quarta-feira, 31 de maio de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Hoje nasceu um Salvador”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
O povo viu uma grande luz
 
“Quando o mistério é muito grande a gente não ousa desobedecer!” Escreve Saint-Éxupéry, no Pequeno Príncipe. Ali, no presépio, está o pequeno príncipe que ousou obedecer ao Pai e se fez pequenino. Eu me sinto perdido quando tenho que falar ou escrever sobre o Natal. Parece que não chego a perceber a grandeza do momento. Quando fui a Belém, na gruta do nascimento, vendo aquela estrela de ouro no chão e escrito em volta “aqui o Verbo se fez carne”, fiquei sem palavras. A única coisa que podia fazer era lembrar de todos que faziam parte de minha vida. Talvez este seja o único modo de reagir diante do mistério. O que cerca o nascimento de Jesus são os olhares silenciosos, mas brilhantes: os olhos de Maria, José, dos pastores, dos Magos. Viram a grande luz! Aquela mesma luz que viram os sofredores na noite da dor na Galiléia (Is 9,1); Noite dos pastores brilharam os Anjos cantando (Lc 2,9.13-14). S. Leão Magno, ao escrever as orações para o Natal fala da luz: “Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz...”. A luz traz a alegria, como a dos ceifadores após a colheita (2), dos libertados da guerra da opressão (3). Tudo porque nasceu o Menino; Ele é o príncipe da paz (5). A luz nos faz buscar um novo modo de vida porque a graça de Deus se manifestou (Tt 2,11-12). Essa luz invade o mundo, como rezamos no prefácio: “No mistério da encarnação de vosso Filho, nova luz da vossa glória brilhou para nós”. Essa luz é o Filho de Deus: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram ofuscá-la” (Jo 1,4-5). A fé é acolher Jesus. É o que fazemos na noite de Natal, vendo a humanidade, vejamos a divindade que não vemos (prefácio). 
Por que nascer assim 
Por que nascer assim tão pobre? O presépio é bonito. Tentemos ver o que era a realidade: Um restinho de gente, deitado num cocho, animais, simplicidade. Para nós é miséria. Melhor ouro. E que diferença faz para Deus? Deus o fez assim para que não houvesse nenhum obstáculo ao acolhimento. Nasceu do mundo dos pobres que eram quase a totalidade. Foi alistado como cidadão do mundo, no grande império romano, na Judéia. Jesus de Nazaré foi fichado como filho de José e Maria. ‘Como é o nome de seu filho’? Perguntaram: José respondeu: “Jesus!” Oculto o Filho de Deus no véu da carne. Jesus está na fila dos carentes de respeito, de vida, de amor. Ele veio para queimar as botas de assalto do inimigo do homem e queimar as roupas manchadas de sangue de tantas feridas (Is 9,4). 
Como são belos os pés que anunciam a paz! 

Os pastores foram acordados pela luz e animados pelos cantos de Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres por ele amados” (Lc 2,14). O Natal tem o sabor da paz e da amizade, da alegria, da troca de presente. Foi o que Deus fez conosco: “Acolhei, ó Deus, a oferenda da festa de hoje, na qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a vós nossa humanidade” (oração das oferendas). Estamos em paz com Deus. A liturgia etiópica canta: “O que vamos oferecer-vos? O céu deu a estrela; os anjos, seu canto; a terra, a gruta; os pastores, seus dons; os magos seus presentes. E nós: Nos oferecemos uma Virgem Mãe”. Com Ela entendemos o Natal e anunciamos a paz. Na liturgia de hoje, façamos parte do Natal com nosso coração. 
Leituras: 
Noite: Is, 9,1-6;Sl 95; Tt 2,11-14; Ls 2,1-14 - 
Aurora: Is 62,11-12;Sl 96;Tt 3,4-7;Lc 2,15-20 – 
Dia: Is 52,7-10;Sl 97;Hb 1,1-6;Jo 1,1-18 (cfr nota) 
1. No presépio vemos o pequeno príncipe que ousou obedecer. O presépio nos encante e emudece diante da frase: aqui o Verbo se fez carne. A reação diante do nascimento de Jesus é o silêncio amoroso. Basta olhar. Todos viram a luz. Luz que é alegria, libertação da opressão. A luz nos faz buscar um novo modo de vida. Uma nova luz brilhou. Acolhemos uma pessoa. Vendo a humanidade, contemplamos a divindade. 
2. A pobreza do presépio é a beleza de Deus. Deus não quis que houvesse obstáculo ao acolhimento, por isso o faz pobre. Ele faz parte da humanidade. Está na fila dos deserdados que são a maioria. 
3. Os pastores acordados pela luz são animados pelos cantos de Glória. O Natal tem sabor de paz, amizade, alegria, troca de presentes, como reza a oração das oferendas: Damos a Deus a humanidade e ele nos dá a divindade. Maria é nosso grande presente a Deus no Natal. 
Uma lâmpada ao vento
No vento dos séculos que correm velozes, dentro de uma história de uma humanidade sofrida e das convulsões, acende-se uma chamazinha num humilde canto da terra. Ali, uma criancinha repousa serena. Os ventos continuam mas não apagam a chama que o amor de Deus acendeu. O profeta anuncia que Ele acabará com todo o sofrimento. Paulo convida a apagar todo o fogo mau que está em nosso interior e deixar que Ele nos alumie na pratica do bem. Ele não é um conto de fadas. Nasceu num dia, dentro de um mundo que caminhava na sua história. Fez assim porque quer fazer história conosco. Ele está envolto por faixas. Um dia vai estar envolto nas faixas da morte, mas vitorioso, é nossa glória. Céus e terra se alegram. Anjos por todos os cantos cantam a Deus. O glória que soa eternamente no Céu. Nota: Por que temos três formulários no Natal? Roma tinha uma liturgia organizada para o Papa. Os que vinham de fora copiavam o que viam. Mesmo em Roma havia necessidades que passaram, e a liturgia continuou. O Papa, no Natal celebrava 3 missas: A primeira, meia noite, em S. Maria Maior, onde há uma suposta relíquia do presépio. Ao voltar para o Vaticano, passava na comunidade grega de Santa Anastácia que não tinha celebração do Natal (eram orientais e celebravam 6 de janeiro) e aí celebrava. Depois, celebrava na sua Igreja, S.Pedro, no meio dia. Assim ficaram os 3 esquemas. 
Homilia do Natal de Jesus Cristo (25.12.2009)

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