Temos refletido sobre a espiritualidade a partir da comunidade, Corpo de Cristo. Apesar de estarmos muito unidos a Cristo, como membros de seu corpo, não podemos deixar de lembrar que estamos em contínuo processo de conversão. Esta é a arma mais eficaz para a santificação. Todos precisam converter-se. A conversão é a condição espiritual de quem vive a fragilidade da carne. Ser frágil não é uma coisa má, pois Jesus participou dessa fragilidade, menos no pecado (Hb 4,14). É uma luta permanente e exigente, mas não desesperadora. A carta aos Hebreus escreve que ainda não resistimos até o sangue em nosso combate contra o pecado (Hb 12,4). A conversão exige um permanente esforço para corresponder a Cristo que é Vida e Evangelho. Conversão é revestir-se desse homem novo, feito à imagem de Cristo crucificado e ressuscitado, de modo que se purifique todo nosso modo de julgar e agir. Revestir-se não significa pôr uma roupa, mas transformar-se sempre mais na pessoa de Cristo, para ser criatura nova. Nós nos convertemos dos pecados íntimos que, mesmo sendo ocultos, atingem a vida de todo o corpo tirando-lhe o vigor. Nós nos convertemos de nossos pecados sociais que fazem sofrer os membros de Cristo, sobretudo os pobres. A justiça social não é política, é um profundo processo de espiritualidade, pois fere Cristo em seus membros mais frágeis que são os pobres. Nós nos converteremos no modo de ser Igreja, pois essa comunidade precisa rever seu modo de vida, seus métodos, suas dinâmicas para corresponder sempre mais ao Evangelho. Até mesmo as estruturas físicas, bem-estar, devem ser convertidas para serem sinais mais eficazes de Cristo, que se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza. Os bens da Igreja são dos pobres, somos apenas administradores, dizia S. Afonso.
Saber perder para ganhar
O processo de conversão passa pela abnegação. Essa palavra tem um mau conceito, significando destruição da pessoa humana. Contudo, ela tem seu lado positivo: despojar-se do que nos impede de crescer. Ela elimina o egoísmo e abre livre e largamente os corações aos outros. É preciso sair do domínio do mal, deixar de ser escravo de vícios para ser filho livre e praticar o bem. Saindo de si mesmo, vencendo o egoísmo cresce o amor fraterno. Todos ganham. Sair de si para se dedicar aos outros, no serviço humilde e desinteressado.
Maior conversão
Toda a vida cristã deve ser marcada pela conversão do coração. Ali, como chamamos, é a sede de nosso encontro com Deus. O coração revestido de Cristo estará cheio de Deus. Essa é a maior conversão: uma vida plena de Deus. É a vida em abundância. Deus é fonte e destino de tudo o que somos e temos. Isso nós realizamos como Corpo de Cristo, como comunidade. A ação do Espírito em nós realizará profundamente aquilo que suplicamos em cada missa: “Nós vos suplicamos que participando da comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, possamos ser reunidos pelo Espírito em um só corpo”. Estando unidos a Cristo pelo Espírito, nós estamos no coração da Trindade Santa. Nós vivemos uma comunidade que tem somente a característica social. É um grupo, uma Igreja. Não vemos, mas se realiza imensamente essa “Koinonia” – Comunhão que supera qualquer laço social de amizade. Ela é comunhão divina. Para isso é que nos convertemos. Certamente que se exige a conversão do que impede o crescimento da vida divina em nós. Jesus diz: Convertei-os e crede no Evangelho (Mc 1,15)
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM SETEMBRO DE 2007
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