Quando dizemos que Deus fala, sempre
buscamos palavras e expressões que nos esclareçam e nos confortem. Como Deus é
Luz, sempre queremos tudo muito claro. Contudo, Ele fala na escuridão. Esta
escuridão não é um mal, mas é a nossa dimensão que chamamos de consciência, o
centro da orientação de nossa vida e de nossas decisões. Quem age somente por
princípios externos perde-se a si mesmo. A consciência é nosso interior. Deus
aí está. Dizemos que Ele é o mais íntimo de nosso íntimo. Ali Ele fala com mais
clareza que em todos os outros lugares e condições. Enquanto a consciência não
assume, não orienta. S. Afonso diz “que nenhuma lei nos condena diante de Deus,
se ela não for revelada em nossa consciência”. Há muitos tipos de consciência.
Entres estes a certa e a errada. A grande missão que temos para conosco é a
formação da consciência. Esta é a pastoral mais urgente que temos na Igreja:
formar as consciências, libertá-las dos tabus, da falta de orientação, da
incompreensão da verdade e do fechamento ao bem. A formação da consciência a
libertará e ensinará a ouvi-la como voz de Deus. Na linguagem simbólica do Paraíso
terrestre, quando o demônio tentou Eva para comer da árvore do conhecimento do
bem e do mal ela diz: “Deus proibiu porque sabe que no dia em que comerdes
desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o
mal” (Gn 3,5).
Trata-se não do conhecimento, mas da posse do bem e do mal. Agora é a pessoa quem
decide o que é o bem e o mal. O pecado atingiu a consciência. A formação da consciência
é comer do fruto da Árvore da Vida que é Jesus que mostra o caminho do bem, e corta
o caminho do mal. O silêncio da consciência é o espaço mais apto para ouvir
Deus falar. Ouvir a Palavra de Deus e não levá-la à consciência é torná-la
infrutífera.
1009. Ele fala na noite da vida
Além
do silêncio profundo da consciência, existe a noite da vida. Buscamos a
felicidade e dizemos que Deus, se formos fieis, vai nos dar tudo de bom. Se não
o tenho é porque não estou rezando bem. Mas Jesus não pensava assim, tanto que,
no Horto das Oliveiras, pediu para ser libertado do sofrimento. Na cruz se
sentiu totalmente abandonado por Deus. Deus sumiu! É o que dizemos. Este
momento de total ausência e silêncio de Deus é o momento em que Ele grita
forte: “Não tenhas medo, vermezinho... teu Redentor é o Santo de Israel” (Is, 41,14). Quando
tudo parece que está contra nós, mesmo a vida, a Palavra de Deus dá esperança.
O esvaziamento total é o momento do encontro maior com Deus. Temos medo do
silêncio, pois nos coloca diante de nós mesmos para ouvir e responder.
1010.
Ele fala no silêncio total
Nada
mais forte na vida que a morte. Quando tudo termina, quando os sentidos humanos
cessam, quando perdemos todo o controle da matéria e ela encerra seu curso,
como ocorreu com Jesus, é aí que se faz mais forte a Palavra. Quando Jesus
entregou tudo nas mãos do Pai, o Pai lhe deu a vida ressuscitando-O dos mortos.
Somos despertados por Deus, com tudo o que somos, e passamos a viver a
intensidade da Palavra: “Com amor eterno eu te amei e te chamei pelo nome”. Conheceremos
Deus, como somos conhecidos por nós mesmos. Na morte está a Palavra da Vida. Refletindo
sobre a Palavra de Deus, podemos ver quanto ampla ela é, pois participa do
infinito de Deus. Vamos abrir a concepção de Palavra de Deus, para não
cometermos a idolatria que é transformá-la numa coisa sob nosso controle e
circunscrevê-la no livro material. A Verdade liberta da letra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário