Evangelho segundo S. João 16,16-20.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Daqui a pouco já não Me vereis e pouco
depois voltareis a ver-Me». Alguns discípulos disseram entre si: «Que
significa isto que nos diz: ‘Daqui a pouco já não Me vereis e pouco depois
voltareis a ver-Me’, e ainda: ‘Eu vou para o Pai’?». E perguntavam: «Que é
esse pouco tempo de que Ele fala? Não sabemos o que está a dizer». Jesus
percebeu que O queriam interrogar e disse-lhes: «Procurais entre vós compreender
as minhas palavras: ‘Daqui a pouco já não Me vereis e pouco depois voltareis a
ver-Me’. Em verdade, em verdade vos digo: Chorareis e lamentar-vos-eis,
enquanto o mundo se alegrará. Estareis tristes, mas a vossa tristeza
converter-se-á em alegria».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Beato John Henry Newman (1801-1890),
teólogo, fundador do Oratório em Inglaterra
Conferências sobre a
Justificação, n.º 9, 9
Cristo, que prometera tornar todos os seus
discípulos um só em Deus com Ele, que prometera que estaríamos em Deus e Deus em
nós, realizou essa promessa; de um modo misterioso, Ele realizou esta grande
obra, este privilégio espantoso. E tê-lo-á feito subindo para o Pai: a sua
ascensão corporal foi a sua descida espiritual, a sua assunção da nossa natureza
até Deus foi ao mesmo tempo a descida de Deus até nós. Podemos dizer que
verdadeiramente, embora em sentido escondido, Ele nos transportou até Deus e
trouxe Deus até nós, segundo o ponto de vista que adoptarmos.
Assim
pois, quando S. Paulo diz: «a vossa vida está escondida com Cristo em Deus» (Col
3,3), podemos perceber que quer dizer-nos que o princípio da nossa existência já
não é uma origem mortal e terrena, tal como a de Adão depois da queda, mas que
nós somos batizados e escondidos de novo na glória de Deus, nessa luz pura da
sua presença que tínhamos perdido a seguir à queda de Adão. Somos
verdadeiramente recriados, transformados, espiritualizados, glorificados na
natureza divina. Por Cristo recebemos, como por um canal, a verdadeira presença
de Deus, dentro e fora de nós; somos impregnados de santidade e de imortalidade.
E é esta a nossa justificação: a nossa subida por Cristo até Deus ou a
descida de Deus por Cristo até nós, podemos dizer de uma maneira ou da outra.
[...] Nós estamos nele, e Ele está em nós; Cristo é «o único mediador» (1Tim
2,5), «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14,6), que une a Terra ao Céu. E é
esta a nossa verdadeira justificação – não apenas o perdão ou o favor, não
apenas uma santificação interior, [...] mas a morada em nós de nosso Senhor
glorificado. Tal é o grande dom de Deus.
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