terça-feira, 19 de dezembro de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “O Silêncio da Palavra de Deus”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
1238. Até o silêncio é Palavra
            Quando o amor é muito grande, o silêncio é a maior palavra, pois não há palavras suficientes para explicar um grande amor. Quando nos aproximamos da Palavra de Deus nós nos fixamos no som que essas santas Palavras utilizam par chegar a nossos ouvidos, tanto que chamamos nossa fé de uma religião do ouvido. Lemos nos salmos: “Vamos ouvir o que o Senhor vai falar” (Sl 85.9). No tempo litúrgico da Quaresma que estamos vivendo, temos uma riqueza muito grande da Palavra de Deus que nos ensina e estimula nossa conversão. A abundância não quer destruir o silêncio que domina a Palavra. Essa Palavra, Filho do Pai, em toda eternidade é silêncio de escuta e de palavra, pois a comunhão de vida é a comunicação maior. Ao se encarnar e se manifestar como o Messias Prometido, consumiu apenas três anos de no ministério da Palavra, mesmo assim, recortado pelos momentos em que se retirava a sós para rezar, para alimentar-se do Pai. Viveu os outros anos, na escola do silêncio de Nazaré, como homem em sua família. E o último momento de sua vida foi no silêncio do túmulo, como diziam os antigos escritores sobre o Sábado Santo, numa homilia do século IV: “Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu”. O silêncio que se pede não é calar-se e nada dizer, mas é colocar dentro de si a calma e a comunicação de vida que não necessita de palavras. É um duro aprendizado silenciar o coração, acalmar os desejos, sossegar as paixões e tirar de dentro de si a multidão. A sociedade teme o silêncio exterior porque não sabe se abrir ao silêncio interior. Meu pai era um homem silencioso, de poucas palavras, mas de muita observação. Não é tanto o silêncio exterior favorece o silêncio interior, mas é este que favorece mais o silêncio exterior.
1239. Encantar-se
            Quando contemplamos uma criança diante de uma vitrine iluminada vendo um brinquedo que lhe atrai e que ela deseja, é belo como contempla e se encanta. Assim, que acontece com a Palavra de Deus. Não é pela inteligência que nos aproximamos, mas pelo encanto que ela provoca em nos. A beleza da Palavra nos encanta. Lemos no livro dos Provérbios quando nos diz da Sabedoria Criadora: “Eu (a Sabedoria) era seu encanto todos os dias” (Pr 8,30). Sem o encanto, a Palavra torna-se para incompreensível e enfadonha. Ela não penetra o vazio de nosso interior porque ele está cheio de nada. Não se trata de fazer silêncio na celebração, mas viver em silêncio de encanto.
1240. Falar em silêncio
A capacidade de amar faz-nos sair de nós mesmos criando o vazio pleno de Deus. Deste modo pensamos nos outros e deixamos espaço para a Palavra germinar e fecundar nossa vida e atitudes. E assim, mesmo no meio de muita agitação manteremos o fiel de nossa balança buscando sempre a direção da comunhão com o Pai, em Jesus pelo Espírito. É do silêncio do túmulo, quando se silenciaram todos os movimentos humanos de Jesus é que a Ressurreição aconteceu. Jesus não precisou de muitas palavras para formar seus discípulos. Eles aprenderam vendo-o com silêncio. É o momento de nos voltarmos mais para dentro de nós mesmos e desativar as sirenes que tanto nos perturbam e impedem de soar alto o silêncio da Palavra.
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