quinta-feira, 29 de setembro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Combate o bom combate da fé”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Mundo de opostos
 
Jesus continua ensinando os discípulos. Lucas, o evangelista dos pobres, apresenta claramente a situação da comunidade na qual vivia: pessoas muito pobres e ricos em exagero. Escreve: “Havia um homem rico que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias” (Lc 16,19). É um ambiente de classe alta em meio a um mundo de pobres. Esse ambiente é o mesmo descrito pelo profeta Amós, que acrescenta a despreocupação que têm com a “ruína do povo”, no caso a destruição da nação: “Os que dormem em camas de marfim... comendo cordeiros do rebanho... os que cantam ao som das arpas... bebem vinho em taças e se perfumam com finos unguentos” (Am 6,4-6). O profeta faz ameaças graves: serão levados para o exílio, na primeira fila, e o bando dos gozadores da vida será desfeito (7). Jesus completa a ameaça com um castigo maior: “O rico, na região dos mortos, no meio dos tormentos, levantou os olhos e viu de longe a Abraão com Lázaro a seu lado”. O fim não é bom. Lucas mostra também os empobrecidos: “Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, os cachorros vinham lamber suas feridas” (Lc 16,20-21). Aqueles ricos vivem sem temer a Deus. Temer a Deus não é ter medo de um inferno, mas saber acolher a Deus em sua santidade e preocupar-se com o povo sofredor. O profeta e Jesus mostram quanto é fútil e inútil esse tipo de vida. Não que os bens sejam um mal, mas que o mal está em não saber viver os bens. O pobre está ferido no corpo e em sua dignidade.
Contrastes da fé 
O pobre é desconhecido pelas pessoas, mas reconhecido por Deus, pois o próprio nome Lázaro significa Deus ajuda. Deus fez opção pelo pobre, tanto que ele é levado para o Céu, e o rico para o inferno. Seio de Abraão significa o Céu, a intimidade com Deus. O modo de falar absoluto, um para o Céu e outro para o Inferno, é um modo hebraico de se dizer pelos extremos. Mas permanece o contraste da vida: Deus não quer a pobreza, como não quer que se viva na abundância, esquecendo-se dos empobrecidos, sobretudo quando são eles vítimas de uma política econômica de exclusão. Não podemos esquecer que não somos donos do mundo, somos administradores dos bens de Deus para o bem de todos. O profeta descreve como viviam os ricos na Samaria, não se preocupando com a situação do país, das pessoas. Jesus não fala de modo geral, mas particular. A vida após a morte levará a consequência de nosso presente. Aqui se planta, lá se colhe. Jesus anota que há algo de definitivo. O rico insiste em ter uma gota d’água para molhar a garganta. Impossível, pois não há comunicação de vida entre a situação de condenação e salvação. Há algo de definitivo em nossas opões de vida. 
Um caminho seguro 
O rico da parábola insiste que Abraão avise sua família sobre sua situação de condenação. E que evitem ir para lá. Abraão lhe diz que, mesmo que um morto apareça, não haverá conversão. A conversão se faz pela escuta da Palavra de Deus (Lc 16,23-31). Paulo insiste com Timóteo que combata o bom combate da fé, conquiste a vida eterna... pela qual fez a nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas (1Tm 6,12). A riqueza que produz fruto é a dá fé que dará sentido e valor a qualquer outro poder, riqueza e abundância. A fraternidade é o caminho seguro para não chegarmos ao que chegou o rico. 
Leituras: Amós 6,1ª,4-7; Salmo 145;
1Tm 6,11-16; Lucas 16,19-31 
1. Jesus instrui os discípulos. Lucas, evangelista dos pobres, mostra a situação da comunidade que tem muitos pobres e ricos exagerados. Amós, no ano 700 a.C., critica a classe alta pelo exagero de sua vida sem se preocupar com a ruína do povo. Jesus toca no mesmo assunto com a parábola do rico e do pobre Lázaro. O profeta e Jesus mostram como é fútil e inútil essa vida. 
2. Deus não quer a pobreza nem a riqueza inútil que se esquece dos empobrecidos. Não somos donos do mundo, mas administradores. Os dois morrem. Lázaro vai para o Céu e o rico para o Inferno. É definitivo. Vira-se o quadro. De lá um socorro é impossível. 
3. Pede que vá avisar a família para não ir para lá. Mas, o que converte o coração não são defuntos que voltem, mas a conversão pela escuta da palavra de Deus. Por isso Paulo insiste com Timóteo que combata o bom combate da fé. A riqueza que produz fruto é a da fé que dará sentido e valor a qualquer outro poder. Fraternidade é o caminho. 
Deixa estar jacaré! 
Não querendo ofender os bichinhos, podemos compreender que a parábola do rico Epulão e do pobre Lázaro mostra-nos o quanto a riqueza é prejudicial. Logicamente que é ótima para muita coisa. O que acontece é que se esquece de um pequeno detalhe: somos administradores dos bens de Deus e não donos. E o que se tem é para frutificar. O profeta Amós (mais de 700 anos antes de Cristo) já fazia críticas aos ricos que se divertiam e não viam o sofrimento do povo. E pagaram caro. Deus vai cuidar dos necessitados através dos bens que nos dá. A coisa pode se repetir. O rico, lá do inferno, grita para Lázaro socorrê-lo. Mas já é tarde. Então avise minha família!, Grita ele. Abraão diz que nem que um morto vá lá vão se converter. Só se converte ouvindo a Palavra de Deus e colocando em prática. Ser rico é bom, mas é preciso ser sábio. Não só ter a inteligência da riqueza, mas a sabedoria da vida. 
Homilia do 26º Domingo Comum
EM SETEMBRO DE 2007

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