O tempo do Advento, que iniciamos nesse domingo, traz o tema da vigilância. Não sabemos quando o Senhor virá, por isso é preciso estar vigilante “para que não suceda que vindo de repente, nos encontre dormindo” (Mc 13,36). Os primeiros cristãos acreditavam na vinda eminente de Cristo. Paulo chega a pensar que alguns ainda estarão vivos 1Ts 4,17)
Mas o tempo passou e começaram a descuidar-se. Podemos dizer o mesmo de nós: estamos adormecidos como se o ensinamento da vigilância não se referisse a nós. Pelo fato de Jesus dizer que se deve estar acordado, tem-se a impressão que a vinda vai ser à noite, tanto que houve a tradição da vigília – oração durante a noite - justamente para não sermos encontrados dormindo. Mas o sono que não pode tomar-nos é o peso da alma. Não precisamos ter medo do fim de mundo como fazem alguns. Mas devemos procurar ter uma vida densa e cheia de sentido. Se Jesus vier de um momento para o outro, estamos prontos para ir a seu encontro, pois vivemos a fé. Mais importante ainda é ir ao encontro do Senhor que se manifesta de tantos modos e em tantos lugares. Ter o senso de Deus leva-nos a encontrá-lo sempre vindo a nosso encontro. É preciso dormir com um olho aberto e estar atentos. É gostoso ver a presença do Senhor nas pessoas, nos acontecimentos, na Palavra, na celebração. Atentos, nós O vemos com os olhos da fé que veem mais longe.
Oh! Se rompesses os céus!
Na antiga liturgia do Advento, antes da reforma, não havia a acentuação da 2ª vinda, mas só da vinda no Natal. Cantava-se uma bela antífona: “Choveu, ó céus, o orvalho lá das alturas. Abra-se a terra e brote o salvador”. Era o grito do mundo pela vinda de Deus. A leitura de Isaías (62-64), desse primeiro domingo do Advento, traz-nos esse lamento: “Oh! Se rompesses os céus e descesses!” (63,19). Esse grito tão cheio de ansiedade reflete a súplica da humanidade por um Redentor. Deus deu às pessoas a possibilidade de escolher os caminhos e responder de acordo com seu coração. Na situação de necessidade, por ter se extraviado e ser consciente de sua culpa, clama: “Como nos deixastes andar longe de teus caminhos e endurecestes nossos corações para não termos o teu temor?” (Is 63,17). Todos nós nos tornamos imundície e todas as nossas boas obras são como um pano sujo; murchamos como folhas” ... “Vós nos entregastes à mercê de nossa maldade” (Is 63,5). Esse grito lamentoso reflete o coração da humanidade que sofre por suas próprias loucuras.
Fostes enriquecidos em tudo
Se por um lado há uma situação dolorosa no ser humano, há também uma riqueza sem comparação em Cristo Jesus. “Fostes enriquecidos em tudo, em toda a palavra e em todo o conhecimento à medida que o testemunho de Cristo se confirmou em vós ... não tendes falta de nenhum dom”. Essa riqueza de graça é a descoberta de Deus em nosso meio. Ser atento é ver a riqueza dos dons de Deus. Vivê-la é deixar-se modelar por Deus. Isaias complementa: “Tu és nosso Pai e nós somos o barro, Tu nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos” (64,7). Iniciando este Advento nós nos voltamos para o fim dos tempos que acontece a cada momento dentro de nós, e também para o tempo que foi o fim da espera. Ele veio no Natal e permanece como habitante em nosso meio e em nosso coração.
Leituras: Isaías 63,16-17.19.64,1-7;
Sl79;1Coríntios1,3-9;Marcos13,33-37.
Ficha
1. O Advento reflete o tema da vigilância, pois o Senhor vem. Os primeiros cristãos esperavam por uma vida eminente. Nós já nos distanciamos desse pensamento. A preocupação que devemos ter é com o Cristo que vem continuamente. É preciso dormir com um olho aberto, atentos à vinda do Senhor que se manifesta em tantos lugares e de tantos modos.
2. Na situação em que vive a humanidade, quem sabe, em todos os séculos, faz-nos ouvir um grito de lamento. É um grito pela vinda de Deus. O homem reconhece sua fragilidade. A humanidade sofre pelas próprias loucuras, mas não deixa de clamar por um Redentor.
3. Ao lado de tanta misérias, temos a grande riqueza da graça de Cristo que nos foi dada por Ele. A grande riqueza é ser modelado por Deus. Dele dependemos para ser formados. Ele é o oleiro e nós somos o barro em suas mãos. No tempo do Advento, voltemos nossos olhos para o fim dos tempos e para dentro de nós para irmos ao encontro do Cristo. Voltemos nosso olhar também para o Natal.
Homilia do 1º Domingo do Advento.
EM NOVEMBRO DE 2005
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