Ouvimos em cada missa a ordem de Jesus: “Fazei
isto em memória de mim”. A partir destas palavras compreendemos o sentido de
celebrar. Celebrar não é apenas lembrar um fato ocorrido, mas proclamar a
presença atual do acontecimento salvador do passado. Não se trata de contar uma
história, mas de fazê-la atual como acontecimento do qual, participamos pelos
símbolos. Isso nós o podemos ver no Antigo Testamento, como também o vemos nos
cultos mistéricos dos gregos, embora o sentido seja outro. O ponto de partida
para nós cristãos é a ordem de Cristo: “Fazei isto em memória de Mim” (Lc
22,19). O ensinamento de Jesus
está dentro da tradição litúrgica do Antigo Testamento. A palavra memória, zakar em hebraico, não é uma representação do passado, mas
torna-se eficazmente presente, como lemos em Êxodo (12,26-27
e Dt 26,25-26). Na Ceia Pascal
hebraica podemos constatar esse fato. O filho pergunta ao pai: “Porque fazemos
hoje uma ceia diferente?” O pai responde: “Eu era prisioneiro no Egito, e Deus,
com mão forte me salvou”. O acontecimento não se repete mas se faz presente e o
fiel participa dele através dos ritos e símbolos, na fé. Deus intervém na
história de um modo permanente que vai além da ação. O recordar-se como memória
é tornar perene a ação de Deus, colocando à disposição Suas ações salvíficas. O
passado, o presente e o futuro se fundem numa única realidade na ação de Deus
que continua sua revelação e salvação. Não há diferença entre o fato passado e
o ato presente. É uma memória presente eficaz e real. Não se trata de lembrança
de fatos, mas memória litúrgica. Para Deus, o recordar-se é entrar em uma ação
e concede a salvação. Pode o homem fortalecer-se na confiança em Deus e não
esquecer sua ação. É a formação do povo, pois o faz sentir-se unido em seu
todo.
1250.
Memória do Senhor
Paulo,
em sua descrição da Eucaristia, diz ter recebido por tradição, não só gesto eucarístico
realizado por Jesus: “O que recebi do Senhor eu vos transmiti” ... narra o gesto de Jesus na Ceia. Então diz:
“Toda vez que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do
Senhor até que ele venha” (1Co 11,26). A ceia do Senhor é memorial. Mudou-se o conteúdo para mostrar a nova
libertação: “Anunciais a morte do Senhor”. Tal presença da morte sacrifical de
Jesus é para que possamos ser nutridos com seu corpo e sangue. O conteúdo da
Páscoa Cristã é diferente daquela do Antigo Testamento. Lá se recordava a
salvação realizada por Deus em favor do povo no Egito. Aqui é a presença
pessoal de Deus no Filho que permanece para sempre em sua Igreja, como Senhor
crucificado e ressuscitado. É realizado em palavras e ações na prece
eucarística.
1251.
Memórias vivas
Participando
do memorial do Senhor na Palavra e na prece eucarística, fazemos o grande
agradecimento pelos benefícios de Deus na História da Salvação e, de modo
particular na ação salvadora de Cristo em sua Paixão e Ressurreição, que
resumem toda sua vida. Nosso agradecimento nós o fazemos através de Cristo no
Espírito Santo para a Glória de Deus Pai. Há, contudo, um lado pessoal: na
medida que participamos, nós somos transformados interiormente recebendo o
Cristo. Vivemos Sua vida e passamos, nós também, a testemunhar essa memória.
Somos memórias vivas do Redentor. Continuamos sua ação redentora através de
nossa vida e ação. Por isso dizemos: Nós proclamamos a vossa morte e anunciamos
a ressurreição. Vinde Senhor Jesus.
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