Evangelho segundo São Lucas 9,57-62.
Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos iam a caminho de Jerusalém, quando alguém Lhe disse: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores».
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas, e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».
Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o Reino de Deus».
Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família».
Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o Reino de Deus».
Tradução litúrgica da Bíblia
São Francisco de Assis (1244)
Sacrum commercium, 22
«O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça»
Ó Senhora Pobreza, o Filho do Pai soberano enamorou-Se da tua formosura (cf Sab 8,2), sabendo que serias a mais fiel das companheiras. Antes de Ele descer da sua pátria luminosa, tu preparaste-Lhe um lugar conveniente, um trono para Se sentar, um leito para descansar: a paupérrima Virgem de quem nasceu. Estiveste à sua cabeceira desde o princípio: foi reclinado «numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,7). E acompanhaste-O enquanto viveu neste mundo: «As raposas têm as suas tocas, e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Quando começou a ensinar, depois de ter deixado os profetas falarem em seu nome, foi a ti que primeiro elogiou: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu!» (Mt 5,3).
Depois, ao escolher alguns amigos como suas testemunhas para a salvação da humanidade, não foi por comerciantes ricos que optou, mas por modestos pescadores, para a todos mostrar que a estima que te tem, Senhora Pobreza, devia gerar amor por ti. Por fim, como se fosse necessária uma prova gloriosa e definitiva do teu valor, da tua nobreza, da tua coragem e da tua proeminência sobre as outras virtudes, foste a única a manter-te ligada ao Rei da glória, enquanto os amigos escolhidos O abandonaram.
Companheira fiel e terna amante, nem por um instante O deixaste; a Ele foste ficando cada vez mais ligada ao vê-lo mais e mais universalmente desprezado. Tu foste a única a consolá-lo, não O deixando até à morte, «e morte de cruz» (Fil 2,8), nu, de braços abertos em esforço, as mãos e os pés trespassados por pregos, de tal forma que nada Lhe restava da sua glória para além de ti.
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