PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
A quem iremos?
Jesus é muito
claro que, quem quiser seguí-lo tem que fazer uma opção radical: “Se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Lc 9,23). Jesus, depois de mostrar sua
identidade como Pão do Céu, dando sua carne comida e seu sangue como bebida,
provocou a murmuração. Diziam: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60). Escandalizaram-se. Gostaram do pão
multiplicado pelo milagre, mas não foi suficiente para aceitarem a proposta de
crer nEle e tê-lo como alimento. Não bastam milagres para a fé. Se o homem
simples de Nazaré não era aceito, o que se dirá quando subir ao Céu? (v.62). Para acolher Jesus é preciso um ato de
fé nele, não nas aparências. É preciso tomar decisões por Jesus. E toda de
decisão se faz dentro das mesmas condições exigidas dos discípulos. Há sempre
um desafio a superar. Optamos por uma pessoa que tem um caminho a oferecer. Nem
sempre o caminho condiz com nosso modo de encarar as coisas. O convite à tomada
de decisão é a atração que Deus realiza em nós. Os apóstolos ficaram como que
envergonhados diante das palavras de Jesus. Torna-se, então, mais duro: “Não
quereis partir também?” (Jo 6,67). Ele não
precisa de nós quando queremos fazer uma fé a nosso modo. Pedro faz uma
declaração de opção por Jesus que nos anima a repetí-la: “A quem iremos,
Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos
que tu és o Santo de Deus” (v.68-69).
Pedro mostra como se crê: não em milagres, mas nEle que é o Milagre, a fonte da
vida. Podemos ter os mesmo sentimentos de recusa diante da Eucaristia, que é o
Corpo e Sangue do Senhor para a vida eterna. Se não negamos o mistério, nós o
negamos pelo modo como o tratamos. Mas a quem iremos, senão a Ele?
Escolher o Senhor é escolher o
irmão
Esse domingo, é o
domingo das escolhas. Josué reúne o povo em Siquém e convida-o escolher entre
servir ou não servir o Senhor; ou os deuses antigos ou o Deus que os libertou
do Egito (Js 241,18). Servir é aderir com
liberdade e alegria. Nós estamos sempre diante de muitos deuses que criamos e
diante de muitas possibilidades de escolhas. A escolha não pode ser somente por
um ato de fé distanciado da vida. Paulo mostra que a fé penetra os
relacionamentos humanos, como no caso do casamento (Ef
5,21-32). A conseqüência da fé é o amor. O modelo é Cristo, como amou
sua Igreja. Cremos em Jesus na comunidade Igreja e o realizamos no relacionamento
com os irmãos.
Relendo a própria história
Refletindo
o evangelho de hoje, nós pensamos em nossa história espiritual. Fizemos
escolhas em nossa vida. Podemos até pensar: já fomos melhores e mais fiéis. Na
verdade, não pioramos. A opção se tornou sempre mais clara e, por isso, mais
exigente. É preciso sempre voltar ao
primeiro amor, como escreve Oséias (Os
2,14), lembrando os dias em que o escolhemos como
razão de nossa vida. Lembrando as maravilhas que Deus realizou em nossa vida,
podemos reafirmar nossa opção fundamental e fazer escolhas condizentes. Cada
celebração é um momento de escolher o Senhor, como o faz Josué. A Eucaristia
nos distingue de outras religiões, pois não temos somente o alimento pão e
vinho para uma recordação espiritualizada. Nós cremos no Corpo e o Sangue do
Senhor que alimentam em nós a Vida Eterna e nos unem a nossos irmãos.
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