segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

RELIGIÃO TAMBÉM SE APRENDE - O DOM DAS LÍNGUAS-PADRE LIBÁRDI

PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI(+)
REDENTORISTA
Rezar em línguas é uma experiência de Deus? 
Os movimentos pentecostais trouxeram à tona, entre diversas expressões de piedade, algo que existia na Comunidade primitiva e que era considerado um dom de Deus em benefício da própria comunidade: rezar em línguas. O dom das línguas (glossolalia) é um carisma, um dom do Espírito Santo para edificação da comunidade. Na carta aos Coríntios (1Cor 14,2-28), Paulo fala desse dom e dá as orientações claras até mesmo cortando o uso desse dom, quando não há ninguém que possa interpretar. Avisa também do perigo de serem tachados como loucos, para o perigo da indisciplina, e coloca a preferência pelo dom da profecia, proclamando as maravilhas de Deus de modo inteligível. No comentário dos padres antigos, isso parece ter desaparecido ou, pelo menos, havia certo embaraço em explicar esse dom. Parece que o abuso disso pelos hereges montanistas provocou desinteresse nos fiéis. Entre os escritos dos grandes santos, fala-se de certa “embriaguez espiritual”, um estado de alma em que a consolação dada por Deus apodera-se de tal forma do santo, que ele passa a exprimir sua experiência mística com palavras estranhas e desconexas. Esse fenômeno, no entanto, é próprio dos grandes místicos em seu estado de comunhão com Deus. Não faz parte da experiência comum dos fiéis orantes e que ainda não chegaram a esse estado de perfeição. É um caminho não comum para nós que lutamos dentro de uma ascese cristã. Não podemos negar que haja o dom das línguas, mas perguntamos: para que serve? As esquisitices sempre atraem um grande número de pessoas; outro tanto facilmente se identifica e se entusiasma com elas. A maioria de nós não saiu ainda da cartilha da oração e já se julga pregando por Deus com o dom das línguas, e mais, com o dom de interpretar. É preciso muita cautela com os desequilíbrios pessoais e coletivos. Deviam passar esses fenômenos por análise de bons psicólogos e alguns psiquiatras. Podemos dizer, com certeza, que esse dom não faz falta à Igreja nem ao processo de crescimento pessoal na vida de comunhão com Deus. Veja bem o que diz Paulo no tão cantado capítulo do dom das línguas, precisamente no versículo 19: “Mas numa assembléia prefiro dizer cinco palavras com minha inteligência, para instruir também aos outros, a dizer dez mil palavras em línguas” (1Cor 14,19). É uma troca desproporcional, mas Paulo sabe o que fala. Às vezes quem julga ter esse dom, devia rezar a sós em sua casa.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R. 
EDITORA SANTUÁRIO

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