Evangelho segundo S. Mateus 20,20-28.
Naquele
tempo, a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com os filhos e
prostrou-se para Lhe fazer um pedido.Jesus perguntou-lhe: «Que queres?». Ela
disse-Lhe: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino um à tua
direita e outro à tua esquerda». Jesus respondeu: «Não sabeis o que estais a
pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?». Eles disseram: «Podemos». Então Jesus declarou-lhes: «Bebereis do meu cálice. Mas sentar-se à minha
direita e à minha esquerda não pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem
meu Pai o designou». Os outros dez, que tinham escutado, indignaram-se com
os dois irmãos. Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das
nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu
poder. Não deve ser assim entre vós. Quem entre vós quiser tornar-se grande
seja vosso servo e quem entre vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo. Será como o filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e
dar a vida pela redenção dos homens».
Da Bíblia Sagrada -
Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja
Homilias
sobre os Evangelhos, n.º 35
«Bebereis do meu cálice»
Uma vez que hoje celebramos a festa dum
mártir, irmãos, devemos preocupar-nos com a forma de paciência praticada por
ele. Com efeito, se, com a ajuda do Senhor, nos esforçarmos por manter essa
virtude, obteremos sem dúvida a palma do martírio, ainda que vivamos na paz da
Igreja. Porque há dois tipos de martírio: o primeiro consiste numa disposição do
espírito; o segundo alia a essa disposição os atos da existência. Por isso,
podemos ser mártires mesmo sem morrermos executados pelo gládio do carrasco.
Morrer às mãos dos perseguidores é o martírio em ato, na sua forma visível;
suportar as injúrias amando quem nos odeia é o martírio em espírito, na sua
forma oculta.
Que haja dois tipos de martírio, um oculto, o outro
público, a própria Verdade o comprova quando pergunta aos filhos de Zebedeu:
«Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?» E à sua asserção, «Podemos», o
Senhor riposta: «Bebereis do meu cálice.» Ora, que pode significar para nós este
cálice, senão os sofrimentos da sua Paixão, da qual diz noutro sítio: «Pai, se é
possível, afasta de Mim este cálice» (Mt 26,39)? Os filhos de Zebedeu, Tiago e
João, não morreram ambos mártires, mas foi a ambos que o Senhor disse que haviam
de beber esse cálice. De facto, se bem que não viesse a morrer mártir, João
acabou todavia por sê-lo, já que os sofrimentos que não sentiu no corpo os
sentiu na alma. Devemos então concluir do seu exemplo que nós próprios podemos
ser mártires sem passar pela espada, se conservarmos a paciência da alma.
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