Evangelho segundo S. João 17,1-11a.
Naquele
tempo, Jesus ergueu os olhos ao Céu e disse: «Pai, chegou a hora. Glorifica o
teu Filho, para que o teu Filho Te glorifique, e, pelo poder que Lhe deste
sobre toda a criatura, Ele dê a vida eterna a todos os que Lhe confiaste. É
esta a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que
enviaste, Jesus Cristo. Eu glorifiquei-Te sobre a terra, consumando a obra
que Me encarregaste de realizar. E agora, Pai, glorifica-Me junto de Ti
mesmo com a glória que tinha em Ti, antes que houvesse mundo. Manifestei o
teu nome aos homens que do mundo Me deste. Eram teus e Tu nos deste, e eles
guardam a tua palavra. Agora sabem que tudo quanto Me deste vem de Ti, porque lhes comuniquei as palavras que Me confiaste e eles receberam-nas:
reconheceram verdadeiramente que saí de Ti e acreditaram que Me enviaste. É
por eles que Eu rogo; não pelo mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são
teus. Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu; e neles sou
glorificado. Eu já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, enquanto Eu
vou para Ti».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208),
bispo, teólogo, mártir
«Contra as Heresias», IV, 14
«Para que Ele dê a vida eterna a todos os que Lhe
confiaste.»
No princípio, não foi porque precisasse do
homem que Deus modelou Adão, mas para ter alguém em quem depositar os seus
benefícios. Porque, não só antes de Adão mas mesmo antes de toda a criação, já o
Verbo glorificava o Pai, permanecendo nele, e era glorificado pelo Pai, tal como
Ele próprio disse: «Pai, glorifica-Me junto de Ti mesmo com aquela glória que
tinha em Ti antes que houvesse mundo». Também não foi porque tivesse necessidade
do nosso serviço que Ele nos ordenou que O seguíssemos, mas para nos obter a
salvação. Porque seguir o Salvador é participar da salvação, tal como seguir a
luz é tomar parte da luz.
Quando os homens estão na luz, não são eles
que iluminam a luz e a fazem resplandecer, antes são iluminados e tornados
resplandecentes por ela; longe de lhe acrescentar o que quer que seja, eles
beneficiam da luz e por ela são iluminados. O mesmo acontece com o serviço
prestado a Deus; o nosso serviço não acrescenta nada a Deus, porque Deus não
precisa do serviço dos homens; mas, àqueles que O servem e O seguem, Deus dá a
vida, a incorruptibilidade e a glória eterna. [...]
Se Deus solicita o
serviço dos homens, é para poder, Ele que é bom e misericordioso, conceder os
seus benefícios aos que perseveram no seu serviço. Porque, se Deus não precisa
de nada, o homem precisa da comunhão de Deus. A glória do homem é perseverar no
serviço de Deus. É por isso que o Senhor dizia aos seus discípulos: «Não fostes
vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi a vós» (Jo 15,16). Indicava assim
que não eram eles que O glorificavam, seguindo-O, mas que, por terem seguido o
Filho de Deus, eram glorificados por Ele. «Pai, quero que onde Eu estiver eles
estejam também comigo, para contemplarem a minha glória» (Jo 17,24).