Uma boa pergunta num momento em que quase todos nós fomos formados para responder que casar de novo é pecado. Esta foi uma resposta que demos até agora e vamos continuar dizendo, porque falta coragem para falarmos que tudo depende de onde partimos para a formação da consciência. É muito simplismo responder do modo antigo, já caminhamos no estudo da Teologia Moral e hoje há mais lucidez para enfrentar essas questões.
Vamos ter coragem de dizer que os processos canônicos nem sempre são acessíveis ao povo, nem todos têm dinheiro e conseguem fazer o caminho exigido pelos processos canônicos, que em sua maioria são longos e demorados. Vamos dizer que nem todos têm clareza sobre o sacramento que deviam ter realizado em sua vida, o que já é um motivo para dizermos que não aconteceu o sacramento. Vamos também dizer que a maioria dos casamentos feitos não chegam a ser sacramento por defeitos que o Direito Canônico reconhece como defeitos. Vamos dizer também que já era tempo de abrirmos outro caminho; o casamento se firmou como instituição sacramental a partir do século XII.
A fidelidade a Cristo não é um voto ao legalismo, nem tampouco um sentimento de dureza farisaica. O íntimo da consciência só Deus julga.
Dizemos que está em pecado quem toma uma atitude frontalmente contra o ensinamento de Jesus e da Igreja, num desrespeito acintoso, mostrando sua falta de fé e sua descrença no sacramento do matrimônio. Mas não podemos dizer que está em pecado quem luta na sinceridade de seu coração e que essa nova situação não significa falta de fé e de amor à Igreja.
Ao ler a Bíblia encontramos a passagem: “Deus é amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,16). Não estaria aí um primeiro caminho para a formação da consciência?
Se a pessoa fez uma longa caminhada para que acontecesse em sua vida o sacramento do matrimônio, mas não foi possível, e hoje vive uma vida cheia de amor, quem somos nós para dizer que Deus não está com ele? Se lá no fundo de sua consciência a pessoa está tranqüila e procura aprofundar o amor em sua vivência, como vamos falar em pecado?
Reconheço que há muitas consciências malformadas, mas nesses casos se não existir a maldade também não existe o pecado, porque na ignorância não se peca. Falavam tanto do pecado como fruto da plena consciência do mal, pleno conhecimento e plena adesão ao mal, e isso não mudou ainda.
Hoje é preciso ter coragem de dizer a essas pessoas que são sinceras que elas não estão em pecado. A palavra de Jesus precisa libertar essas pessoas desse peso de uma moral do proibido e de tantos pecados criados pela falta de lucidez na fé.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R.
EDITORA SANTUÁRIO
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