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| PADRE WALMIR GARCIA DOS SANTOS CSsR |
Renata Siqueira: Santa Tereza do Menino Jesus disse que a santidade não consiste simplesmente em seguir os mandamentos, mas em aumentar o amor para com Deus. Para ser santo é preciso progredir no amor, e este, por sua vez, cresce quanto maior e mais frequente é a oração que se faz. Gostaria de ouvir o seu comentário.
O amor produz em nós transformações. Quem ama quer o bem do outro; quem ama não trai a confiança; quem ama tem esperança é feliz e tudo isso significa santidade: querer o bem, ser fiel feliz e esperançoso. Sta. Terezinha disse muito bem, pois quando amamos a Deus expressamos isso através de um diálogo confiante com Ele (oração) e nos damos bem com os outros.
Luzy Reis: É possível ser religioso sem ser espiritualizado?
Creio que não, pois a religião é espiritualização. Não creio ter condições de uma coisa andar sem a outra. A espiritualidade é a essência da religião.
Paula Aranha: Por que os protestantes não acreditam na santidade se a Bíblia deles é a mesma nossa?
Eles acreditam na santidade, mas não acreditam nos santos, como nós católicos. Não creem na interseção dos santos e também na comunhão dos santos com Deus. Eu penso que eles não creem como nós por causa da forma de interpretação diferente que têm da Bíblia.
Coraci Miguel: É verdade que o pecado foi inventado pelos anjos que viraram demônios? E como alguém que é anjo pode se tornar mau?
O pecado não é uma invenção, mas uma consequência da desobediência a Deus, desobediência das suas orientações para que a pessoa humana viva feliz. A questão dos anjos decaídos é uma tentativa de explicar a existência do demônio (Lúcifer = anjo de luz, que se revoltou contra Deus).
Verônica Matias: O que significa a palavra transverberação?
É uma experiência profunda que se manifesta através de algo que perpassa a vida, ou o corpo, da pessoa que a tem. Sta. Tereza D’Avila, S. Francisco de Assis, S. Pio de Pietralcina entre outros, tiveram essa experiência. Sta. Tereza teve a sensação de que um lança atingia o seu coração, como também São Pio, São Francisco teve a experiência das chagas de Cristo. Enfim, é uma experiência do amor de Deus a atingir a pessoa.
José Douglas: Deus está em todo lugar, sabe de tudo e tem todo o poder porque é Deus. E a Virgem Maria, para atender a todos os pedidos, teria de estar em todos os lugares também? E os santos? E satanás?
Oniciência, onipresença e onipotência são características só de Deus. Os seres espirituais não tem um lugar determinado, pois são espíritos e espírito não ocupa um espaço e nem tem o tempo cronológico como o nosso, por isso podemos rezar em qualquer lugar pedindo a interseção dos santos.
Não identificada: Minha vizinha deu à luz sua primeira filha. Ela nasceu com problemas de audição. Infelizmente nunca vai poder ouvir. A mãe não consegue se conformar. Como poderíamos ajudá-la? Ela sempre foi tão fervorosa! Mas, nesta situação, sua fé não foi forte o bastante.
Sei que não é fácil para uma mãe descobrir uma deficiência do filho, mas com o tempo ela aceitará com mais tranquilidade. Filho é filho, deficiente ou não deve ser amado e assumido com serenidade. A surdez irá limitar um pouco, mas ela deve procurar ajuda para uma melhor comunicação com sua filhinha.
Maria do Carmo: Acho que estamos muito longe de viver o “amor doação”. Porque na maioria das vezes, o amor que sentimos ainda é um amor de dono para escravos. Um amor sinônimo de posse. Concorda?
Sentimento que expressa dominação não é amor, pois o amor não é possessivo, amor é querer bem ao outro, é doar-se sem medida à pessoa amada. É deixar o outro livre, pois que ama confia, tem segurança.
Poliana Gonçalves: É correto procurar respostas para tudo na Bíblia?
Sim, é errado, pois a Bíblia não é um livro de respostas para problemas; não é um livro de consultas, mas um livro de revelação divina. Nele nós devemos procurar a vontade de Deus e sua atuação ao longo da história da Salvação.
Não identificada: Minha filha e meu genro, apesar de serem católicos, se recusam a batizar meu neto enquanto bebê. Eles querem seguir as regras do tempo de Jesus, ou seja, batizá-lo adulto. Tem algum problema?
Eles são livres para fazer isso, mas se querem seguir a prática batismal dos primórdios da Igreja, eles deveriam batizá-lo ainda como criança, pois era costume batizar as crianças, junto com os pais, ou seja, a família era batizada. Não se pode dizer que existia regra para batismo na época de Jesus, pois em sua época não se batizava. O batismo foi instituído posteriormente, já na época da pregação dos apóstolos. Jesus recebeu um batismo, que não é o batismo cristão, ele recebeu um batismo praticado por João, o Batista, que era um batismo de conversão, de preparação para a vinda do Messias.
Vânia Milhomen: Existem pessoas que escolhem a vocação sacerdotal desde criança, mas alguns, quando começam os estudos para tornarem padres, acabam descobrindo que não era aquilo que queriam. Mesmo já sendo padres, alguns renunciam. Existe uma maneira mais eficaz de saber com certeza, se tem vocação ou não?
Não existe uma maneira definitiva de saber se uma pessoa tem ou não vocação, à medida da maturidade a pessoa pode descobrir outro modo de viver, de expressar sua vocação. Isso acontece em todos as formas de viver, seja como casado, seja como no exercício de qualquer profissão.
Edinalva Ferreira: O que é um crime canônico?
É um crime contra as leis da Igreja, o Código de Direito Canônico (CDC. A sociedade civil é regida pelo Código de Direito Civil e a Igreja pelo CDC.
Helena Aparecida: O senhor acha que bom humor depende mais das circunstâncias do que da personalidade da pessoa? Jesus Cristo teria sido uma pessoa bem humorada?
Eu tenho certeza que Jesus era um homem bem humorado, pois era bem resolvido. Bom humor depende da opção que uma pessoa faz de sua vida, se ele quer ser feliz expressa isso pelo bom humor, se quer viver infeliz, escolhe viver “emburrado”, fechado em si mesmo.
Jordina Cândida: No primeiro mandamento que diz que devemos amar a Deus sobre todas as coisas, implica que devemos amar a Deus também no próximo, que é nosso irmão. Para isso devemos então amar a todos e perdoar todos. Gostaria de entender melhor porque um padre foi afastado da Igreja por ter somente abençoado um casal de gays. Se todos somos igualmente filhos de Deus, porque então a nossa igreja exclui determinadas pessoas? Que igreja é essa que tem tantos problemas e ainda se acha no direito de julgar?
Engraçado, e você está julgando a igreja! Com que direito faz isso? Todas as instituições têm suas normas, inclusive a Igreja Católica, têm suas normas, suas leis baseadas na Sagrada Escritura. O padre a que você se referiu não foi afastado da Igreja, por enquanto ele está suspenso de suas atividades, para que o processo canônico siga seu curso. Ele desobedeceu a uma lei e toda desobediência trás uma punição, é assim que funcionam as coisas. Não é “só” porque abençoou um casal de gays, mas porque ele fez algo contra a natureza da religião. Com isso a Igreja não está excluindo pessoas, mas apenas não fazendo o que a sociedade pode achar que é normal. Não podemos simplesmente achar que tudo agora é permitido e que tudo se pode fazer. Pense bem no que você falou e questionou, pois se formos pensar assim não podemos incriminar ninguém por crimes cometidos, cada um terá sua justificativa. O próprio Jesus pegou no chicote para expulsar do Templo os que faziam da casa de Deus uma casa de comércio, e ele não discriminou ninguém.
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