tudo o que
temos não foi adquirido sem a participação de Deus. Por que deixar seus filhos
de fora. A vida é insegura. Só Deus é o fundamento seguro. Isso é o que
significa ser rico diante de Deus. Deus não inibe, mas promove a vida na qual
os bens materiais dão suporte aos espirituais e estes orientam a vivência dos
bens materiais.
Buscai
as coisas do alto
Ser batizado não é somente um rito, mas uma definição
por um modo de vida. Sem isso a fé perde o sentido. Fé e vida estão intimamente
unidas. São Paulo nos estimula a buscar
a coisas do alto. Este é o modo normal de viver de quem diz ter fé. Trata-se de
revestir-se de Cristo. Não exteriormente, mas interiormente gerando ações
coerentes. Pela opção por Cristo é preciso despojar-se do homem velho e de sua
maneira de agir fazendo o que pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão,
maus desejos e cobiça que é uma idolatria”. Basta olhar em volta que vamos ver
a desespero para ter coisas, o egoísmo , a insensibilidade e até burrice. Para
vencer os vícios é necessária a prática
das virtudes que anulam a vaidade. A parábola de Jesus é uma resposta ao homem
que lhe disse: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. E diz:
“Tomai cuidado contra todo o tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha
muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,13.15). Jesus
não entrou na questão do pedido do homem, mas diz que tudo deve ser resolvido
na dentro de um novo modo de vida.
Dai
ao nosso coração sabedoria
A
oração do salmo nos coloca nos lábios essa súplica: “Ensinai-nos a contar os
nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria”(Sl 89). A sabedoria é a ciência de Deus
encarnada em Jesus. Ele é a Sabedoria e nos dá a sabedoria do Evangelho para
sabermos discernir. Por isso rezamos também: “Saciai-nos de manhã com vosso
amor e exultaremos de alegria todo o dia”. Vemos que a sabedoria não é
mecânica, como algo material, mas é um relacionamento. Aprendemos “tocando” a
origem de todos os bens no diálogo amoroso da abertura para Deus e pela oração,
principalmente a Eucaristia que é a oração maior. Os anos “passam como o sonho
da manhã, são iguais à erva verde pelos campos. De manhã ela floresce
vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca”.
Leituras:Eclesiastes
1,2;2,21-23;Salmo 89;Colossenses 3,1-5.9-11; Lucas 12,13-21
1.
Diante da fragilidade dos bens materiais, o Eclesiastes
reflete sobre sua vaidade. Jesus ensina ser rico para Deus. Os bens são bons,
mas para produzir o bem.
2.
Paulo ensina a buscar as coisas do alto e despojar-se
do homem velho e seus vícios.
3.
O salmo nos convida a ter a sabedoria de Deus para ter os dias bem contados.
Burrice
não faz bem.
O
livro do Eclesiastes analisa a vida humana e mostra a fragilidade que vai a
desvarios porque se apóia na vaidade. Tudo é vaidade, diz o autor sagrado.
Jesus comprova essa verdade contando a parábola do homem que teve uma colheita
abundante. Para isso faz armazéns maiores e diz a si mesmo: “Tu tens uma boa
reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita”. Assim a vaidade
humana se junta à estupidez.
Mas o homem se esquece da dimensão
espiritual da vida. Deus lhe dá a resposta: “Louco! Ainda esta noite, pedirão
de volta tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” E Jesus faz a
conclusão do assunto: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si, mas não
é rico diante de Deus”
(Lc 12,20).
São Paulo apresenta o caminho para vivermos em meio a
todas as coisas boas do mundo sem nos perder: Buscar a vida do alto. Esta é a
vida de quem ressuscitou com Cristo. O caminho é reconhecer que “nossa vida
está escondida em Cristo” e nosso modo de viver é “despojarmo-nos do homem
velho e revestirmo-nos do
homem novo que se renova segundo a imagem de seu Criador” (Cl 3,1.3.9-10).
Vencidos os vícios através da prática das virtudes, podemos sair da vaidade.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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