sábado, 28 de maio de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “O coração do bom pastor”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA CONSAGRADO
SACERDOTE NA PAZ DO SENHOR
Os maus pastores e a esperança
 
Os discípulos voltaram da missão à qual os enviara Jesus. A missão consiste precisamente em prosseguir a única missão do Mestre, aquela que recebeu do Espírito Santo no Batismo: pregar o Evangelho, realizar as obras do Reino através das palavras e dos milagres. São eles os pastores do povo de Deus. Na experiência do Antigo Testamento, pudemos ver o fracasso da realeza. Foram eles que, no lugar de Deus deveriam conduzir o povo. Foram eles que levaram o povo, por sua infidelidade a Deus e pelo modo como O trataram, ao extremo sofrimento e catástrofe nacional. Os pastores não cuidaram: dispersaram e afugentaram o povo (Jr 23,2). Essa foi a história do povo que, por seus dirigentes, perdeu o sentido de sua aliança com Deus. Por isso teve de arder em graves sofrimentos. Por sua fidelidade à aliança, Deus jamais o abandonou. Para isso toma a grande decisão de cuidar pessoalmente de seu povo. Vai reuni-lo de onde estava disperso. Diz o Senhor: “Suscitarei novos pastores que as apascentem...Virão dias em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio. Fará valer a justiça e a retidão na terra” (5). Jesus, enviando seus discípulos à missão, está cumprindo essa promessa de não deixar seu povo sem pastores, cuidado que Deus já tivera, no deserto, ao dar os 70 auxiliares a Moisés: “para que a multidão não fosse como um rebanho sem pastor” (Nm 27,17). Jesus é o prometido. Ele forma seus discípulos para que, pela presença permanente do Espírito, sejam os pastores de que o povo necessita. 
Jesus é o bom pastor 
Paulo, em sua carta aos Efésios, diz que Cristo é nossa paz. Ele reúne todos em um único corpo, criando em si um só homem novo por meio da cruz (Ef 2,13-18). Jesus realiza a profecia de um pastor completo que definitivamente vai conduzir ao Pai os dispersos. A atitude fundamental do bom pastor Jesus é a compaixão. Esse magnífico texto mostra seu inteiro coração: “Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois a ensinar-lhes muitas cosias” (Mc 6,34). Ele, que procurara descanso para si e seus discípulos, pois não tinham tempo nem para comer, tantos eram os que iam e vinham, deixa o descanso e passa ao carinhoso atendimento de todos. As atitudes do pastor estão descritas no salmo 22, que não é uma simples poesia bonita, mas é a metodologia que Jesus usa para com o povo que o Senhor lhe confiou. Inicialmente vemos Jesus convocar os discípulos para um repouso. Significa o carinho com que Ele os reúne como comunidade e lhes garante um futuro de paz em seu ministério. Paz que encontrarão em Deus como prêmio. Que eles, sentindo o prazer de estar repousando com Jesus, aprendessem a conduzir todos a Ele e à comunidade como lugar do repouso. 
Ser pastor como Jesus 
Os discípulos aprendem de Jesus a serem os bons pastores do povo. Como serão os pastores que Jesus dá para nós? Qual é a “forma”? A primeira condição para ser pastor como Jesus, não só padre, é saber ter compaixão do povo. Essa compaixão vai ao extremo, chega ao ponto de não ter tempo nem para comer. Certamente a vida tem de ter ordem e estrutura. Mas, Jesus não tinha relógio. O ponto de partida para o bom pastor não é o proveito que as ovelhas lhe dão, mas o proveito que os fiéis tiram da misericordiosa presença de Jesus que os conduz a serem comunidade e a serem ensinados. 
Leituras:Jeremias 23,1-6;Salmo22; 
Efésios 2, 13-18; Marcos 6,30-34. 
1. Os discípulos voltaram da missão. Esta é a mesma de Jesus: pregar o Evangelho e realizar as obras do Reino. São eles os pastores do povo de Deus. No Antigo Testamento a realeza fracassou e levou o povo à destruição. Eles não foram fiéis, mas Deus é fiel. Promete um descendente fiel. Esse é Jesus. Deus não deixa seu povo abandonado. Forma os discípulos para que sejam os pastores do povo pelo Espírito Santo. 
2. Paulo escreve que Cristo é nossa paz. Ele une judeus e pagãos em um único povo. Jesus é o bom pastor que vai conduzir os dispersos. Ele o faz através da compaixão. Ele é o bom pastor segundo o salmo 22 que sempre conduz para bons lugares. O lugar do repouso agora é uma antecipação do futuro e se encontra na comunidade. 
3. Os discípulos aprendem de Jesus a serem bons pastores. A forma que Jesus deixa para sermos bons pastores é a compaixão até o extremo de não ter tempo nem para comer. A vida precisa de estrutura. Mas Jesus não tinha relógio. O proveito sempre será a misericórdia que os fiéis encontram no pastor. 
Coração mole 
Jesus e os discípulos estavam na lona. Cansados. Afinal, voltavam de sua missão. Jesus chama: vamos para um canto sossegado e lá a gente conversa. O povo descobriu e acabou o feriado prolongado. Jesus não nega fogo: viu aquela gente sofrida e sentiu compaixão. Tinha um coração mole quando via o povo sofrido. Aí, então, descansou no que gostava: ensinar as coisas bonitas para o povo. Sinto a consciência pesada quando vejo tanto sofrimento e a gente não fazer nada. Tanta gente sofrendo e eu eternamente deitado em berço esplêndido. O Brasil viu que isso não dá certo. É preciso levantar e fazer alguma coisa. 
Homilia do 16º Domingo Comum
EM JULHO DE 2006

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