PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 53 ANOS CONSAGRADO 46 ANOS SACERDOTE |
Ao discorrer sobre a oração, os livros sempre trazem tanta coisa bonita, tanta teologia e tanta elevação que a gente acaba por dizer: “acho que não sei rezar”. De fato, não fomos formados para a oração. O que sobra, então, se não temos uma oração bem esclarecida? Sobra nossa oração frágil, mas cheia de confiança, muito pequenina, como as crianças que chegam desmanchadas em lágrimas por um dedinho que bateu em qualquer lugar. Aí se dá um beijinho e diz que passou. Creio que a oração tem muito de pequenino. Penso que Deus, quando ouve nossos solenes discursos com palavreado chic, diz olhando de lado: de quem é que estão falando? Certamente são orações de grandíssimo valor, que diante de Deus serão também como o dedinho que bateu e provocou tantas lágrimas. Podemos perguntar: podemos rezar pedindo coisas materiais, como por exemplo, um dinheirinho a mais, a solução de um problema concreto de trabalho, estudo, negócios, cura de doenças, livrar-nos de apertos e até de complicações, até conquistar o amor difícil. A oração não se mede pela casca mas pelo conteúdo de nosso diálogo com Deus e Sua presença em nós. Aliás, a oração pedindo coisas materiais mostra-nos que até nas coisas materiais queremos depender de Deus. O salmo reza: “Este infeliz clamou e Deus o ouviu e de todos os temores o livrou” (Sl 34,6). Certamente que este é um nível necessário da oração. Devemos continuar aprendendo a entrar em diálogo com Deus sempre em maior profundidade. Não nos esqueçamos de agradecer quando as coisas dão certo. E mesmo quando algo não dá certo é preciso dizer: Deus sabe o que faz. Será que Deus não quer provar nossa confiança?
Salvai-nos, Senhor, pois perecemos!
Deus estende sua mão para nos socorrer nos momentos de maiores angústias, quando afundamos no mar profundo das dificuldades e mesmo dos riscos de vida. Lembramos o texto que narra a tempestade do mar. E Jesus dormia no barco. Eles gritam: “Senhor estamos perecendo” (Lc 8,24). Lembramos o texto onde Jesus aparece andando sobre as águas. Pedro também querendo caminhar sobre as águas, tem medo e começa a afundar. E grita: “Senhor, salva-me!” (Mt 14,30). Há momentos em que queremos o socorro imediato, senão estamos perdidos. O desespero, em determinadas situações, faz-nos gritar a Deus. É oração, pois sabemos, mesmo que não tenhamos muita fé nem devoção, Deus é o último refúgio. Não tenhamos remorso de chamar a Deus quando sentimos que não merecemos, pois Ele nos tem sempre a todos como filhos. Que pai ou mãe não acode o filho que não lhes trata bem?
Oração que não é ouvida.
Às vezes clamamos tanto e não somos ouvidos. Aí nos revoltamos. Não que Deus não nos ouça. Ele sempre nos dá o melhor, mesmo que,para nós, tal não pareça o melhor para nós. O próprio Jesus pediu para ser libertado da morte e foi ouvido, não na morte, mas na ressurreição. Ele pediu “entre clamores e lágrimas” (Hb 5,7). Penso que a maior graça que Deus nos dá quando não recebemos o que pedimos é a capacidade de viver bem a situação dolorosa que enfrentamos. Deus não dá um sofrimento que não possamos carregar. Ele atendeu. Deus dá forças para viver. Muita gente, depois de rezar, pedindo uma graça, e não conseguí-la, revolta-se contra Deus. Lembremos sempre que a oração não é para convencer a Deus, mas para convencer-nos a respeito de Deus. Se não recebe a graça, continue a rezar.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JANEIRO DE 2005
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