“A quem tem, lhe será dado mais e terá em abundância. Ao que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 14,28). Assim conclui a parábola dos talentos que lemos no evangelho de S. Mateus (25,14-30). Jesus, para explicar nossa participação no Reino de Deus, usa a comparação de um senhor que confia a seus empregados determinados bens para que sejam movimentados. Ao receber os resultados, vê que fizeram render seus bens. Por isso confia-lhes responsabilidades maiores. Quem, por preguiça ou por medo, não fez produzir o que recebeu, é excluído. Assim é o Reino. Deus nos deu dons pessoais ou comunitários como participação na obra do Reino. Tanto o crescimento pessoal como o comunitário são responsabilidade para com Deus. Temos tantas potencialidades e possibilidades! É preciso exercer os dons para desenvolvê-los. A fé, o evangelho, a vida da Igreja nos são confiados para que possam fazer-nos crescer, como também para fazer crescer o Reino. Quanto mais colaboramos mais somos beneficiados e mais cresce o Reino de Deus, a Igreja, a comunidade. É preciso enfrentar com coragem e criatividade os tesouros que Deus nos confia, tanto pessoal como comunitariamente, pois só assim nós crescemos e participamos dessa riqueza que é o Reino de Deus. São João escreve que é a glória de Deus produzirmos frutos (Jo 15,8). A figueira estéril deve ser cortada (Lc 13,7). E, se não crescemos, perdemos até o que temos. Se isso funciona até para a economia, quanto mais para a vida espiritual. Por isso podemos ouvir de Deus nesse evangelho que a participação no Reino é convite mas também responsabilidade pessoal.
Servir é crescer
A parábola do banquete, colocada no fim do ano litúrgico, leva-nos a um exame de consciência sobre o modo como usamos os dons que Deus colocou a nossa disposição. O problema maior do cristianismo não são os erros, que podem acontecer, mas a falta de interesse em crescer. Não sabemos quem somos nem quanto podemos ser. Para crescer é preciso colocar os dons a serviço, como nos escreve Paulo: os dons são para o bem da comunidade (1Cor 12,1-30). Precisamos saber que dons temos. Se não nos conhecemos, não podemos servir. Se não colocamos os dons a serviço, prejudicamos a comunidade e a nós mesmos. O Evangelho completa referindo-se ao preguiçoso que não fez produzir seu talento: “Tirai-lhe o talento e dai-o a outro”. Nossas comunidades não crescem e as pessoas são infantis espiritualmente porque não procuram conhecer-se e pôr-se a serviço.
Dons e serviço
A leitura de Provérbios (31,10-31) descreve a mulher forte. É uma bela leitura que faz um retrato de tantas mulheres de nossas comunidades que são um tesouro na Igreja, ainda que sendo simples e sem estudos. Mesmo dentro de nossas casas temos esses tesouros. O salmo reza: “Felizes os que temem o Senhor e andam em seus caminhos” (Sl 127). O livro dos Provérbios conclui o elogio da mulher com estas palavras: “Na praça, louvem-na suas obras”. Essas mulheres não recebem monumentos, pois são elas um monumento vivo e estão garantidas no Reino de Deus. Trata-se de estar vigilante na operosidade, como nos escreve Paulo em 1Ts 5,1-6: “Sejamos sóbrios e vigilantes!”
Leituras: Provérbios 31,10-31; Salmo 127; 1Tessalonicenses 5,1-6; Mateus 25,14-30.
Ficha:
1. Somos co-responsáveis pelo Reino de Deus. Jesus conta a parábola dos talentos. Nós também recebemos tantos dons (talentos) que devemos fazer produzir. Fazer render o que somos nos dará maiores possibilidades e dons. Não produzir é perder e ir para trás. O Pai é glorificado quando produzimos frutos. A figueira estéril deve ser cortada. O convite a participar do banquete do Reino é um dom e um compromisso.
2. Estamos chegando ao fim do ano litúrgico. A parábola nos estimula a fazer um exame de consciência para vermos como usamos os dons que recebemos de Deus. Crescer é colocar os dons a serviço da comunidade. Do contrário prejudicamos a nós mesmos e aos outros. É necessário despertar as pessoas para que descubram seus dons e saiam do individualismo ou do medo.
3. A leitura do livro dos Provérbios nos descreve a mulher virtuosa – forte. As mulheres são um tesouro nas comunidades, ainda que sejam sendo simples e sem estudos. O mesmo acontece dentro de nossas casas. Mostram assim, como exemplo vivo, o que é colocar a vida a serviço. É isso que significa estar vigilantes.
Homilia do 33º Domingo do Tempo Comum
EM NOVEMBRO DE 2005
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