Evangelho segundo São Mateus 5,20-26.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus.
Ouvistes que foi dito aos antigos: "Não matarás; quem matar será submetido a julgamento".
Eu, porém, digo-vos: todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo.
Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta.
Reconcilia-te com o teu adversário enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão.
Em verdade te digo: não sairás de lá enquanto não pagares o último centavo».
Tradução litúrgica da Bíblia
(1786-1859)
Presbítero, Cura de Ars
Sermão para o segundo Domingo de Páscoa
A confissão prepara-nos para a Páscoa
Porque foi, meus irmãos, que a Igreja estabeleceu o tempo santo da Quaresma? Dir-me-eis que foi para nos preparar para celebrar com dignidade o tempo santo da Páscoa, que é o tempo em que Deus parece redobrar as suas graças e excita o remorso da nossa consciência para nos arrancar do pecado.
Examinemos a questão de mais perto. Para fazermos uma boa confissão, que nos reconcilie com Deus, temos de detestar de todo o coração os nossos pecados, não porque queiramos escondê-los de nós mesmos; mas temos de nos arrepender de ter ofendido um Deus tão bom, de ter permanecido tanto tempo no pecado, de ter desprezado todas as suas graças, com as quais nos incitava a sair dele. É isto, meus irmãos, que nos deve trazer lágrimas aos olhos e partir-nos o coração. Diz-me, meu amigo, se tivesses esta dor verdadeira, não te apressarias a reparar o mal que a causou e a voltar rapidamente à graça de Deus? Que dirias de um homem que se desentendeu com um amigo, mas que, reconhecendo a sua falta, se arrepende imediatamente: não tentará encontrar maneira de se reconciliar com ele? Se o amigo o abordar para esse efeito, não aproveitará a oportunidade? E se, pelo contrário, ele desprezasse tudo isso, não terias razão em dizer que não se importa de estar de bem ou de mal com essa pessoa? A comparação é sensata. Poderá uma pessoa que teve a infelicidade de cair em pecado, seja por fraqueza ou por surpresa, ou mesmo por malícia, se realmente se arrependeu, permanecer nesse estado por muito tempo? Não recorrerá imediatamente ao sacramento da Penitência? Suspiremos sem cessar pela nossa verdadeira pátria, que é o céu, nossa glória, nossa recompensa e nossa felicidade. É isto que vos desejo...
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