Evangelho segundo São Lucas 10,13-16.
Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!
Porque, se em Tiro e em Sidónia se tivessem realizado os milagres que em vós se realizaram, há muito tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre a cinza.
Assim, no dia do Juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sidónia do que para vós.
E tu, Cafarnaum, serás elevada até ao céu? Até ao inferno é que descerás.
Quem vos escuta, escuta-Me a Mim; e quem vos rejeita, rejeita-Me a Mim. Mas quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou».
Tradução litúrgica da Bíblia
(1447-1510)
Leiga, mística
O livre arbítrio
Consentir na conversão
Deus alenta o homem a levantar-se do pecado, ilumina-lhe a inteligência com a luz da fé, e a seguir, por meio de um certo gosto e deleite, abrasa-lhe a vontade. Tudo isto realiza Deus num instante, se bem que nós o descrevamos com muitas palavras e o situemos num intervalo de tempo.
Deus produz esta obra com maior ou menor intensidade, de acordo com o fruto que prevê obter. A todos é dada luz e graça, a fim de que, fazendo cada um o que estiver a seu alcance, possa salvar-se pelo simples facto de consentir. Este consentimento dá-se do seguinte modo: quando Deus realiza a sua obra, basta que o homem diga: «Estou contente, Senhor, fazei de mim o que quiserdes; estou decidido a nunca mais pecar e a deixar, por vosso amor, tudo o que há no mundo».
Este consentimento e este movimento da vontade dão-se sempre que a vontade do homem se une à de Deus sem que ele próprio se aperceba disso, tanto mais que tal acontece em silêncio. O homem não vê o consentimento, mas experimenta uma sensação interior que o leva a dar-lhe continuidade. Nesta operação, sente-se tão fervoroso que fica espantado e estupefacto, mas sem conseguir desviar-se. Por esta união espiritual, o homem liga-se a Deus com um laço quase indissolúvel, porque, depois de o homem ter consentido, Deus faz quase tudo: rege-o e condu-lo à perfeição à qual o destinou.
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