segunda-feira, 29 de maio de 2023

Nossa Senhora Auxiliadora, História da Invocação

     Nos primeiros séculos, a Santa Igreja, guiada pelo Espírito Santo, tratou com muita discrição tudo quanto se referia a Santa Mãe de Deus, para que Ela não fosse confundida com uma deusa por aqueles povos recentemente convertidos dos erros do paganismo.
     Ainda assim, há muitas evidências de uma devoção a Ela já nos primeiros séculos. Temos, entre muitos outros, um fragmento de uma oração dirigida a Ela, uma representação da Virgem com o Menino nas catacumbas de Priscila, em Roma, uma placa do século III representando a visita dos Reis Magos, um prato dourado do século IV retratando Maria SSma. e os Santos Apóstolos Pedro e Paulo (vide abaixo).
     As invocações com que os católicos a Ela se dirigem, honram e cultuam são inúmeras. A invocação de Auxilium Christianorum, entretanto, tem uma conotação especial: Ela é invocada e sempre intervém quando há uma batalha que parece pender para o lado dos inimigos da Cristandade. Poderíamos dizer que Ela é um General que sabe táticas de guerra...
     O primeiro Padre da Igreja que chamou a Virgem Maria de “Auxiliadora” foi São João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla no ano 345 em Constantinopla. Ele invocou o auxílio de Maria para enfrentar as invasões de búlgaros e tártaros, que punham em risco a Cristandade no Oriente. O santo disse: “Tu, Maria, é o auxílio potentíssimo de Deus”.
     Os primeiros cristãos na Grécia, Egito, Antioquia, Éfeso, Alexandria e Atenas costumavam chamar a Santíssima Virgem Maria de “Auxiliadora”, em grego é “Boeteia”, e significa “a que traz auxílios vindos do céu”. Também foi reconhecida com este nome por Proclus no ano 476. Em 518, o poeta grego católico Melone a Ela se refere desta forma. Em 532, São Sabas de Cesareia também assim se refere a Ela.
     No século 7, sendo imperador de Bizâncio Heráclio (575-641), o rei da Pérsia, Corroes II, que era zoroastrista, invadiu Bizâncio e sequestrou a Cruz de Nosso Senhor. O imperador ofereceu um acordo para que ele devolvesse a Santa Cruz. Corroes respondeu: “Eu só devolverei a Cruz quando os cristãos adorarem o fogo”. E invadiu Constantinopla.
     Constantinopla foi sitiada em 4 de agosto de 626 por mar e por terra. Depois de 3 dias, os barcos começaram a afundar, os cavalos a debandar, e os invasores fugiram espavoridos. Os habitantes da cidade atribuíram o triunfo a Panagia (“a totalmente Santa”) e um livro litúrgico católico oriental do século 8 diz que foi instituída a 1ª liturgia a Maria Auxiliadora para comemorar a libertação dos bárbaros, porque o milagre se deu quando os gregos imploraram o auxílio de Nossa Senhora.
     O imperador Heráclio organizou o exército, recuperou toda a Terra Santa, conquistou a Pérsia e chegou até a Índia. Quando voltou para Constantinopla, convocou o povo para comparecer a Catedral de Santa Sofia (atualmente nas mãos dos muçulmanos); ele subiu à cátedra e fez uma proclamação, dizendo que “foi Nossa Senhora que veio em nosso auxílio e fomos salvos por Ela”. Este milagre teve enorme repercussão no mundo oriental.
     No tempo em que os muçulmanos começaram a invadir a Terra Santa, invocaram-na São Sofrônio, arcebispo de Jerusalém, São João Damasceno (749) e Germano de Constantinopla em 773.
     Em 1030, a atual Ucrânia, então chamado Principado de Kiev, no tempo dos príncipes Medislau e Joroslau, foi invadida por povos de origem tártara. Kiev era uma cidade importantíssima e riquíssima, centro do mundo eslavo, russo. Esses invasores eram ferocíssimos, os príncipes os enfrentaram e os derrotaram. A derrota foi tão surpreendente, que os católicos decidiram erguer uma igreja dedicada a Nossa Senhora, numa porta chamada Porta de Ouro de Kiev. E consagraram o Principado de Kiev à “Rainha auxiliadora do povo ucraniano”. Foi o 1º povo que se consagrou oficialmente a Maria Auxiliadora. Uma festa litúrgica foi instituída, chamada a Prokof, para honrar Maria Auxiliadora e deu origem ao cântico akathistos que daquela região passou para a Alemanha e Áustria, que o cantam em alemão.
     Em 1476, o Papa Sisto IV deu o nome de “Nossa Senhora do Bom Auxílio” a uma imagem do século XIV-XV, que havia sido colocada em uma Capelinha, onde ele se refugiou, surpreendido durante o caminho com um perigoso temporal. A imagem tem um aspecto muito sereno, e o símbolo do “auxílio” é representado pela meiguice do Menino segurando o manto da Mãe.
     No Ocidente, a 1ª vez que se tem um ato solene em honra a Maria Auxiliadora é em 1558. Os turcos estavam atacando o Ocidente e os austríacos começaram a ter muita devoção a Maria Auxiliadora. Quando começaram as guerras de religião na Alemanha, sobretudo na Baviera, Nossa Senhora Auxiliador passou a ser honrada como padroeira da Baviera; havia uma imagem pintada por Lucas Granach, em Innsburg, era a devoção dos católicos em guerra contra os protestantes.
  No ano 1571, quando Selim I, imperador dos turcos, após conquistar várias ilhas do Mediterrâneo, lança seu olhar de cobiça sobre toda a Europa, o Papa Pio V, diante da inércia das nações cristãs, resolveu organizar uma poderosa esquadra para salvar os cristãos da escravidão muçulmana. Para tanto, invocou o auxílio da Virgem Maria para este combate.
     Em 1572, Nossa Senhora livrou prodigiosamente toda a Cristandade com a destruição de um exército maometano de 282 barcos e 88.000 soldados. Foram os próprios muçulmanos que relataram o aparecimento de uma Senhora terrível, que os pôs em fuga. O Papa São Pio V, depois da vitória do exército cristão sobre os turcos muçulmanos na Batalha de Lepanto, ordenou celebrar no dia 7 de outubro a festa do Santo Rosário e que nas Ladainhas fosse invocada “Maria Auxílio dos cristãos”.
     Em 1683, os turcos atacaram Viena durante o pontificado de Inocêncio XI. Sob o comando do rei da Polônia, João Sobieski, com um exército inferior derrotou o exército turco confiando na ajuda de Maria Auxiliadora. Pouco tempo depois, fundaram a Associação de Maria Auxiliadora, que atualmente está em mais de 60 países.
     A história do estabelecimento da festa de Nossa Senhora Auxiliadora remete há alguns anos depois da Revolução Francesa, a qual havia infringido um grande golpe à Igreja: ela só foi instituída em 1816, pelo papa Pio VII, a fim de perpetuar mais um fato que atesta a intercessão da Santa Mãe de Deus.
     O imperador Napoleão, cuja ambição não respeitava lei nem tradição, dedicava ódio ao Papa Pio VII, por ter-se negado a declarar inválido o matrimônio de Jerônimo, irmão de Napoleão.
     Em 1809empenhado em dominar os estados pontifícios, sob um pretexto mentiroso, Napoleão mandou que o general Miollis ocupasse Roma e em nome do Imperador declarasse: “Sendo eu imperador de Roma, exijo a restituição dos Estados Eclesiásticos, doação de Carlos Magno; declaro findo o Império do Papa”. Pio VII protestou contra esta arbitrariedade injustíssima e lançou a excomunhão de Napoleão.
     A bula da excomunhão foi por ordem do Papa afixada na porta da catedral de São Pedro, na noite de 10 para 11 de junho de 1809. Às 2:00 horas da madrugada, o general Radet penetrou no palácio do Quirinal, onde encontrou o Sumo Pontífice revestido das insígnias papais. O imperador francês mandara sequestrar o Vigário de Cristo, levando-o para a França. 
    Napoleão tinha dado ordem que fossem retiradas da companhia do Papa todas as pessoas de confiança dele, até o confessor; foi-lhe impossibilitado o uso do Breviário e a mesa era-lhe a mais frugal possível. Tudo isto para intimidar o espírito do Papa e quebrar-lhe a resistência. Os maçons e inimigos da Igreja rejubilaram com a vitória sobre o Papado, e seus órgãos já falavam do último Pio.
     Pio VII, porém, cheio de confiança, entregou a causa à Providência Divina e a Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia, e fez o voto de fazer uma solene coroação da imagem de Nossa Senhora de Savona. O que muito contribuiu para aumentar os sofrimentos morais do Sumo Pontífice, foi a atitude duvidosa de cardeais italianos e franceses, que mostravam mais empenho em não cair no desagrado de Napoleão, do que em defender os interesses da Santa Igreja.
     Em 1812 Pio VII foi levado a Paris. Embora muito doente, teve de seguir viagem, já de si penosíssima, transformada em verdadeiro martírio, pelas circunstâncias em que foi feita. Sem a menor comodidade, foi o representante de Cristo tratado como um criminoso perigosíssimo. Seu estado de saúde piorou de tal maneira, que lhe foram ministrados os últimos sacramentos. Ainda assim os algozes não tiveram compaixão do venerando ancião, que só chegou vivo a Fontainebleau, em Paris, por uma proteção especial do céu.
     Santo Padre ficou cativo na França por cinco anos, primeiro em Savona e depois em Fontainebleau, sofrendo toda espécie de humilhações.
     Mas, as preces do Papa foram ouvidas. Uma vez fracassado, Napoleão cedeu à opinião pública e libertou o Papa, que cumpriu sua promessa. No dia 24 de maio de 1814, Pio VII entrou solenemente em Roma. Os bens eclesiásticos foram restituídos. Napoleão viu-se obrigado a assinar a abdicação no mesmo palácio onde aprisionara o velho pontífice.
     Em 1815, quando a Igreja tinha recuperado a sua posição e poder espiritual, o Papa instituiu a festa de Nossa Senhora Auxiliadora no dia 24 de maio, para perpetuar a memória do seu retorno a Roma depois do seu cativeiro na França.
     Em 1837, devido ao movimento cristão em busca dos favores e bênçãos de Nossa Senhora e de seu Divino Filho, o Papa Gregório XVI deu-lhe o nome de “Auxiliadora dos Cristãos”. O Papa Pio IX também se inscreveu no movimento e diante da bela imagem ele celebrou a Missa de agradecimento pela sua volta do exílio de Gaeta. Mais tarde também foi criada a “Pia União de Maria Auxiliadora”, com raízes em um bonito quadro alemão.

Batalha de Lepanto (1572)
Maria Auxiliadora apareceu a São João Bosco

     No século 19, São João Bosco foi o grande propagador do amor a esta devoção mariana. Mas ouçamos do próprio Dom Bosco o relato de um “sonho”, tido em 1844, quando andava ainda à procura de uma sede estável para o seu oratório.
     A Senhora que lhe apareceu, diz-lhe: “Observa. – E eu vi uma igreja pequena e baixa, um pequeno pátio e jovens em grande número. Recomecei o meu trabalho. Mas tendo-se esta igreja tornado pequena, recorri a Ela outra vez e Ela me fez ver uma outra igreja bastante maior com uma casa vizinha. Depois, conduzindo-me a um lado, a um pedaço de terreno cultivado, quase em frente da fachada da segunda igreja, acrescentou: “Neste lugar onde os gloriosos Mártires de Turim Aventor, Solutor e Octávio ofereceram o seu martírio”.
     Em 1860, a própria Virgem Maria apareceu a ele e assinalou o lugar em Turim (Itália) onde queria que fosse construído um templo em sua homenagem. Do mesmo modo, pediu para ser homenageada com o título de “Auxiliadora”.
     Entre 1860-1862, nestes momentos particularmente críticos para a Igreja, vemos que D. Bosco toma uma opção definitiva pela “Auxiliadora”, título em que ele decide concentrar a devoção mariana por ele oferecida ao povo. E justamente em 1862, ele tem o “Sonho das Duas Colunas” e no ano seguinte seus primeiros acenos para a construção do célebre e grandioso Santuário de Maria Auxiliadora.
     Dom Bosco desde pequeno aprendera com sua mãe Margarida a confiar inteiramente em Nossa Senhora; ao falar da Mãe de Deus, acrescentou o título Auxiliadora dos Cristãos, para perpetuar o seu amor, a sua gratidão para com Nossa Senhora e ficasse conhecido por todos e para sempre que foi “Ela (Maria) quem tudo fez”.
     Pio IX, então cabeça da Igreja, manifestou-se logo a favor de uma devoção pessoal para com a Auxiliadora e quando este sofrido Pontífice esteve no exílio, o nosso Santo lhe enviou 35 francos, recolhidos entre seus jovens do oratório. O Papa ficou profundamente comovido com esta atitude e conservou uma grande lembrança deste gesto de afeto de D. Bosco e da generosidade dos rapazes pobres.
     Em 1863, São João Bosco começou a construção da igreja com alguns centavos, mas com a intercessão da Santíssima Virgem Maria, em 9 de junho de 1868, apenas 5 anos depois, foi realizada a consagração do templo.
     O Papa Pio IX fundou, no Santuário de Turim (Itália), dia 5 de abril de 1870, uma Arquiconfraria, enriquecendo-a de muitas indulgências e de favores espirituais. No dia 17 de maio de 1903, por decreto do Papa Leão XIII, foi solenemente coroada a imagem de Maria Auxiliadora, que se venera no Santuário de Turim.
     O Santo costumava dizer: “Cada tijolo deste templo corresponde a um milagre da Santíssima Virgem Maria”. A partir daquele Santuário, começou a espalhar pelo mundo a devoção a Maria sob o título de Auxílio dos Cristãos.
     Se a devoção de Nossa Senhora Auxiliadora tomou novo incremento na Igreja Católica, é também devido a este grande Santo dos nossos dias, que deu a Deus e a Igreja duas congregações: a Pia Sociedade de São Francisco de Sales (Salesianos) e a das Filhas de Maria Auxiliadora (esta última por ele fundada juntamente com Santa Maria Domingas Mazzarello), ambas destinadas à educação cristã da mocidade, pregação do Reino de Deus entre os pagãos, à caridade de Cristo em suas diversas modalidades. Ambas trabalham e se santificam sob a égide de Maria Auxiliadora.
ORAÇÃO À NOSSA SENHORA AUXILIADORA
(Composta por São João Bosco)
     Ó Maria, Virgem poderosa,
     Tu, grande e ilustre defensora da Igreja;
     Tu, auxílio maravilhoso dos cristãos;
     Tu, terrível como exército ordenado em ordem de batalha;
     Tu, que só destruíste toda heresia em todo o mundo.
     Ah! nas nossas angústias, nas nossas lutas, nas nossas aflições, defende-nos do inimigo; e, na hora da morte, acolhe a nossa alma no Paraíso.
     Amém.
Frases de São João Bosco
     “Nossa Senhora deseja que a veneremos com o título de AUXILIADORA: vivemos em tempos difíceis e necessitamos que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a fé cristã”, disse Dom Bosco ao clérigo Cagliero
     “São estes os motivos que temos para sermos devotos de Nossa Senhora: Maria é a mais santa entre as criaturas, Maria é a Mãe de Deus, Maria é a nossa mãe”.
     “Quem confia em Maria nunca ficará desiludido”.
      “Maria Auxiliadora obteve e obterá sempre graças particulares, até extraordinárias e miraculosas, para aqueles que ajudam a dar educação cristã à juventude em perigo, com as obras, com o conselho, com o bom exemplo ou simplesmente com a oração”.
      “Estamos neste mundo como num mar tempestuoso, como num exílio, num vale de lágrimas. Maria é a estrela do mar, o conforto do nosso exílio, a luz que nos indica o caminho do céu enxugando as nossas lágrimas”.
      “Amai, honrai, servi Maria. Procurai fazê-la conhecer, amar e honrar pelos outros. Nenhum filho que tenha honrado esta mãe morrerá e poderá aspirar a uma grande coroa no céu”. “É quase impossível ir ter com Jesus se não se vai por meio de Maria”.
     “A Virgem domina num mar de luz e majestade. Está rodeada de uma multidão de Anjos que a homenageiam como rainha. Na mão direita segura o ceptro, que é símbolo do seu poder; na mão esquerda segura o Menino que tem os braços abertos, oferecendo assim as suas graças e a sua misericórdia a quem recorre à sua augusta Mãe”.
Fontes:

    No ano de 1927 foi encontrado no Egito um fragmento de papiro que remonta ao século III. Nele estava escrito: “À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”. Esta oração conhecida com o nome “Sub tuum praesidium” (À vossa proteção) é a mais antiga oração a Nossa Senhora que se conhece e é de uma excepcional importância histórica pela explícita referência ao tempo de perseguições dos cristãos (“livrai-nos de todo perigo”) e uma particular importância teológica por recorrer à intercessão de Maria invocada com o título de Theotokos (Mãe de Deus). Já no século II este título, o mais belo e importante privilégio da Virgem Santíssima., era dirigido à Maria e foi objeto de definição conciliar em Éfeso no ano de 431.

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