O povo que estava acampado no deserto tinha sede (Ex 17, 3). O espetáculo do povo espiritualmente sedento estava também sob o olhar de Nicolau Barré, da Ordem dos Mínimos. O seu ministério colocava-o continuamente em contato com pessoas que, vivendo no deserto da ignorância religiosa, corriam o perigo de ir beber na fonte corrompida de algumas ideias do seu tempo. Eis por que ele sentiu o dever de se tornar um mestre espiritual e um educador para todos aqueles que alcançava com a sua ação pastoral. Para ampliar o seu raio de ação, fundou uma nova família religiosa, as Irmãs do Menino Jesus, com a missão de evangelizar e educar a juventude abandonada, a fim de lhe revelar o amor de Deus e comunicar em plenitude a Vida divina, e de contribuir para a edificação das pessoas.
O novo Beato não cessou de enraizar a sua missão na contemplação do mistério da Encarnação, pois Deus sacia a sede daqueles que vivem em intimidade com Ele. Mostrou que uma ação feita em nome de Deus não podia deixar de unir a Deus, e que a santificação passa também através do apostolado.
Nicolau Barré convida cada um de nós a ter confiança no Espírito Santo, que guia o Seu povo no caminho do abandono a Deus, da abnegação, da humildade, da perseverança mesmo nas provações mais difíceis. Essa atitude abre à alegria da caminhada rumo à experiência da ação poderosa de Deus vivo.
Papa João Paulo II-Homilia de Beatificação-
07 de março de 1999.
Nicolau Barré nasceu em Amiens (França), em 21 de outubro de 1621 e morreu em Paris em 31 de maio de 1686, cercado por sua comunidade, no convento dos Mínimos da Praça Real.
Embora a situação financeira confortável da família Barré, tenha livrado o jovem Nicolau de muitos males, isso não significou que ele cresceu ignorante e despreocupado com a situação precária dos pobres e excluídos que vê ao seu redor. Percebia a horrível violência e as consequências da guerra, seus estragos, suas incertezas, medos e ansiedades. Toda essa insegurança, miséria e dor serão impressas em seu ser e terão sua influência no desenvolvimento de toda a sua vida e espiritualidade.
Dos dez aos dezenove anos, estuda com brilhantes resultados na escola de San Nicolau, dirigida pelos jesuítas. Antes de terminar seus estudos, ele confiou a seus pais o desejo que aninhava em seu coração para entregar-se totalmente ao Senhor na vida religiosa. Seus pais renunciaram a todos os sonhos que haviam sido acalentados para o único filho homem, dotado de excelentes qualidades intelectuais e com um caráter agradável e atraente. “Se Deus te chama nesse caminho, aceitamos cristãmente a sua determinação meu filho” e, quando chegou a hora, eles ajudaram e ofereceram seu apoio para que ele seguisse o chamado de Deus.
Naquela época, Amiens abrigava vinte conventos religiosos. Entre todos eles, Nicolau escolhe o dos Mínimos, precisamente o mais pobre e o mais estranho de todos. Ele quer pertencer totalmente a Deus, e parece que pode fazê-lo melhor pelo caminho marcado por Francisco de Paula: oração, ascetismo e caridade. Nicolau soube discernir a vontade de Deus em sua pessoa e sofre quando vê tantas crianças e jovens morrendo ou vivendo na pobreza, assolados pela fome e pela ignorância, tanto a nível humano como religioso.
Em 1659, quando Nicolau tinha 38 anos, foi enviado para Rouen. Lá ele vê a miséria e a ignorância que impera, o abandono de crianças e jovens que se aglomeram pelas ruas. Ora e medita sobre esta situação onde vê que muitos estão submersos, incapazes de sair sozinhos e se pergunta mil vezes:
O que eu posso fazer? O que devo fazer?
É uma tremenda pressão ver as crianças, os jovens e adolescentes explorados em empregos inadequados para sua idade, porque têm que ajudar a família. Lotado pela falta de espaço, com os sérios danos morais que isso acarreta; supersticioso e longe da grandeza da fé que receberam no batismo.
Nicolau, a cada dia que passa, reflete mais sobre esse assunto, está entrando em contato com outras pessoas que fazem essas perguntas ou similares. Sob sua iniciativa, um grupo de jovens de Rouen e seus arredores dedicou-se totalmente à formação humana e cristã das meninas, jovens e mulheres que a pobreza e a miséria deixaram sem recursos. Elas seriam as primeiras consagradas das Irmãs do Menino Jesus. Dedicadas a esse trabalho, multiplicaram-se prodigiosamente e, de todos os cantos da França, solicitavam sua presença. Elas, por sua vez, viviam em total abandono na Divina Providência, engajadas no trabalho educativo e na formação humana e religiosa.
Em 28 de maio de 1686, vendo como o fim se aproximava, Barré confiou a direção de seu trabalho a Francisco Giry, provincial da Ordem dos Mínimos na França. Três dias depois, em 31 de maio de 1686, a morte o levou em Paris.
Nenhum comentário:
Postar um comentário