Sob o reinado de Diocleciano e de Maximiano, feroz perseguição abateu-se sobre os cristãos. Com o propósito de aniquilar a religião católica, esmagando-a debaixo da idolatria pagã, aqueles imperadores ordenaram ao prefeito das Gálias que a todos levasse, não só sacrificar aos deuses, mas também aos demônios. Aos que o fizessem, recompensá-los-iam às custas do Estado, e aos que, ao contrário, persistissem a ser cristãos, decapitá-los-iam para que aos hesitantes servissem de exemplo.
Nesta época, vivia em Nantes um adolescente de nobre família, chamado Donaciano. Se já era ilustre, pelo nascimento, com o suceder dos dias se-lo-ia ainda mais, por virtude de Nosso Senhor Jesus Cristo. Temente a Deus, regrado, maduro de espírito, em meio as tempestades que o diabo excitou contra ele, o temor de Deus, ajudou-o sempre e sempre, sem faltar, desde que, abandonado o culto dos ídolos recebera o batismo e se fizera fervorosíssimo cristão.
Rogaciano, o irmão, convertido depois, levado pelo ardor de Donaciano, mereceu a glória de morrer pelo Cristo.
O legado dos imperadores fez sua entrada em Nantes acompanhado de carrascos. Festejadíssimo pelos pagãos, era constantemente procurado por eles, e bajulado até o ridículo. Disse-lhe um deles:
- Tu viestes em boa hora, o juiz clementíssimo, para levar ao culto dos deuses aqueles que os judeus arrastaram para o Crucificado. Entre todos estes sectários, Donaciano é o que deve ser julgado com o maior rigor. Não só abandonou o culto dos deuses, mas, por longas intrigas, acabou por perverter o irmão. Hoje, ambos desprezam Apolo e Júpiter, objetos da adoração dos imperadores, que querem, e com que zelo, consolidar o culto por todo o universo. Por esta nova seita nossos deuses são derrubados. Quando tu quiseres, o interrogatório provará que nada avanço que não seja verdadeiro.
Donaciano, então, foi intimado a comparecer diante do prefeito, que, depois de o examinar detidamente, disse-lhe:
- Donaciano, correm por aí rumores contra ti. Pelo que ouço, tu ter recusas a adorar Júpiter e Apolo, autores e conservadores da vida. E não somente lhes recusas a adoração como também os cobres de opróbrio, provoca-os, ensinando que o povo somente será salvo pela crença num Crucificado, atraindo para ti um grande número de pessoas.
Donaciano confirmou as palavras do prefeito, dizendo:
- Tu dizes a verdade. Sim, quero arrancar do erro tuas numerosas vítimas, quero levá-las ao único Ser digno de adoração.
O prefeito: - Eis aí a propaganda. Se não te calas, dar-te-ei a morte neste instante.
Donaciano: - Tuas ameaças retumbam sobre ti mesmo. Não escaparás ao laço que me queres armar, tu que, cheio duma tola incredulidade, preferes as trevas à luz, e que, no meio daquelas trevas, não sabes erguer os olhos para o Cristo, luz de justiça.
O legado, pálido, ordenou que o carregassem de ferros e o metessem na prisão, para que o horror do sofrimento sobrepujasse a fé. Se não, que o exemplo que dava não mais se fizesse sentir, tão contagiante era.
Foi, então, a vez de Rogaciano. Ao jovem, falou o legado com doçura e com cautela, acabando por dizer:
- Rogaciano, sei que abandonastes inconsideradamente o culto dos deuses, aos quais todos devemos o benefício da vida e as qualidades que nos distinguem. Por que essa insanidade de adorar um só Deus! Tu não vês que, adorando a um só, atrairás contra ti, e para tua infelicidade, a cólera dos outros? Não te obstines no erro. A indulgente bondade dos deuses ainda te acolherá, e poderás, nos palácios dos imperadores e nos templos dos deuses, gozar não somente da vida, mas das honras que te serão cumuladas.
Rogaciano ouviu o legado em silêncio. Quando terminou a arenga, respondeu:
- Tu és um infame a propor infâmias. Primeiramente, tu o dizes, o favor dos imperadores desfilam antes, depois vem o dos deuses. Como honrar nos santuários da divindade deuses que passam a ser citados depois dos homens? Eles são surdos porque feitos de metal, não tem alma, e tu, tu és destituído do sendo comum, porque, como pode consistir uma religião no culto duma pedra? É fazer-se igual ao que se adora.
O legado dirigiu-se aos soldados, berrando:
- Que este imbecil seja reunido ao mestre de imbecilidades. Amanhã, um golpe de espada vingará todas as injúriasSAO DONACIANO E SAO ROGACIANO.jpg proferidas contra os deuses e os príncipes.
Ora, Rogaciano tremeu. Não porque estivesse arrependido daquilo que dissera, porque o dissera com toda a alma, mas porque ainda não recebera o batismo. Logo, porém, sentiu-se aliviado. É que na singeleza da alma, na credulidade da fé, acreditou que, para ser batizado, bastaria tão somente um beijo do irmão.
Quando Donaciano conheceu o pensamento de Rogaciano, dirigiu-se a Deus e suplicou:
- Senhor Jesus Cristo, para quem os sinceros desejos valem como ações, de tal modo que, em caso de impossibilidade, a vontade de agir é o suficiente, tu, que nos deste esta vontade e reservaste o poder de agir, faze que a pura fé de Rogaciano lhe seja imputada em lugar do batismo. E se o prefeito, perseverando em seu projeto, ordenar que morramos amanhã, que o sangue de Rogaciano, espalhado por ti, seja para ele como a unção do crisma.
Depois daquele sublime oração, os dois irmãos ficaram a velar, e o fizeram por toda a noite.
No dia seguinte, de manhã, compareceram, novamente, à sala do legado, mostrando-se inabaláveis diante das palavras que lhe dirigiram. Disseram os dois ao prefeito:
- Tua ciência, pior que a ignorância crassa, coloca-te ao lado de teus deuses de metal. Nós estamos prontos, por amor do Cristo, a suportar os golpes do carrasco.
A estas palavras, o legado, exasperado, fez com que os suspendessem no cavalete. E, depois de terem passado por vários suplícios, tiveram as cabeças cortadas.
Era em 304, e o lugar do martírio tornou-se um lugar santo de Nantes. Os corpos dos dois irmãos receberam sepultura um pouco mais longe. Desde 313, graças ao pacificador edito de Milão, os cristãos puderam exumar aqueles restos sagrados, e o culto principiou.
Elevou-se uma igreja sobre o túmulo dos chamados Moços de Nantes, e a influência de peregrinos foi enorme. Reconstruída depois das invasões normandas, foi confirmada por Roma, em 1889, como basílica.
Fonte: santiebeati.it
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume IX, p. 167 à 171)
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