Quando dizemos que ofendemos a Deus, nós pensamos que Ele fica triste com nossas atitudes, que se irrita e que vai nos castigar para se vingar. Queremos ver castigos de Deus em certos acontecimentos. Claro que certas cabeçudices nossas levam-nos a resultados infelizes. Nós atribuímos nossos sentimentos a Deus que, ao se revelar, usou a linguagem humana. Por isso dizemos que ofendemos a Deus com nossos pecados. Aprendemos no sacramento da penitência que é preciso evitar o pecado para não ofender a Deus. Antes morrer que ofender a Deus mesmo por uma sombra de pecado! Este pensamento levou tantos a grande santidade. O ensinamento não mudou. Se perdemos o sentido da gravidade do pecado, deixamo-nos levar pelo mal e nos prejudicamos. Justificar o pecado é o maior pecado de nossos tempos. Isso provém do desconhecimento do mal que o pecado faz para nosso relacionamento com Deus. Perdemos o medo de Deus. Dizemos que Deus não castiga. A conversão deve ser pelo amor pois, pelo temor, agora inexistente, seguiremos maus caminhos. O que é ofender a Deus? Creio que Deus, em sua essência infinita, não pode sofrer por nossas ofensas. Por que então dizemos que ofendemos a Deus? Devemos entender que Deus se fez solidário a toda pessoa, principalmente aos mais fracos e oprimidos (isso não é política – podemos ler na Bíblia). Ele é o Redentor. No sentido bíblico, Ele nos assume e se torna nosso defensor, porque Ele é de nosso sangue. Atingir o sangue, a vida de alguém, é atingir todos os que tem o mesmo sangue. Deus quis assumir esse compromisso como sendo de nosso sangue. O Redentor, assumindo as carências de cada um, sente-as como próprias. Assim, ferir e atingir o outro é o que chamamos de ofender a Deus.
O que fizestes ao menos dos pequeninos
O Redentor do Antigo Testamento continua no Redentor do Novo Testamento, Jesus Cristo. Ele coloca no relacionamento das pessoas o fundamental de toda a sua vida e doutrina: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. “Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Há tal identidade entre Jesus e cada um de nós que, fazer o bem ou o mal ao outro sempre toca Jesus. Toca-o no Seu Ser. Assim O ofendemos. Ele diz: “Eu tive fome e não me destes de comer”. Tudo o que se refere ao irmão, refere-se a Jesus. Nessa identidade não ofendemos somente o pobre e necessitado, mas a união com Jesus. O caminho da espiritualidade penitencial passa pelo irmão. Na verdade rompemos, por nossa conta, nosso relacionamento com Deus. Não perdemos Seu amor, mas nosso amor por Ele e nos prejudicamos, pecamos.
Sem perdão não há louvor
O pecado contra o irmão impede também a realização do culto a Deus. Jesus é claro naquelas palavras: “Se estiveres para trazer tua oferenda ao altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa tua oferenda ali diante do altar e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; e depois vem apresentar a tua oferta” (Mt 5,23-24). Todo o pecado, mesmo oculto, tem a ver com a pessoa do outro. Somos parte de um corpo, “se um membro sofre, todos sofrem com ele”. A espiritualidade que se desenvolve no sacramento da penitência promoverá sempre a renovação da aliança fraterna para poder abrir a aliança com Deus na celebração do culto cristão. O culto, para ser verdadeiro, exige o bom relacionamento com o outro no modo fraterno de servir.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JULHO DE 2006
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